Com início na última terça-feira (11) seguindo até o dia 16 de fevereiro de 2025, o Maracatu Quiloa, com 21 anos de história, apresenta sua 20ª Mostra Cultural, dedicada à celebração e reflexão sobre o conceito de tempo a partir das filosofias africanas e indígenas.
Com o tema ‘Tempo / Ara Ymã, Ara Pyau!’, o evento propõe uma imersão nas diferentes percepções do tempo, considerando não apenas sua dimensão cronológica, mas também sua importância nas culturas de matriz afroindígena. Além das apresentações culturais, a mostra abrirá espaço para debates e oficinas que abordam temas como combate ao racismo e valorização da ancestralidade.
Nesta quarta-feira (12), às 20h, o teatro do Sesc recebe a abertura oficial do evento com o cortejo do Maracatu Nação Kambinda, que celebra os 50 anos do Teatro Popular Solano Trindade, destacando a herança e o legado da família Trindade na cultura popular.
Com cinco décadas de atuação, o Teatro Popular Solano Trindade é referência na preservação da cultura negra e popular, oferecendo oficinas de dança afro-brasileira, percussão e Hip-hop, além de ensaios abertos de diversas manifestações tradicionais como o Maracatu.
Com rodas de conversa, apresentações musicais e de dança, a programação segue até o domingo (16) com o tradicional Cortejo do Maracatu Quiloa, a partir das 16h, na Praça Mauá, Centro Histórico.
A 20ª Mostra Cultural do Maracatu Quiloa conta com o patrocínio da Autoridade Portuária de Santos, do Governo Federal (Ministério dos Portos e Aeroportos) e da Prefeitura de Santos, por meio de emendas dos vereadores Telma de Souza e Chico Nogueira, além do apoio do Sesc Santos.
Tempo
Para as tradições africanas e indígenas, o tempo não é apenas uma medida linear, mas uma força viva e interconectada.
Em Angola e no Congo, o Nkisi Tempo (Kitembo) representa a fluidez e a sabedoria do tempo, enquanto na tradição iorubá, o orixá Iroko simboliza a conexão com as forças naturais e o entendimento do tempo como um processo contínuo e cíclico. No Brasil, os povos indígenas, como os Tupinambás e Guaranis, também possuem uma visão profunda do tempo, relacionando-o ao respeito à natureza e à preservação cultural.
No pensamento Guarani Mbya, o tempo é marcado por ciclos e renovação. A passagem do tempo velho (Ara Ymã) para o tempo novo (Ara Pyau) representa momentos de introspecção, aprendizado e renascimento. Segundo a sabedoria Guarani, Ara Ymã é um período de silêncio e reflexão, um portal aberto para escolhas e decisões. Já o Ara Pyau simboliza a superação e a celebração, onde o espírito se fortalece e a conexão com a natureza se renova.
Felipe Romano, mestre e fundador do Maracatu Quiloa, destaca a importância dessa conexão ancestral. “O Quiloa sempre se preocupou em manter viva a memória de nossos ancestrais. O tempo, para nós, não é apenas um ponto no relógio, mas uma força que carrega histórias e sabedorias que precisam ser transmitidas para as próximas gerações”.
Simone Santos, rainha do Quiloa, complementa. “O tempo nos ensina a sabedoria dos nossos antepassados, mas também nos desafia a refletir sobre como estamos vivendo no presente. O Maracatu Quiloa é um espaço de resistência e celebração dessa ancestralidade, e esta mostra é uma oportunidade de olharmos para o tempo como um instrumento de transformação”.
O evento convida o público a refletir sobre o papel da cultura na construção de uma sociedade mais consciente e inclusiva. O evento não é apenas uma celebração do maracatu, mas também um espaço de fortalecimento das tradições e da luta contra o racismo estrutural.
