O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), por muito tempo associado à infância, tem ganhado destaque entre adultos jovens. Um estudo publicado pela JAMA Network Open, em 2023, revelou que os diagnósticos entre adultos nos Estados Unidos cresceram mais de 20% entre 2010 e 2020. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam uma tendência semelhante.
Para o médico psiquiatra Dr. Thyago Henrique, esse crescimento reflete dois fatores: aumento real dos casos e maior conscientização da população. “Hoje há mais informação circulando, mais profissionais qualificados e mais pessoas buscando ajuda”, afirma o especialista, pós-graduado em psiquiatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, a pessoa nasce com ele. Os sintomas, porém, mudam com o tempo. Em adultos, impulsividade, desatenção e hiperatividade costumam ser menos intensas. “O cérebro amadurece e consegue compensar parte das dificuldades, mas elas ainda impactam a vida diária”, explica.
Essa diferença de manifestação é fundamental para não confundir o TDAH com outras condições. “Ansiedade, depressão, uso de substâncias ou privação de sono também causam agitação e falta de foco. Por isso, o diagnóstico deve ser feito por um especialista, com base em avaliação clínica detalhada”, reforça Dr. Thyago.
Redes sociais, autodiagnóstico e riscos
A popularização do tema nas redes sociais tem provocado uma onda de autodiagnósticos. Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgada em 2022, apontou que cerca de 30% dos adultos que usavam medicamentos para TDAH o faziam sem receita médica.
Dr. Thyago vê esse movimento com preocupação. “Quando todo mundo se declara TDAH, os dados reais se perdem e isso afeta a formulação de políticas públicas. Além disso, o uso indiscriminado de medicamentos pode colocar vidas em risco”, alerta.
Os remédios mais comuns para tratar o TDAH são os psicoestimulantes, como o metilfenidato. Apesar de eficazes, esses fármacos podem causar dependência, aumentar a pressão arterial e, em casos extremos, desencadear infartos. “Sem acompanhamento, os riscos se multiplicam”, destaca.
Diagnóstico exige avaliação profissional
Não existem exames laboratoriais para diagnosticar o TDAH. Testes neuropsicológicos podem ajudar, mas a entrevista clínica com um especialista é o principal instrumento. “Com uma escuta qualificada, geralmente não são necessários exames adicionais”, afirma o psiquiatra.
Segundo o médico, os sintomas do transtorno costumam diminuir com o tempo. “A partir dos 40 anos, muitos pacientes relatam melhora. Em alguns casos, é possível controlar os sintomas apenas com mudanças no estilo de vida, como dormir bem, praticar exercícios e reduzir o tempo de tela.”
Dr. Thyago reforça que o tratamento correto depende de um diagnóstico seguro. “Precisamos evitar dois erros: deixar de tratar quem realmente tem TDAH e medicar quem não precisa. A chave está em buscar profissionais qualificados.”,
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