Fraudes contábeis nas Americanas superaram R$ 25 bilhões | Boqnews
Lojas Americanas: tamanho da dívida impressiona. Foto: Divulgação

Economia

06 DE JULHO DE 2024

Siga-nos no Google Notícias!

Fraudes contábeis nas Americanas superaram R$ 25 bilhões

A dívida da empresa com seus credores, já consideradas as inconsistências contábeis, superava os R$ 42 bilhões até setembro passado

Por: Vitor Abdala e Bruno de Freitas Moura
Agência Brasil

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Considerado um dos gigantes do varejo brasileiro, com quase um século de história, o Grupo Americanas surpreendeu o país quando, em janeiro do ano passado, anunciou “inconsistências contábeis” de mais de R$ 20 bilhões.

Montante até então desconhecido de investidores, fornecedores, credores, trabalhadores e da sociedade brasileira, como um todo.

Uma análise por parte da área contábil da empresa havia identificado operações de financiamentos de compras de cerca de R$ 20 bilhões.

Isso fez com que a Americanas ficasse devendo a instituições financeiras.

Mas essas dívidas não estavam “adequadamente refletidas na conta fornecedores” nas demonstrações financeiras da companhia.

Logo após o anúncio, o Grupo Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial, de forma a se proteger das cobranças de dívidas imediatas e proteger seus negócios e patrimônios.

Mas as surpresas não parariam por aí.

Alguns meses depois, a própria empresa lançou uma nova bomba: as inconsistências eram fruto de fraudes.

Depois de uma auditoria independente, a Americanas verificou indícios de manipulação de dados contábeis por parte de sua antiga diretoria, que chegavam a R$ 25,3 bilhões.

VPC

Segundo a empresa, diversos contratos de verbas de propaganda cooperada (VPC), que teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da empresa, acabaram descobertos.

Assim, havia o lançamento na contabilidade como uma forma de reduzir os custos, mas não havia efetiva contratação de fornecedores para o serviço.

VPC são verbas em dinheiro ou em produtos bonificados disponibilizados por grandes fabricantes para incentivar a venda de seus produtos.

Assim, nas lojas varejistas, por exemplo, a instalação de gôndolas específicas para o item no ponto de venda, a colocação do produto em destaque ou ações promocionais.

O problema é que, no caso da Americanas, bilhões de reais em VPC fictícias estavam em seus balanços contábeis, de forma intencional, segundo a própria empresa, por seus ex-dirigentes.

Eles estavam na gestão da empresa pelo menos até o fim de 2022.

Além disso, ocorreram operações de risco sacado, que consistiam na antecipação de pagamento aos fornecedores, através da contratação de empréstimos junto aos bancos.

O problema é que essas operações, que envolvem o pagamento de juros às instituições financeiras, não recebiam o devido lançamento na contabilidade da empresa, ocultando bilhões em dívidas.

“Em adição às operações de VPC, e como forma de gerar o caixa necessário para a continuidade das operações das Americanas, a Diretoria anterior da Companhia contratou uma série de financiamentos nos quais a Companhia é devedora perante instituições financeiras, sem as devidas aprovações societárias, todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial da Companhia de 30 de setembro de 2022 na conta fornecedores”, informou a empresa, em um comunicado ao mercado em junho do ano passado.

Unidade das Lojas Americanas na Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, foi uma das que fecharam as portas em Santos em razão da crise da empresa. Foto: Nando Santos – Arquivo

Mais problemas

Além disso, a empresa constatou lançamentos redutores na conta de fornecedores provenientes de juros sobre operações financeiras, “que deveriam ter transitado pelo resultado da Companhia ao longo do tempo”.

A Polícia Federal (PF) investiga os ex-diretores da empresa.

Dois deles, que estavam no exterior, chegaram a ter prisão preventiva decretada no fim de junho.

No entanto,  os mandados acabaram se convertendo em medida cautelar de retenção, para impedir que eles saiam do país.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a investigação segue sob sigilo.

Segundo o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara dos Deputados para apurar a situação da empresa, a dívida da empresa com seus credores, já consideradas as inconsistências contábeis, superava os R$ 42 bilhões.

Os dados referem-se a setembro do ano passado.

História

“Nada além de 2 mil réis”.

Era assim que a primeira das Lojas Americanas se apresentava aos consumidores da cidade de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, quando abriu suas portas, em 1929.

O estabelecimento foi fundado por quatro empresários americanos.

Eles haviam trabalhado em uma loja de produtos five and ten cents (algo no estilo “loja de R$ 1,99”).

Eles se juntaram a um austríaco e a um brasileiro para colocar em prática seus planos.

Após mais de uma década de expansão de seus negócios, a Americanas se tornou uma sociedade anônima, com abertura de capital na Bolsa de Valores, ainda na década de 40.

No início dos anos 2000, lançou-se na internet e começou aquisições de empresas como Shoptime, Ingresso.com e Submarino.

Atualmente, o Grupo Americanas combina lojas digitais, locais de venda física, franquias, fintech e até varejo de hortifrúti.

Na última terça-feira, a empresa anunciou o fim dos sites de venda Shoptime e Submarino.

“A decisão contemplou o alinhamento com a nova estratégia de negócios, que foca em uma operação mais ágil, rentável e eficiente para oferecer uma experiência de compra ainda mais completa”, explicou em comunicado.

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.