Na última quarta (3) ocorreu mais um caso de racismo no futebol brasileiro. O narrador da rádio Grenal, Haroldo de Souza, chamou o atacante do Santos, Lucas Braga, de “crioulinho” e “cidadão de cor”.
A fala racista ocorreu durante a transmissão da partida entre Grêmio x Santos, válida pela 33° rodada do Campeonato Brasileiro.
O narrador usou o termo, enquanto perguntava para o companheiro de transmissão qual era o nome do atleta do Peixe que atua pelas beiradas do campo, como ponta. O Santos FC divulgou uma nota que, por meio do departamento jurídico, tomará medidas cabíveis sobre o fato. Lucas Braga ganhou o apoio dos companheiros de equipe, como Marinho que, em seu Instagram, lamentou a injúria racial.
Casos
Não é novidade os casos de racismo no futebol. No ano passado, jogadores do Paris Sanit-Germain, da França, e do Istanbul Basaksheir da Turquia deixaram o campo de jogo, após injúria do quarto árbitro contra jogadores negros da equipe turca.
O ato foi considerado histórico, já que infelizmente as federações não tomam medidas drásticas para acabar com o racismo no futebol. No Brasil, a situação não é diferente. Se for citar os casos de racismo na última década, a matéria poderia virar um livro com inúmeras páginas.
Só contra jogadores do Santos FC foram mais de cinco casos de racismo nos últimos anos. O mais lembrado até hoje foi do goleiro Aranha, que foi xingado de ‘macaco’ por torcedores do Grêmio, em Porto Alegre, inclusive com imitações, nas oitavas de final da Copa do Brasil de 2014. A imagem da torcedora Patrícia Moreira xingando o goleiro ganhou o mundo. Aranha saiu de campo inconformado com a situação.

Torcedora do Grêmio foi flagrada ao vivo na transmissão/ Foto: Reprodução
O time gaúcho acabou sendo eliminado da competição pela CBF, porém muitos torcedores acreditam que a medida só foi tomada, pois o Santos venceu por 2 x 0 e a missão do Grêmio em reverter o placar seria muito difícil. Na partida seguinte entre o Imortal e o Peixe em Porto Alegre, o goleiro Aranha foi vaiado por quase todo o estádio, ou seja, ninguém apoiou o atleta que foi vítima do racismo. No mesmo ano, outro jogador do Santos FC foi alvo do crime. O volante Arouca também foi xingado da mesma forma por torcedores do Mogi Mirim pelo Campeonato Paulista.
Em 2020, o comentarista Fábio Benedetti disse na transmissão no jogo entre Santos e Ponte Preta que mandaria o atacante Marinho para a senzala. Um dia depois, o jogador gravou um vídeo chorando nas redes sociais. Somando os casos, nos últimos 7 anos, 4 jogadores do Santos FC sofreram racismo.
O Racismo

Jogadores do Santos que sofreram racismo e foram divulgados na mídia nos últimos anos/ Foto: Divulgação/SFC
Segundo o relatório do Observatório da Discriminação no Futebol houve um aumento de mais de 52% nos casos de racismo no futebol brasileiro em relação ao ano de 2018. Mas apenas 10% dos casos têm punição. Para o jornalista e presidente do Tucanafro, Jorge Fernandes, os negros conseguiram uma ascensão muito grande, não somente no futebol mas em todos os aspectos.
Como advento das cotas houve um aumento de 17% de negros nas Universidades. Essa situação causou um mal-estar em quem é racista, sendo que os casos de injúria sempre aconteceram no Brasil, mas agora eles estão mais evidentes, com as imagens dos meios de comunicação e da tecnologia, por meio da internet.
Já a ativista e doutora em Ciências Sociais, Dida Dias ressaltou que a ideia de raça no sentido sociológico é colocada apenas para a população preta. De acordo com a professora, a forma para acabar com este preconceito é a sociedade reconhecer que é racista “Precisamos combater o preconceito. É fundamental que as escolas passem conteúdo sobre a história da população africana e indígena no Brasil. Além disso, os casos de racismo precisam ser investigados e que a polícia não veja mais os pretos como bandidos”.
Representatividade

Em 2019, Santos FC lançou uma série especial sobre a igualdade no clube/ Foto: Divulgação/SFC
Ao longo de sua história, o Santos FC sempre teve uma representatividade importante, já que os principais jogadores do clube são pretos, caso de Pelé, Coutinho, Lima, Mengálvio, Edu, Dorval, Juary, Serginho Chulapa, Robinho e Neymar.
Em 2019, o Peixe lançou a terceira camisa em luta pela igualdade racial, clube e uma websérie em 4 episódios “Time de Branco e de Preto” valorizando os feitos dos atletas pretos que passaram pelo clube.
Além disso, a produção também contou a participação dos artistas Mano Brown e Emicida que são dois dos principais nomes do movimento negro no País.