Após mais de duas décadas de lutas e histórias, o Instituto Arte no Dique dá mais um importante passo para ampliar sua atuação como Organização Social Cidadã com a o Complexo Rei Pelé.
O novo espaço será entregue na sexta (31), a partir das 11 horas, na sede da instituição, no Jardim Rádio Clube.
A OS dá acesso a oportunidades para milhares de crianças e jovens residentes em uma das áreas mais vulneráveis de Santos, no litoral paulista, e do País.
Trata-se do Dique da Vila Gilda, maior favela sob palafitas brasileira, cujos números estão longe da outra Santos que muitos santistas desconhecem.
Cidade, aliás, que ocupa a 6ª colocação no País em relação ao IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Quanto maior o indicador, mais rica.
Mas esta regra não vale para todos, como para os moradores do núcleo habitacional.
Assim, haverá a inauguração da quadra de futebol de salão Douglas Franklin, ex-jogador do Santos FC e do Bahia.
E ainda: do estúdio de gravação Moraes Moreira e uma escola de marcenaria ecológica, em parceria com a prefeitura.
Todas as obras foram fruto do trabalho incansável do presidente do Instituto, José Virgílio Leal de Figueiredo, baiano que adotou Santos para promover uma verdadeira revolução cultural em uma área altamente vulnerável.
“Ninguém faz nada sozinho”, salienta Virgílio
Ele participou do Jornal Enfoque desta quarta (29).
História de lutas
Durante o programa, ele relembrou sua trajetória em Santos, graças a um convite feito pelo então ex-deputado Fausto Figueira, para vir para a Cidade.
Nos primeiros anos, ele convivia de forma paralela com o projeto que começava a implantar e o trabalho de consultoria prestada para a produtora da cantora Ivete Sangalo.
No entanto, entre trabalhar em projetos para terceiros e abrir novos horizontes para as pessoas, Virgílio optou pela segunda. E não se arrepende.
“Sou filho de Oxossi, desbravador”, salienta como bom baiano.
E assim, após contatos com nomes importantes da política que contribuíram para o sucesso do projeto no início, como os ex-ministros de Cultura Gilberto Gil e Juca Ferreira (que será homenageado na inauguração), Virgílio seguiu em frente.
“Foi uma luta árdua e que valeu a pena”, diz.
“Reconheço que não imaginava que chegaria neste ponto”, enfatiza.
A antiga vala que tinha pouca serventia em frente às moradias do Dique acabou ganhando vida com as edificações e espaços coletivos hoje existentes, inclusive onde está a sede.
“Sou grato a todos. Na ocasião, o engenheiro (e professor universitário Pedro Marcão) acreditou no projeto para garantir condições para termos a estrutura atual. Não faltaram dificuldades. Ele próprio esperou cinco anos para receber pelo serviço”, agradece.
A seriedade do trabalho desenvolvido por Virgílio permitiu a abertura de portas para jovens músicos do projeto não só no Brasil, mas também no exterior.
A lista de agradecimentos – que se estenderá na inauguração do Complexo – é extensa.
Prefeitos, deputados, empresários, músicos, educadores e agitadores culturais só para citar algumas categorias.
“Um bocado de gente colaborou”, salienta.
José Virgílio (à esq) participou do Jornal Enfoque, apresentado pelo jornalista Francisco La Scala, onde falou sobre os mais de 20 anos do Arte no Dique, além das inaugurações que ocorrerão na sexta. Foto: Felipy Brandão.
Atividades
Hoje, o Arte no Dique oferece múltiplas oportunidades empregando 40 pessoas, a ampla maioria vizinha ao espaço cultural.
Além disso, responde pela unidade do Bom Prato do Dique da Vila Gilda, matando a fome literalmente e diariamente de centenas de famílias que convivem – e tentam viver – com menos de 1 salário mínimo como renda.
Ou seja, menos de R$ 1.302,00/mês.
Assim, a OS conta com um projeto de Educação Integrada, em parceria com a Prefeitura de Santos, atendendo a cerca de 450 crianças diariamente.
