Mídia física ainda é vista como opção em plena era digital | Boqnews
Foto: Lucas Freire

Música

15 DE JULHO DE 2018

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Mídia física ainda é vista como opção em plena era digital

Mesmo com a facilidade de acesso de músicas através de aplicativos e sites, ainda há pessoas optam pelos CDs e discos de vinis

Por: Da Redação

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Nas décadas de 1960 e 70 eram anos quando a tecnologia digital ainda era utópica, somente imaginada. Os tempos mudaram, mas algumas pessoas ainda preferem ouvir música à moda antiga.

Hoje, é possível encontrar pessoas que buscam por CDs e vinis dos artistas favoritos. Sem contar também que existem raridades musicais e capas artísticas, incomuns na mídia digital.

Dependendo da pessoa, ter uma prateleira com diversos discos pode ser um simples hobbie. Ou até mesmo um ato de colecionador. E isso independente da idade.

O estudante de Direito, Bruno Romiti, de 21 anos, – e músico nas horas vagas – tem uma coleção de CDs e vinis que alcança aproximadamente de 60 a 80 itens. Ele disse que devido à praticidade do alcance da música em forma digital, acaba buscando por discos e CD’s mais clássicos.

Antes, ele tinha o hábito de comprar músicas pelo ITunes, plataforma digital direcionada para IOS. Hoje além de assinar o plano digital do Spotify não abre mão do consumo das mídias físicas.

Dentro de sua coleção, os prediletos são Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, Thriller, de Michael Jackson, e Dark Side of the Moon, do Pink Floyd.

No âmbito nacional, além das clássicas canções de Chico Buarque, como Construção. Ele também curte grupos mais atuais, como a banda carioca Baleia, os paulistas de O Terno, entre outros.

Para Romiti, boas foram aquelas surpresas de um disco de vinil ou CD ganho de um amigo, familiar ou alguém próximo (Foto: Acervo Pessoal / Divulgação)

Valorização artística

Para Romiti, comprar os CDs é muito mais do que apenas tê-los em mãos, mas também o desejo de cultuar e de valorizar o trabalho dos artistas e musicistas. “A arte criada por eles é uma forma de se comunicarem com a gente, que é o público. Trata-se de uma conversa quase que remota. E para mim isso é um dos aspectos mais importantes da arte”, afirma o jovem.

Ele acredita que o público consegue se sensibilizar por intermédio do trabalho artístico. “Mesmo sendo feita por alguém que viveu uma vida e passou por experiências muitas vezes tão diferentes das nossas, e mesmo assim, aquilo ressoa tão fortemente conosco”, reflete o jovem.

Romiti entende que o gosto e a afinidade por itens materiais é uma relação curiosa para pessoas que nasceram a partir dos anos 90. Ele disse que pelo fato de crescer em uma época de transição, quando surgiram tecnologias como MP3, IPod, ao mesmo tempo ele cresceu cercado de discos de vinil e fitas cassetes, além dos CDs, é claro.

Consumo

O universitário acredita num equilíbrio entre as formas de consumir a arte musical. “Ao mesmo tempo em que gostamos da praticidade de descobrir uma música ou banda nova no Spotify ou YouTube, é muito bom poder ver bem de perto a capa de um vinil ou CD, abrir um encarte, fazer quase que aquele ritual, sabe?’’.

Bruno Romiti explica que como músico, o contato com a música ultrapassa o da admiração e alcança a prática. Em sua casa, é possível encontrar guitarras e violões.

Além disso, ele é membro de uma banda de tributo ao memorável Pink Floyd, chamada InPulse. O nome é um trocadilho com o clássico disco Pulse.

Neste final de semana, junto de sua banda, ele encerrará o evento do Dia do Rock promovido pela Prefeitura. Será neste sábado (14) na Praça dos Andradas. O evento começa a partir das 12h e é aberto ao público. O músico comenta que guarda com carinho as lembranças daqueles que o presentearam em algum momento com um disco de vinil ou CD.

De pai para filho

O músico Marcello Oliveira, de 56 anos, e seu filho, o estudante Victor Persico, 25 anos, compartilham uma paixão além de seus laços familiares: o amor e entusiasmo pela música!

A princípio, Victor era muito ligado aos Beatles e Elton John. Até o momento quando seu pai apresentou-lhe a banda Deep Purple. “Abriu a minha cabeça para o rock. Depois, vieram Ozzy (Osbourne), Led Zeppelin, Rush, entre outros.

Com o passar do tempo vieram o samba, mpb, jazz, blues”, conta Persico.
Ambos colaboram para cultura do Rock N’ Roll em Santos. Marcello proliferou o rock, tocando em bares, clubes, bandas de baile e de garagem, boates e até em cruzeiros marítimos.

Já Persico, estudante de Jornalismo, escreve para o Blog n’ Roll, e divulga o trabalho das novas bandas da região e do Brasil, por meio da sua coluna Som Na Vitrola.

