O ataque de um adolescente de 13 anos em uma escola na Zona Oeste de São Paulo nesta semana teve grande repercussão.
Esse tipo de violência não é de agora, pois já ocorreu diversas vezes nos Estados Unidos, por exemplo, mas o Brasil não escapa desse cenário.
De acordo com levantamento de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desde 2002, o Brasil já registrou 23 ataques em escolas.
O que preocupa os pais, responsáveis, professores e alunos é que na mesma semana, houve a ameaça de mais um massacre, em uma escola estadual de Santos.
Dois adolescentes de 19 e 16 anos foram identificados pela Polícia Civil e a dupla foi encaminhada para a delegacia.
Como lidar com essas tragédias para evitar futuras ocorrências?
Ambiente escolar
Segundo a psicóloga Mariângela Fortes, a violência nas escolas afeta os alunos e a comunidade escolar em geral.
“Foge completamente do habitual para nós, brasileiros, e de todo o esperado na casa do saber.
Alunos, familiares, pais, funcionários, todos ficam inseguros e traumatizados.”
Na visão dela, é necessário um treinamento para enxergar os alunos como pessoas.
Assim como interpretar os pequenos sinais que indicam o mal comportamento, controlando fatores de agressão, ansiedade e que desencadeiam em diversos outros.
Além de manter psicólogos nas escolas, alertar os pais, controlar o que entra com o aluno na escola (armas e drogas).
Contudo, um fator importante para a educação fora das escolas são os pais e responsáveis, que devem auxiliar nesse cuidado.
“O papel deles é fundamental na educação dos filhos e o que vejo na minha prática clínica são pais acusados, com medo de exercer sua função de educar, que querem só agradar os filhos. Pais que verbalizam: ‘Eu não posso com ele’, falando de filhos de 6, 8, 12 anos”.
Além disso, como essa geração está totalmente conectada à tecnologia. Desse modo, ela também cita que pais permitem filhos passar horas nos celulares e nas redes sociais desde pouca idade.
“Pais que acham que é na escola que se educa, mas na verdade a escola ensina. Quem educa são os pais, a família”.
Formas de evitar
A secretária da Educação de Santos Cristina Barletta aborda as metodologias e rotinas pedagógicas, que podem servir para evitar essas violências. “O trabalho com a arte e a literatura é fundamental”.
Para ela, a arte desperta a sensibilidade para enxergar o outro e aceitar as diferenças.
“A literatura tem a magia de vivenciar outras histórias e diferentes personagens que dialogam com o nosso eu interior”, destaca.
A secretária também ressalta que rodas de conversa, como espaço de escuta e de fala, é um aprendizado fundamental para que os conflitos não se transformem em confrontos.
Salienta ainda a importância de adotar projetos e programas que desenvolvem o senso crítico, a atitude ética e a responsabilidade, como os grêmios estudantis, o aluno ouvidor, a câmara jovem e o Santos Jovem Doutor. “Em todas essas ações o princípio maior é a busca pelo bem comum”, conclui.
Cristina destaca a existência do Programa da Justiça Restaurativa, que tem como princípio a reparação do dano feito ao outro por meio das rodas restaurativas, onde agressores e agredidos falam sobre os seus sentimentos e param para escutar a dor do outro.
“A Educação é sempre um veículo de construção da paz, de prevenção da violência, de reparação do dano para que a punição não seja necessária, pois significa que todas as outras estratégias falharam”, frisa.
O princípio da Justiça Restaurativa, explica, se traduz nos espaços para o diálogo sempre oportunizados em forma de rodas de acolhimento, de agradecimento, de celebração, dentre outras. Portanto, de maneira que todos possam ser vistos e tenham vez e voz, despertando um profundo sentimento de pertencimento, acolhimento, importância e valorização da vida.
Números
Para compreender a necessidade de debater esse assunto, o Instituto Locomotiva realizou uma pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) sobre o clima de insegurança dos estudantes da rede pública de São Paulo.
De acordo com a pesquisa, 48% dos estudantes e 19% professores afirmam ter sofrido algum tipo de violência nas suas escolas.
Além disso, 71% dos estudantes e 41% dos professores afirmam que souberam dos casos de violência nas suas escolas.
Já entre os familiares dos estudantes, 73% souberam de casos de violência nas escolas de seus filhos.
Para conter o problema de violência nas escolas do estado, o governo estadual anunciou algumas ações.
O secretário da Educação de São Paulo, Renato Feder disse que a secretaria planeja contratar 150 mil horas de atendimento psicológico e psicopedagogo para as escolas estaduais.
Reduzir casos
Sobre as medidas que o governo pode adotar para reduzir a violência nas escolas, Cristina Barletta aponta a necessidade de o governo mobilizar toda a sua rede de proteção de direitos, principalmente, a saúde e a assistência social para que se tenha uma atenção muito especial aos que estudam e trabalham na escola.
Já sobre os professores e funcionários, a secretária conta que o papel da escola é envolver todos os profissionais que atuam no contexto escolar como agentes de uma cultura de paz. Portanto, baseando-se no diálogo, no cuidado, na atenção e na escuta do outro, o que torna o ambiente mais saudável e seguro.
No mesmo pensamento, a psicóloga Mariângela Fortes concorda e defende que o governo deva investir em segurança na porta da escola para que armas e drogas não entrem com os alunos.
Dessa forma, além de manter atendimento psicológico dentro da escola para alunos e funcionários, deve-se manter a guarda escolar e protocolos para serem adotados nos casos de violência extrema.
Motivos
Outro ponto relevante é o de identificar as razões que geram os casos de violência.
“É por intolerância, não aceitação de que cada indivíduo tem suas peculiaridades e individualidades, e o convívio com o diferente de mim que me enriquece a vida”, afirma a psicóloga.
No seu entender, o respeito ao próximo é condição humana louvável.
“Existem regras porque viveremos em sociedade. Se fossemos tão individuais, seríamos sós e não uma raça humana aqui no planeta.
Temos que, como sociedade, nos unir contra o racismo, a fake news, olhar e educar nossas crianças para o bem, para o bom, para o saudável, para serem pessoas melhores do que nós somos”.
Por fim, não importa apenas a educação da escola, mas os pais e responsáveis que têm um grande papel na formação como indivíduo para sociedade.
Além disso, Ainda nessa linha, o atendimento com um psicólogo é primordial.
Como isso, não só para evitar futuras tragédias, mas também controlar a mente e o pensamento dos jovens.