Em meio a quase 500 demissões ocorridas no primeiro semestre, a Usiminas divulgou no final do mês de julho um documento chamado FR – Formulário de Referência onde aponta, em 500 páginas, vários assuntos corporativos.
No entanto, um dos tópicos chama a atenção: a elevação substancial dos novos valores pagos em salários, pró-labores, bônus e benefícios voltados ao seus diretores mesmo em plena pandemia e desemprego.
Em 28 de abril, foi aprovada durante Assembleia Geral Ordinária total da Administração o montante máximo a ser pago de R$ 32,4 milhões.
No entanto, os valores previstos a serem repassados a 19 membros da empresa (seis diretores estatutários, cinco membros do Conselho Fiscal e oito do Conselho de Administração) chegam ao limite de R$ 31,7 milhões – quase 98% do montante total originalmente programado.
O valor representa 77% a mais que no ano passado (R$ 17,9 milhões) e 42% superior a 2018 (R$ 22,29 milhões).
Pelo documento divulgado e disponível na internet (acesse o link aqui) a diretoria executiva, composta por 6 profissionais, terá direito a receber até R$ 27,2 milhões/ano.
Ao fazer a conta, chega-se a R$ 4,53 milhões/diretor ao longo do ano, entre salários, encargos, e outros benefícios.
Porém, os valores finais a serem pagos dependem de metas estabelecidas, especialmente no tocante a bônus e outras remunerações variáveis voltadas aos diretores.
Porém, com a pandemia, os resultados previstos no orçamento deverão ficar menores que os reais.
Antes da crise, a Usiminas previa um EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization.
Em português, “Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 3 bilhões.
Valores, porém, que dificilmente irão se confirmar, segundo apurou o Boqnews.
O assunto ganhou repercussão na mídia nacional, inclusive no Estadão.
Diretores
A diretoria estatutária da empresa é formada por um diretor-presidente e cinco vices, nas áreas comercial, industrial, finanças e relações com investidores, tecnologia e qualidade, e planejamento corporativo.
Já o Conselho de Administração – composto por oito membros – terá direito a R$ 3,6 milhões – algo em torno de R$ 450 mil/ano.
Ao todo, são R$ 3 milhões de salários ou pró-labore (honorários).
E o restante referente a encargos sociais e provisão de valor correspondente ao novo programa de Incentivo de Longo Prazo lançado no ano passado.
O conselho se reúne ordinariamente quatro vezes por ano, ou de forma extraordinária, quando houver interesse da empresa.
Dessa forma, possui dois comitês de assessoramento: o de Auditoria e o de Recursos Humanos.
Já os cinco membros do Conselho Fiscal terão direito a R$ 846,7 mil, sendo R$ 705,6 mil em salários ou pró-labore.
Portanto, o restante (R$ 141,1 mil) é voltado para encargos e demais despesas.
Ou seja, eles têm a missão de fiscalizar os atos de gestão dos administradores.
Sindicato
Assim, o Sindicato dos Metalúrgicos da Baixada Santista critica a forma como a empresa tem lidado com os trabalhadores.
Dessa forma, em reportagem publicada em seu site, o sindicato questiona que a empresa tenta impor, na unidade de Cubatão, a redução dos salários dos trabalhadores pela MP 936 do governo federal.
“A empresa tenta impor a redução dos salários, logo após demitir aproximadamente 400 trabalhadores em Cubatão e em Ipatinga segue tentando demitir 90% do efetivo na Usiminas Mecânica, o que significaria a demissão de aproximadamente 700 trabalhadores”, informa no texto.
Por sua vez, a empresa anunciou que vai colocar em funcionamento o Alto Forno 1 e a Aciaria de Ipatinga (MG), além da retomada da produção de placas em Cubatão.
Além disso, vai elevar seu plano de investimentos de R$ 600 para R$ 800 milhões.

Empresa justifica que valores pagos dependem de outros fatores econômicos. Foto: Divulgação/Usiminas
Usiminas
Em nota, a empresa divulgou a seguinte mensagem.
“A Usiminas informa que vem adotando um plano de adequação de suas operações de forma a preservar, ao máximo, sua força de trabalho e garantir a sobrevivência da Usina de Cubatão.
A unidade vem acumulando um histórico de resultados negativos, potencializados pelos fortes impactos da pandemia da Covid-19 na demanda por aço, e as medidas em andamento são inevitáveis para garantir a continuidade de suas operações na Baixada Santista.
A empresa lamenta a postura intransigente do Sindicato dos Metalúrgicos, que optou por não negociar a imprescindível adequação do efetivo da unidade, prejudicando a situação complexa pela qual passa a Usina de Cubatão.
Esclarece que, sem o acordo com o Sindicato, não consegue aplicar na totalidade as medidas previstas na Lei de Preservação do Emprego e Renda.
A Usiminas esclarece que a remuneração de seus executivos inclui parcela fixa e variável vinculadas aos resultados apurados pela companhia.
A empresa enfatiza que o valor citado é uma projeção feita com base no planejamento anual, realizado antes do impacto da crise da Covid-19, e pode ou não se confirmar, conforme a velocidade de recuperação do mercado.
Por fim, a Companhia reitera que está em busca de soluções para superar o cenário desafiador e reforça seu compromisso com o desenvolvimento da Baixada Santista.”