O universitário não para por aí! Quando há evento de rock na Cidade, ele está presente e vestindo a camisa de alguma banda. Persico acredita que isso é uma forma para que a chama do Rock N’ Roll não se apague em Santos.

Marcello acredita que atualmente o conhecimento de Persico no âmbito musical é maior que o dele. “Por abraçar a carreira de músico profissional, fui obrigado a tocar aquilo que o povo gostava e gosta de ouvir, não me especializando puramente no rock”, explicou.

De acordo com Persico, não apenas pelo fato de Marcello ser seu pai, mas também por ser um profissional talentoso, ele o considera uma grande inspiração.

 

Mídia Digital

A relação de Victor e Marcello foi permeada de conversas sobre a cultura da música (Foto: Acervo Pessoal / Divulgação)

Procura

O ambiente é nostálgico. Rafael Paulino, dono da Blaster, uma das lojas sobreviventes de CDs em Santos, é um dos que mantêm a chama viva do amor às mídias tradicionais. De acordo com o lojista, a procura começou a cair a partir do começo dos anos 2000.

“Daí em diante, as buscas e compras pelos CDs eram feitas apenas pelos interessados. E com o tempo as lojas acabaram encerrando suas atividades, o que trouxe um equilíbrio para o mercado”, explicou o proprietário.

Rafael explica que a loja foi uma das sobreviventes, pois trata-se de um local de venda segmentada, ou seja, o público-alvo aficionado por Rock N’ Roll ainda consome produtos do ramo musical.

Desafio

A grande maioria das pessoas que constituem as gerações mais recentes não têm o hábito de consumir a mídia física. Afinal, desde que nasceram possuem uma facilidade e intimidade com as plataformas digitais.

Pelo o dia-a-dia, Paulino observa que a faixa de idade que mais costuma comprar em sua loja tem em torno de 30 anos. De acordo com ele, nas demais faixas etárias acabam variando, alguns mais velhos deixaram de frequentar a loja, enquanto jovens começaram a procurar pelos produtos.

“Uma parte do pessoal mais antigo ainda compra. Os demais se desligarem de vez. Já a garotada mais nova está entrando no Metal, Punk, Metalcore”, relata o comerciante.

Paulino explica que os fatores que levam à pessoa a consumir a mídia física são variados. Existem aqueles que gostam de ter a sensação de abrir o plástico, poder pegar na mão o CD e visualizar o encarte. E também há os colecionadores, que acabam investindo em itens para enriquecer suas prateleiras musicais.

Vinil

Não se trata apenas de colocar o vinil para tocar no toca-disco. Há a questão de um ritual, uma afinidade com o som tocado pela agulha que sai nas caixas. A coleção de Marcello e Victor já alcança cerca de 1000 bolachões. Essa paixão de coleciona-los passou de geração em geração.

“Isso veio do meu bisavô. Ele que colecionava e deve ter sido uma das primeiras pessoas a terem uma conta n’A Musical, no Centro de Santos. A diferença é gritante. Existem faixas do Pink Floyd em um disco, pequenos detalhes que você ouve em disco, mas no digital não, mesmo com toda a tecnologia”, relata Persico.

De acordo com o jovem, o seu grande achado foi o primeiro álbum do Joelho de Porco, de 1974, com o selo da gravadora Crazy, de São Paulo. E também o primeiro álbum do Barão Vermelho, com o Cazuza, de 1982.

O proprietário da Blaster conta que hoje o grande problema é que há uma determinada demanda em buscas dos bolachões. No entanto, todos os produtos novos precisam ser importados. E isso acrescenta no custo final, se tornando menos atrativo ao público.

Por outro lado, existem os produtos usados, que ainda se mantém em bom estado de conservação. Mas pelo fato de serem mais antigos acabam sendo mais finitos.

Apesar da facilidade de ouvir grandes clássicos pela internet, há pessoas que os procuram e apreciam em mídia física  (Foto: Lucas Freire)

Crise e Fechamento

A Blaster existe desde o final de 1989 e passou por algumas mudanças, mas ainda se encontra na Galeria Ipiranga. Antes se encontrava nos fundos da galeria e só a partir de 2002 entrou para o corredor principal.

Hoje, muitos que passam em frente à loja se encantam com a vitrine, rica em diversidade de CDs de todos os tipos de bandas. Por exemplo, os jovens direcionam os olhares para grupos como Arctic Monkeys, Gorillaz. Que agora são mais atuais e populares entre eles.

Há dois anos, a renomada Ferrs fechou as portas no Shopping Balneário. A loja que durou mais de 40 anos fez parte da vida de muitos santistas.

Rafael Paulino contou que desde criança frequentava a loja dentro do shopping. E no seu ponto vista, aquele comércio não resistiu as mudanças por não ser segmentada.

“Lá não vendiam apenas discos, mas todo tipo de produto. Esse padrão de loja começou a sofrer no começo dos anos 2000”, contou o comerciante que está no mercado há 29 anos.

 

Rafael Paulino, está há 29 anos trabalhando no ramo segmentado voltado à comercialização de CD’s. (Foto: Lucas Freire)

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