Episódio Vinícius Jr: De volta ao centro do debate | Boqnews
Foto: Divulgação/Real Madrid

Nacional

26 DE MAIO DE 2023

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Episódio Vinícius Jr: De volta ao centro do debate

Casos de discriminação racial também entram em campo na Europa

Por: Vinícius Dantas
Da Redação

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No último domingo (21), um episódio de racismo ficou marcado entre o jogo de Valencia e Real Madrid válido pela 35° rodada da La Liga (Campeonato Espanhol).

Desse modo, a partida teve que ser paralisada no 2° tempo após o atacante brasileiro Vinícius Jr, que atua pelo Real Madrid, ser mais uma vez alvo de ataques racistas. Mas, afinal o que ocorreu?

Parte da torcida que estava no Estádio Mestalla chamou o jogador de “macaco” diversas vezes. O atacante conseguiu identificar um dos racistas e após tirar satisfação, outros torcedores também o afrontaram.

Contudo, nos acréscimos, o goleiro Mamardashvili xingou Vini e o atacante recebeu um ‘mata-leão’ do jogador adversário Hugo Duro. A reação que ele teve foi de atingir o rosto do adversário, tendo sido expulso pelo ato.

Ademais, no Chile, os jogadores do Santos FC Ângelo e Joaquim também foram vítimas de ofensas racistas durante jogo entre o time e o Audax Italiano.

Repercussão

Após o jogo, em sua conta no Instagram, Vinícius disse que os racistas foram premiados com a expulsão dele e ironizou “Não é futebol, é La Liga (liga de futebol da Espanha)”.

Sendo assim, a frase do atacante remete aquela expressão “Futebol é apenas um jogo”. Para alguns pode até ser, mas para outros, o futebol também passa das quatro linhas. E o impacto fora dele e o contexto social mudam completamente a atmosfera de um estádio e sua partida.

Na terça-feira (23), um comitê formado pela La Liga, Federação Espanhola de Futebol e o Conselho Superior de Esportes decidiram anular o cartão vermelho de Vinícius. Sendo assim, ele estava liberado para enfrentar o Rayo Vallecano na rodada seguinte. Todavia, com um incômodo no joelho, ele não jogou.

Jogadores do Real Madrid entraram em campo contra o Rayo Vallecano vestindo a camisa de número 20 alusiva a Vinícius Jr como forma de chamar a atenção para o combate ao racismo Foto: Divulgação/Real Madrid

Outro fato relevante é que o mesmo comitê fechou um dos setores por cinco jogos onde houve os gritos racistas. E o Valencia recebeu multa de 45 mil euros, o que equivale a cerca de R$ 240 mil.

Outros casos

Nada disso apaga o fato do que vem ocorrendo com o brasileiro na Espanha. Dessa forma, uma das mais terríveis situações foi no dia 26 de janeiro desse ano, quando na véspera do jogo contra o Real Madrid, torcedores do Atlético de Madrid penduraram em uma ponte da cidade um boneco com a camisa de Vinícius, simulando um enforcamento do jogador.

A La Liga se pronunciou em nota informando que solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o ocorrido. “Concluída a investigação, caso seja detectado um crime de ódio, a La Liga passará a tomar as medidas legais cabíveis”.

Contexto social

Quem explica esse contexto é o professor de História e Patrimônio Cultural da UFJF, Rodrigo Christofoletti. Sobre a motivação para o racismo, ele comenta que é muito difícil mapear, sobretudo no mundo de hoje tão conectado. “Sabemos que a Europa, países do centro europeu, sobretudo as nações ibéricas como Espanha e Portugal tem uma longa e conhecida ficha corrida de comportamentos xenófobos e mesmo racistas, e sobretudo com relação aos brasileiros. Na verdade, os europeus de maneira geral”, ressalta Christofoletti.

Ele também aborda que a Espanha viveu durante muito tempo sobre a tutela e batuta de uma posição fascista, resultando na formação de gerações de pessoas que foram ensinadas desta forma e que passaram para outras gerações. “Isso acaba redundando numa espécie de réplica. Eles replicam, emulam a compreensão de um mundo quando as pessoas ainda se diferenciavam pela cor da pele ou posição social”, explica o professor.

Portanto, Christofoletti expõe que há um elemento histórico por trás de tudo e não é exclusividade da Espanha. Ele chega a relacionar que tornou-se praxe mesmo diante de uma realidade em que os países miscigenados.

Ele ainda reforça que grande parte da população desses países está passando por uma transformação social e étnica. No entanto, a mudança ética demora para acontecer, já a étnica acontece mais rápido, segundo ele.

Respostas

O professor destaca que o episódio pode e deve ter respostas contundentes em relação não só a esse tipo de manifestação seja em um estádio, em uma escola ou em grupos mais diversos. “Quanto mais misturado – a gente tem percebido o mundo – mais esses grupos radicais se sentem incomodados com essa condição”.

Sobre a situação, segundo ele, é preciso de atitudes do diretor do clube em relação à questão diplomática. “Governo brasileiro já chamou a representante espanhola para uma conversa e isso é um indicativo claro que o Brasil tem se envolvido. E não vai deixar um atleta de 22 anos responder sozinho a esse tipo de agressão, seja física, intelectual, ou verbal. É uma violência social que ele vem sofrendo há bastante tempo”.

Desse modo, além de toda a importância para identificar e punir os responsáveis pelos casos de racismos, o mundo e a sociedade como um todo precisam estudar e compreender o cenário atual para não cometer o mesmo erro, pois existem inúmeros Vinícius que sofrem preconceito e precisam ser ouvidos.

 

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