O mês de setembro é marcado pela campanha do Setembro Amarelo, voltado na conscientização da prevenção ao suicídio. Segundo o relatório da Comissão sobre Conexão Social da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis pessoas no mundo sofre de solidão, com impactos significativos na saúde e no bem-estar.
A solidão está associada a cerca de 100 mortes por hora, o que reflete em mais de 871 mil mortes todos os anos, segundo a pesquisa.
Sinais
Desse modo, é importante observar os principais sinais de sofrimento emocional ou risco de suicídio em crianças, adolescentes e adultos.
Segundo o psicólogo Marcelo Marques é importante lembrar que o sofrimento emocional pode se expressar de maneiras diferentes em cada faixa etária. Contudo, o que deve sempre chamar a atenção é a mudança no padrão habitual da pessoa.
“De forma geral, alguns sinais se repetem: isolamento social, perda de interesse por atividades antes prazerosas, alterações marcantes no sono e no apetite, queda de rendimento escolar ou profissional, irritabilidade intensa e falas recorrentes sobre desesperança ou morte.”
Ele comenta que nas crianças, muitas vezes o sofrimento aparece em forma de regressões de comportamento, como voltar a fazer xixi na cama, choros frequentes, dificuldades escolares repentinas ou queixas físicas sem causa aparente.
Já os adolescentes tendem a expressar mais diretamente em frases como “quero sumir” ou por meio de comportamentos de risco, automutilação, isolamento e uso de álcool ou drogas.
Nos adultos, especialmente no trabalho, é comum observar queda brusca de produtividade, afastamento de colegas, aumento de conflitos e até descuido com a própria aparência.
Comportamentos
Outro ponto relevante é na infância, como pais e educadores podem diferenciar um comportamento típico de um possível sinal de sofrimento emocional. Desse modo, a psicóloga clínica Melissa Tenório explica que a infância é feita de muitas fases e dentro das fases, existem birras, medos e descobertas.
Portanto, esses movimentos são necessários para constituir o sujeito, porém a diferença de um comportamento típico de um sinal de sofrimento está na intensidade que esse comportamento acontece, como na persistência e principalmente na paralisação do desenvolvimento quando não se percebem os avanços. Segundo ela, a birra é esperada. Contudo, uma criança que vive em estado de oposição constante e não consegue estabelecer laços afetivos está possivelmente num sofrimento maior.
“O medo do escuro é muito comum nas crianças, mas uma criança aterrorizada que não dorme e tem uma rotina comprometida com esse medo está comunicando que há presença de alguma angústia mais profunda que carece de um olhar atento para tentar principalmente, na infância, investigar o que está acontecendo, porque muitas vezes podemos intervir e cuidar daquele ambiente para que seja suficientemente bom para ela se desenvolver de uma forma boa”, relata.
“O essencial é observar se a criança continua a brincar, a apreender a se relacionar, se ela continua a evoluir e qual é o grau de comprometimento, com essa birra, esses movimentos e esses momentos de descobertas”.
Mudanças de humor
Além disso, Marques lembra que na adolescência ocorrem variações de humor e busca por privacidade. Mas quando se observa um conjunto de sinais, como isolamento, queda repentina no desempenho escolar, abandono de atividades antes prazerosas, falas de desesperança e, principalmente, automutilação ou uso de substâncias químicas, é necessário acender o alerta.
Portanto, o que diferencia de quando a mudança de humor deixa de ser esperada para preocupante é a intensidade, a duração e o impacto na vida do jovem.
Além disso, em adultos, o sofrimento muitas vezes poder aparecer de forma silenciosa. No ambiente de trabalho, isso pode se traduzir em atrasos frequentes, faltas sem explicação, perda de produtividade, irritabilidade ou isolamento. “É comum ouvirmos frases como “não aguento mais” ou “sou um peso para todos”. Essas falas nunca devem ser banalizadas. Gestores e colegas precisam aprender a olhar para além do desempenho e perceber quando há um sofrimento humano por trás”.
O que fazer?
Segundo Melissa, ao perceber que alguém está em sofrimento, o importante é não julgar e nem minimizar a dor do outro, como, por exemplo, dizer “Isso vai passar”, invalidando aquele sentimento e aumentando o sofrimento de solidão. “Às vezes, nós julgamos que o que é bom para nós vai ser bom para o outro”.
“Vamos pensar em pais que são extremamente religiosos. Então falar para o filho que ele deveria rezar mais, porque isso iria auxiliá-lo. Ou vamos supor que os pais são atletas e dizer: ‘você deveria treinar mais’. Pelo contrário, neste momento, precisamos oferecer uma escuta genuína, sem pressa e sem dar conselho, apenas escuta. E de alguma forma, nomear a preocupação que se tem, dizer de forma clara e afetiva que temos percebido que a pessoa não parece muito bem.”
Assim como, vale mencionar que não deve ter medo de perguntar se a pessoa tiver alguma desconfiança, uma ideação suicida. É importante perguntar com cuidado e respeito, por exemplo. ‘Você tem pensando em se machucar ou em tirar a própria vida?’, indaga.
“Contrariando aquele mito que conversar sobre assunto não induz o ato, mas é que isso abre espaço para que a pessoa fale sobre sua dor e muitas vezes, a pessoa fala consigo mesma, sempre sozinha. E nomear é um caminho importante para o tratamento. Além disso, é importante incentivar a busca por ajuda profissional, apresentar essa oportunidade de conversar com um psicólogo e psicanalista, com um recurso para lidar com esse sofrimento”.
Acolhimento
Dessa forma, o psicólogo acrescenta que o acolhimento pode salvar vidas. “Quando alguém em sofrimento sente que não está sozinho e que sua dor é reconhecida, pode-se abrir uma porta para buscar ajuda. No caso de crianças e adolescentes, a escuta ativa significa estar disponível, olhar nos olhos, não interromper e validar seus sentimentos. É muito mais poderoso dizer “eu entendo que está difícil e estou aqui com você” do que tentar dar soluções rápidas”, esclarece.
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