Após duas edições afetadas pela pandemia da Covid-19, o Campeonato Brasileiro voltou a receber público nos estádios nas primeiras rodadas da competição. Com as arquibancadas infladas, as partidas passaram a ter aquela emoção especial que só é possível com a paixão dos torcedores. Entretanto, nem sempre o torcedor consegue ir ao estádio, sobretudo por conta da crise econômica no País.
Neste sentido, o futebol acaba sendo um reflexo da sociedade, onde diversos clubes colocam preços populares nos ingressos, mas outros cobram um valor que fica inviável para o torcedor de menor poder aquisitivo.
Sócio torcedor
O plano de sócio torcedor tem ganho cada vez mais destaque no futebol nacional. Afinal os clubes oferecem diversos planos na tentativa de adesão dos torcedores.
Para se ter uma ideia, os times da Série A do Campeonato Brasileiro oferecem pacotes mensais de menos de R$ 20. Apesar do marketing, alguns torcedores resistem, principalmente quando soma o valor total no ano, ou em alguns casos, porque o plano não vale a pena por inúmeras questões.
Além disso, há a questão do turismo. Os times do Rio de Janeiro, como o Flamengo e o Fluminense, recebem muitas vezes torcedores de outros times, que querem conhecer o Maracanã. Para o jornalista esportivo Alex Frutuoso, os clubes querem mais sócios para melhorar a receita e um dos atrativos para o torcedor é justamente o preço dos ingressos.
“Dependendo do plano que o torcedor adquire para ser sócio, ele não paga ingresso. É uma ideia válida estimular o sócio torcedor e como benefício oferecer vantagens”, destacou o jornalista.
Levantamento
O Boqnews fez uma pesquisa sobre o valor do preço dos ingressos para não sócios nas rodadas iniciais do Campeonato Brasileiro. O levantamento focou no setor mais barato dos estádios dos clubes do Estado de São Paulo que estão no Brasileirão Série A.
Preço acessível
Os clubes com os ingressos mais acessíveis no Estado são o São Paulo e o Bragantino. A diretoria da equipe do Morumbi destina o setor da Arquibancada Norte para colocar preços populares.
Assim, o valor do bilhete custa R$ 30 (inteira).
Na partida de estreia do Tricolor no Brasileirão, diante do Athletico/PR, o preço da entrada foi ainda menor R$ 20 (inteira). Outro clube que também mantém essa faixa de preço é o Bragantino.
Entretanto, o valor varia um pouco conforme o adversário. Na partida contra o Atlético/GO (2ª rodada), o ingresso para o setor verde custou apenas R$ 10 (inteira) No duelo diante do Atlético/MG (7ª rodada), o bilhete mais acessível ficou em R$ 30 (inteira) para os setores branco, preto e azul. Já nos confrontos contra o São Paulo (3ª rodada) e Corinthians (5ª rodada), a entrada mais barata chegou a R$ 40 (inteira).

Diretoria do Bragantino faz promoções para levar os torcedores ao estádio ao Nabizão/Foto: Ari Ferreira/Bragantino
O Santos também conta preços acessíveis nos jogos.
No setor Geral Santista, o ingresso custa R$ 40 (inteira), isso nos três jogos realizados na Vila Belmiro pelo Campeonato Brasileiro.
Ingressos mais caros
O Palmeiras tem o ingresso mais caro dos clubes do Estado de São Paulo. A entrada para o setor com o menor preço do Allianz Parque é o Gol Norte. Neste setor, o valor do ticket foi de R$ 90 (inteira) nos primeiros jogos do Brasileirão.
Entretanto, na partida contra o Atlético/MG que acontece neste domingo (5), o preço do Gol Norte subiu para R$ 110 (inteira) Quando o Palmeiras jogou na Arena Barueri diante do Corinthians (3ª rodada), a diretoria colocou ingressos mais baratos. É importante pontuar que com a realização de eventos no Allianz Parque, o Palmeiras vai precisar mandar alguns jogos fora do seu estádio neste Brasileirão.
Já na Neo Química Arena, estádio do Corinthians, o ingresso mais barato para jogos do Timão custa R$ 50 (inteira), o bilhete dá acesso ao setor Norte, o único espaço com a arquibancada do estádio. Vale destacar que as arenas de Palmeiras e Corinthians foram entregues no ano de 2014.
Alex Frutuoso enfatiza que o clube precisa entender a realidade do seu torcedor e do estádio. “Quando você está em um local com um poder econômico melhor, naturalmente pode colocar um preço mais alto”, citou.
Renda
Um dos motivos para essa diferença do preço do ingresso pode ser explicado nas rendas dos jogos.
Na partida contra o Bragantino (6ª rodada), o Palmeiras teve um público de mais de 36 mil pessoas para uma renda de R$ 2,2 milhões.
Já o São Paulo que conta com o preço inferior dos ingressos, quando também atingiu a marca de 36 mil pessoas no Morumbi, no clássico contra o Santos (3ª rodada), a renda foi de R$ 1,5 milhão, ou seja, aproximadamente R$ 700 mil menos que o Palmeiras.
Neste cenário, quem vive a pior situação é o Santos, com o público limitado na Vila Belmiro que não suporta mais de 16 mil torcedores, o Peixe enfrenta problemas na arrecadação da bilheteria.

Santos tem encontrado dificuldades para lucrar em seu estádio/Foto: Ivan Storti/SFC
Apesar dos ingressos esgotados diante do Palmeiras (8ª rodada), o Peixe arrecadou um pouco mais de R$ 415 mil de bilheteria. O público foi de 14 mil pessoas na Vila.
Outros estados
O levantamento também avaliou o preço dos ingressos dos outros clubes da Série A.
As equipes do Paraná contam com o ticket mais caro do Brasileirão. Para se ter uma ideia, o Athletico/PR colocou o preço do ingresso a R$ 200 (inteira) na partida contra o Santos, disputada na Arena da Baixada, neste sábado (4).
O Coritiba também conta com um ingresso salgado. No jogo diante do Botafogo (8ªrodada) a arquibancada custou R$ 150 (inteira) O Avaí também cobra este preço para partidas com os clubes de maior expressão.
Já nos confrontos contra times de menor torcida, como o Juventude (6ª rodada), o ingresso mais barato do time catarinense ficou na casa de R$ 120 (inteira).
Definição do preço
O advogado especialista do direito do consumidor, Rafael Quaresma explicou que não existe tabelamento do valor nos ingressos. “Pelas leis que nós temos em vigor, o preço é livre, então cabe ao fornecedor estabelecer o valor da entrada de acordo com os critérios do serviço que vai prestar. Existe esta autonomia para o clube estabelecer o preço”, explicou Quaresma.
O advogado ainda ressaltou que está dentro da lei a possibilidade do clube colocar um valor mais alto para jogos importantes, como os clássicos. “É a famosa lei da oferta e procura”, salientou.

Quem for a Arena da Baixada precisa economizar/Foto: Divulgação/CAP