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Opiniões

06 DE ABRIL DE 2016

Zoom

Por: Da Redação

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bannerSe você escolher apenas um filme para ver no ano, uma boa pedida talvez seja Zoom, produção Brasileira/Canadense que chegou aos cinemas na semana passada. E não que o filme de Pedro Morelli (que também dirigiu o imperdível Entre Nós) seja algo como “o melhor do ano”, “genial” ou coisa parecida, mas sim, por ele ter a vitalidade e o esforço de ser diferente dentro do marasmo.

Por si só, Zoom nasce e é vendido como uma experiência de metalinguagem e talvez isso seja mesmo o mais divertido do filme, mas a cada camada descascada, o que surge é uma vontade de discutir assuntos tão comuns ao espectador que é fácil sair do cinema chapado pela identificação.

No filme, Alison Pill é Emma, uma funcionária de uma fábrica de bonecas sexuais com sérios problemas de auto estima e que vê no aumento de seus seios uma solução à curto prazo. Sua crise existencial então a empurra para começar a criar uma história em quadrinhos protagonizado por seu “homem ideal”, Edward (Gael Garcia Bernal). Um diretor de cinema galã que, entre conquistar uma fila de mulheres com seu sotaque espanhol e comandar grandes blockbusters, decide fazer um drama interiorizado e contemplativo sobre uma modelo internacional (Mariana Ximenes), que deixa a carreira de lado e parte para um praia paradisíaca de sua terra natal, Brasil, para escrever um livro sobre uma funcionária de uma fábrica de bonecas sexuais com sérios problemas de auto-estima que decide criar uma história em quadrinhos sobre um diretor de cinema.

Zoom então se fecha em sua própria auto referência, já que os três lados dessa história se constroem ao mesmo tempo, mas mais do que isso, busca um significado em cada lado que olha. De comum, dois personagens que tentam provar para o mundo ao seu redor que são mais do que aquilo que se espera deles, mais que cascas vazias que podem ser preenchidas pelas vontades dos outros. Ironicamente, isso tudo enquanto Emma parte, justamente, em busca de um modo de se sentir bem com sua casca, por sua vez cercada de (aí sim!) cascas vazias (as bonecas).

Zoom Filme

E para que essa complexidade funcione sem permitir que o filme se torne uma chatice existencial, Pedro Morelli faz um incrível e sutil trabalho de usar tudo aquilo que tem em mãos. O diretor então impõe uma visão diferente em cada uma das três histórias, e ainda que o arco de Bernal se destaque por ser um desenho animado (mais precisamente uma rotoscopia), os outros dois lados desse triângulo divergem visualmente de modo leve e elegante. E do mesmo jeito que o mundo desse desenho vai se “completando” enquanto Emma vai melhorando seu traço, o “filme” de Edward vai ganhando um visual mais e mais contemplativo e hermético a cada momento que ele decide provar ao mundo seu lado tridimensional.

Toda essa bagunça metalinguística culmina ainda em um verdadeiro tapa na cara dos paradigmas do cinema. De modo bem humorado, cínico e criativo, Zoom termina por mergulhar sua trama em uma desconstrução que olha para a sétima arte de modo ferino e ácido. Três mundos que colidem entre si, deixam de fazer sentido ao capricho de seus criadores enquanto permitem que todos percebam o quanto tudo já não faz sentido. O quanto o livre arbítrio é quase uma anedota divina esperando por sua “punch line”, e quando isso acontece ela pode ter helicópteros, silicone, um pênis diminuto e a vontade de ter força suficiente para romper as barreiras e conseguir ser algo além daquilo que lhe é imposto para ser.

E como nao são todos filmes que lhe permitem sentir e discutir isso tudo, o melhor mesmo é pelo menos colocar Zoom na sua lista de filmes obrigatórios do ano.

A crítica de Zoom e de mais diversas estreias você pode conferir no CinemAqui.

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