Além disso, oferece oficinas como panificação artesanal, gastronomia, oficinas culturais, manicure e pedicure, capacitando moradores do entorno em busca de novas oportunidades.
Dessa maneira, pelo menos 600 pessoas circulam pelo espaço diariamente.
Mas Virgílio não se acomoda. Ao contrário.
Em julho, embarca para Portugal onde visitará a Universidade de Coimbra para a realização de um evento conjunto com a Prefeitura em Santos no próximo ano.
Não bastasse, junto com o instituto Plataforma Brasil, tem acertada parceria com a Fundação Johan Cruyff para investimentos em uma quadra esportiva no local, algo que deve ocorrer ainda este ano.
Além disso, a Prefeitura investe em uma policlínica na área.
“Eu me coloco como morador daqui. Quero o melhor para este lugar”.
Sobre o projeto Parque Palafitas, da Prefeitura de Santos, ele acha a iniciativa louvável, mas ressalta que há necessidade de ouvir as demandas dos moradores.
“A ideia é boa, mas precisa ver como vai funcionar na prática”, salienta.
Projeto da Prefeitura prevê a reurbanização do local.
Beco Limpo
Não bastasse, o Arte no Dique vai além da cultura.
Recentemente, ganhou prêmio com o projeto Beco Limpo, em parceria com a Prefeitura de Santos, reforçando a conscientização ambiental.
Isso graças a recursos de multas ambientais cobradas pelo Ministério Público, que escolheu o projeto oferecido pela OS.
Música
Respirando cultura, Virgílio se orgulha dos jovens e adolescentes que acabaram entrando no meio musical no Brasil e no exterior graças ao Arte no Dique.
Não é à toa que o espaço conta com o projeto Som das Palafitas, reunindo nomes de peso como Supla e João Suplicy, Paulinho Moska.
E ainda: Bem Gil e Moreno Caetano, filhos de Gilberto Gil e Caetano Veloso, respectivamente, entre outros.
Dessa forma, mesmo na pandemia, o projeto não parou – ainda que de forma virtual.
Agora, as atividades voltaram à normalidade, ou seja, de forma presencial.
Recentemente, graças à emenda parlamentar da deputada e cantora Lecy Brandão (PCdoB) o espaço reúne os amantes do samba, sempre às quintas-feiras.
“É um resgate de grandes sambistas de Santos, região e da Capital. Assim, as crianças e adolescentes têm contato com este importante estilo musical”, enfatiza.
Inauguração
Portanto, uma série de homenagens ocorrerão durante a solenidade de entrega dos espaços cultural e esportivo.
A quadra esportiva Douglas Franklin contará com a participação do ex-atleta, um dos ídolos de Virgílio.
Ele o viu jogar no Bahia, seu time do coração, após passagem pelo Santos FC, nos anos 60, período áureo do time santista.
Já o estúdio de gravação Moraes Moreira – um projeto iniciado há uma década – terá os mais modernos equipamentos para gravação de podcasts e audiovisual.
Dessa maneira, o espaço foi possível graças às emendas parlamentares dos deputados Caio França (PSB) e Barba (PT).
Davi Moraes, filho do músico, falecido em abril de 2020, receberá a homenagem.
Por fim, a escola de marcenaria ecológica vai permitir a qualificação de jovens para atuação no setor, possibilitando a criação de peças com o reaproveitamento da madeira.
O espaço terá dupla finalidade: qualificação profissional de mão-de-obra e reaproveitamento do material, com conscientização ambiental.
Além disso, os equipamentos foram doados pelo Rotary.
Assim, as três novas áreas integram o Complexo Rei Pelé, a qual o filho do Atleta do Século, Edinho, representará a família.
Ex-prefeitos, como João Paulo Tavares Papa e Paulo Alexandre Barbosa, serão homenageados, assim como o atual, Rogério Santos, que participará da inauguração do novo espaço.
Entrevista
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