Programação completa
Quarta-feira (12)
Sesc Santos – Rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida
20h: ‘50 anos – Teatro Popular Solano Trindade / Maracatu Nação Kambinda’
Quinta-feira (13)
Polo Escola – E. E. João Octávio dos Santos – Largo do São Bento, s/n, Morro São Bento
9h: ‘Vivência de Maracatu’
Polo Municipal – Museu da Imagem e do Som de Santos (Miss) – Av. Senador Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias
19h: ‘Gira de Saberes e Práticas Alimentares no Cuidado com a Saúde’
Danielle Miranda e Anderson Lucas
A roda de conversa abordará escolhas alimentares saudáveis e conscientes, relacionando raça, território e cultura. Os mediadores discutiram a ancestralidade e a fitoterapia, destacando o papel das plantas medicinais na alimentação, no bem-estar e na conexão com a história. Será um espaço de aprendizado e troca, valorizando a ancestralidade e a fitoterapia como aliadas para uma vida equilibrada.
Sexta-feira (14)
Polo Escola – E.E. João Octávio dos Santos – Largo do São Bento, s/n, Morro do São Bento
9h: Oficina ‘Corpo, Movimento e Criação: Esculturas da Ancestralidade’
Mediação: Thaís Lima
A oficina conecta alunos do 6º ano ao Maracatu por meio da dança dos orixás e da criação de esculturas. Uma vivência valorizada nas tradições afrodescendentes, explorando corpo, movimento e criatividade como formas de expressão. A atividade proporciona uma experiência sensorial, integrando ritmo, dança e artes manuais para aprofundar a conexão com os tambores do Maracatu, o ritmo das danças e a textura dos materiais alinhados ao fazer manual, que estimulam a criatividade e aprofundam o contato com os elementos ancestrais.
Polo Municipal – Centro de Cultura Patrícia Galvão – Av. Senador Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias
18h: DJ Vittim
20h: Apresentação Encantarias do Maranhão
O show de Mestra Zezé Menezes de Yemanjá e seu filho, Henrique Menezes, apresenta músicas autorais de grandes clássicos da música tradicional.
Sábado (15)
Polo Municipal – Centro de Cultura Patrícia Galvão – Teatro Rosinha Mastrangelo – Av. Senador Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias
14h: ‘Ervas: Saberes Ancestrais’
Mameto Matambelesá (Mãe Tânia), Kunhã Dju e Itamirim
Mediação: Vanessa Rego
Na roda de conversa, Mameto Matambelesá (Mãe Tania), Kunhã Dju, líder espiritual indígena e Morubixaba, e a ativista Itamirim, ambas da Aldeia Tabaçu Reko Ypy, se encontram para compartilhar e entrelaçar seus conhecimentos sobre o poder das ervas nas práticas espirituais e de cura de suas respectivas culturas, buscando desmistificar o preconceito e realizando práticas antirracistas. Mediada por Vanessa Rego, coordenadora da Ala dos Orixás do Maracatu Quiloa, falam sobre a importância das plantas como elementos sagrados, instrumentos de conexão com os ancestrais e aliados na promoção da saúde física e espiritual.
16h: Baque Coletivo
18h: DJ Carolis
18h20: Originárias Dje&IA
18h50: DJ Carolis
20h: Sérgio Pererê
Amadrinhado pelas raízes banto de Minas Gerais, o cantor, compositor, multi-instrumentista, ator e diretor musical, seu trabalho autoral é reconhecido pelo diálogo que estabelece entre a tradição e a experimentação, pela profusão de sonoridades – com destaque para as referências afro-latinas –, e pelo timbre peculiar de sua voz. A poesia do artista entrelaça temas cotidianos a enunciados metafísicos e elementos do sagrado de matriz africana, como o culto à ancestralidade e aos orixás. Já se apresentou em várias regiões do Brasil e em países como Canadá, Áustria, Espanha, Moçambique, China e Argentina.
Domingo (16)
Polo Mauá – Praça Mauá – Centro Histórico de Santos
DJ Akula Hampton
Aldeia Tabaçu
20º Cortejo Maracatu Quiloa
DJ Vittim
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