Relações simbólicas com bonecas que imitam bebês reais podem ajudar a enfrentar dores emocionais, mas exigem atenção quando ultrapassam os limites da realidade.
Por trás de roupas escolhidas com cuidado, carrinhos de bebê e certidões de nascimento fictícias, existe uma realidade complexa. Bonecas reborn, réplicas realistas de recém-nascidos, são tratadas por algumas mulheres como filhos de verdade. Apesar de parecer estranho à primeira vista, psicólogas apontam que essa prática muitas vezes revela mais humanidade do que fantasia. Ainda assim, há riscos envolvidos.
“A boneca reborn pode ser uma forma de expressar a necessidade de cuidar, oferecer conforto emocional e criar uma sensação de controle”, explica a psicóloga Paola Andrade. Segundo ela, esse vínculo pode representar uma fantasia de maternidade e servir como resposta simbólica à dor emocional, como luto ou solidão. Porém, se esse apego interfere na rotina ou substitui relações reais, é hora de buscar ajuda.
A psicóloga Mariângela Fortes reforça que não existe uma explicação única para esse tipo de comportamento. “É um processo muito individual, que pode envolver fatores emocionais, psicológicos e sociais”, diz. Em muitos casos, a perda gestacional, o isolamento ou o vazio afetivo impulsionam esse tipo de vínculo. Para ela, embora a boneca possa aliviar a dor e reduzir a ansiedade, o ideal é buscar alternativas mais eficazes. “Prefiro abordagens que mantenham a pessoa com os pés no chão”, afirma.
Conforto e alerta
O uso dessas bonecas pode ser considerado saudável quando a mulher reconhece que se trata de um apoio simbólico, sem confundir com a realidade, e quando o comportamento não prejudica a vida social ou funcional. “A intervenção se faz necessária quando o apego gera sofrimento ou isolamento”, afirma Paola.
Mariângela completa: “Se adultos começam a simular partos ou levam bonecas a consultas médicas, é sinal claro de que o acompanhamento psicológico é necessário”.
Rede de apoio
Família e amigos precisam agir com empatia, mas também com responsabilidade. Paola defende o incentivo ao diálogo e à socialização. “Cortar o contato só reforça o isolamento”, diz. Mariângela reforça que o acolhimento deve vir acompanhado de caminhos reais de cuidado, como a psicoterapia.
Consequências a longo prazo
Quando há confusão entre realidade e fantasia, o comportamento pode estar ligado a quadros como depressão grave, transtornos dissociativos ou delírios. “É essencial tratar a dor emocional na raiz”, afirma Mariângela. Para Paola, o apego excessivo impede que a pessoa elabore perdas e frustrações. “A boneca pode representar a tentativa de corrigir o passado ou viver um amor ideal, o que trava o processo de superação”, alerta.
Terapia como caminho
Paola prioriza abordagens empáticas que ajudem na reconstrução emocional. Mariângela recomenda terapias mais ativas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Programação Neurolinguística (PNL) e a Hipnose Ericksoniana, que favorecem a ressignificação da experiência.
Entre o luto e a fantasia, entre o acolhimento e o risco, as bonecas reborn ocupam um espaço delicado na vida de algumas mulheres. O que pode parecer estranho para uns, representa uma tentativa de continuar vivendo para outros. Como lembram as especialistas, a questão não está no objeto, mas no que ele simboliza.
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