Segundo dados do Sistema Único de Saúde, o Brasil registrou mais de 1,1 milhão de internações por pneumonia, de janeiro a agosto de 2024. Não à toa, a região litorânea de São Paulo também apresentou alto nível de infecções pela doença.
De acordo com a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h Zona Leste, localizada em Santos, houve um aumento de 327% no atendimento de pacientes com pneumonia bacteriana nesse ano.
Os dados indicam que os atendimentos saltaram de 37, de janeiro a outubro de 2023, para 158 no mesmo período em 2024.
Motivos
Desse modo, o pneumologista Alex Macedo aborda o que pode motivar o aumento de casos.
“O aumento está relacionado a possibilidade maior de transmissão e aumento da quantidade de germes que podem levar a pneumonia nas vias aéreas e por microaspiração e inalação você leva esse agente contagioso para dentro dos pulmões. Além de alteração de temperatura no mesmo dia – quente e úmida para frio e seca, e vice-versa. Assim como, acontece na nossa região no outono e inverno, a presença de temperatura mais fria, o que faz com que as pessoas fiquem fechadas em locais com menos ventilações e janelas fechadas, assim você inala o ar que outras pessoas respiram mais frequentemente”.
Diagnóstico
Portanto, o infectologista Evaldo Stanislau acrescenta que o primeiro fator que deve ter observação é o critério do diagnóstico, ele enxerga uma vulgarização do diagnóstico de pneumonia. “Muitas vezes, o paciente procura um pronto-socorro, o médico de plantão com medo das consequências ou por incompetência mesmo, rotula muitos casos como pneumonia. E não é, apenas é um quadro de infecção de vias aéreas superiores e não tem todos componentes para fazer diagnóstico de pneumonia”.
Dessa forma, ele menciona que o primeiro ponto é estabelecer qual critério que tem sido utilizado para se rotular casos como pneumonia.
Outro aspecto que ele aprendeu ao longo do tempo é que as pneumonias, sobretudo as virais têm crescido muito, diversos trabalhos apontam nesse sentido o conceito que pensamos quando é abordado pneumonia de automaticamente associar a infecção do pulmão com presença da bactéria e na verdade não é.
O que é a pneumonia?
“A pneumonia é uma infecção da porção terminal do pulmão, dos alvéolos pulmonares, mas que em grande parte dos casos, com uso de tecnologias diagnósticas mais modernas, quem está por trás disso são vírus e temos observado uma circulação de vírus respiratórios muito importante, temos observado o vírus da Covid-19 que causou muitos quadros pneumônicos e mais recentemente vírus da influenza, da gripe, tanto influenza A, mas sobretudo influenza B que tem circulado com bastante intensidade e pode causar também pneumonia”, explica o infectologista.
Ele acrescenta também que o vírus sincicial respiratório causa quadro de infecção severa em crianças, mas também nos idosos com doenças crônicas.
Mudanças climáticas
Outro ponto citado por Stanislau são as mudanças climáticas que potencializam a transmissão de doenças infecciosas de maneira geral e talvez esse tempo seco e com variações térmicas faz com que o epitélio respiratório sofra bastante e com isso pode abrir caminho para infecções e agentes infecciosos e a partir disso ocorram complicações com as pneumonias.
Sintomas
De acordo com o pneumologista, os sintomas mais comuns de pneumonia são tosse, normalmente com catarro e na maior parte das vezes, ele é amarelado, febre alta e queda do estado geral. Esses sintomas costumam aparecer em pacientes entre 12 e 65 anos e pacientes sem doenças crônicas graves.
Contudo, nas presenças de doenças crônicas na infância ou na idade mais avançada, alguns sintomas podem não aparecer, como a tosse que ás vezes pode ser mais seca e o estado geral e febre podem demorar a aparecer também.
Outros sintomas em crianças e idosos que podem aparecer são a alteração de comportamento, agitação psicomotora e entre outros.
Riscos
Sobre os riscos da pneumonia, Macedo aborda que está sempre relacionado a gravidade e que em média de 0,5% até 3,5% dos pacientes podem vir a falecer por conta de pneumonia, principalmente nos extremos de idade – idoso e criança, presença de doenças crônicas mais graves, diabete mais grave, problema de coração mais grave, respiratório crônico mais grave, paciente que tem insuficiência renal e paciente diabéticos tem maior gravidade, assim como idoso e criança.
Já o infectologista complementa que a pneumonia tem tanto maior consequência dependendo da reserva funcional do paciente, se é um paciente muito jovem ou muito idoso é pior. “Dependendo do perfil do paciente existem mortes tardias associadas com a pneumonia, não se brinca com pneumonia, ela não é uma infecção corriqueira, precisa ser bem cuidada e avaliada, pois existem complicações imediatas e a longo prazo”.
Como evitar pneumonia?
Em relação ao que pode ser feito para evitar a pneumonia, Macedo menciona que a melhor maneira de se prevenir é evitar locais aglomerados e fechados, por exemplo, viagens de avião e navio onde as pessoas ficam muito tempo fechadas no mesmo ambiente, assim você tem maior chance de inalar vírus, estar no cinema em horário mais cheio, ir em festas fechadas, a chance é maior de adquirir e entrar em contato com esses germes, vírus e bactérias, não que se você entrar em contato com eles terá a doença.
O médico explica que se seu sistema imunológico estiver funcionado bem, estar bem hidratado, descansado, com sua saúde em dia e controlada, a chance cai muito de pneumonia e caso você pegue são pneumonias normalmente com evolução branda e sem maior complicação.
Stanislau também acrescenta que todo paciente com doença crônica deve ter um bom tratamento, ter estilo de vida saudável, não fumar, ter prática regular de exercício físico, dormir bem, controlar estresse, ter dieta equilibrada, isso ajuda a evitar pneumonia ou que elas sejam mais graves.
Vacinas
No que se refere a importância do uso correto dos medicamentos, o infectologista informa que tão importante quanto tratar é não ter pneumonia. “Eu quero enfatizar muito que as pessoas são muito fatalistas. Muitas dizem: Olha aconteceu, não tinha o que fazer. Na verdade tem o que fazer, a vacina contra Covid-19 evita a pneumonia, vacina contra vírus sincicial respiratório que é uma vacina nova evita pneumonia e até indicado em crianças e idosos”.
Assim como, a vacina contra gripe que todo ano deve ser tomada evita pneumonia por influenza e como complicação da gripe. Além da vacina contra pneumococo, uma vacina essencial que precisa ser tomada também.
Tratamento correto
O segundo ponto que ele enfatiza é a necessidade fazer o tratamento correto e lembrar que existem anti virais.
Grande parte das pneumonias hoje tem como causa o vírus e o vírus trata-se com antiviral e não com antibiótico.
Portanto, o diagnóstico da pneumonia feito de maneira moderna, com testes laboratoriais de respostas rápidas que precisam ser feitos inicialmente podem indicar presença do vírus da gripe, influenza ou da Covid-19, para eles no início existem antivirais altamente efetivo que modificam o curso da doença.
“Se for uma pneumonia bacteriana, eu quero fazer um alerta, as pessoas acham que precisam tomar 10 ou 14 dias com antibióticos, dependendo do paciente e evolução clínica dele, nós podemos tratar a pneumonia tão breve quanto três a cinco dias apenas de antibiótico, então precisa ser uma orientação bem feita, acompanhamento correto. Mas, a regra, além de evitar, é seguir a orientação do médico”.
Prefeitura de Guarujá
A Prefeitura de Guarujá informa que, em 2023, houve o registro de aproximadamente 126 internações por pneumonia. Enquanto em 2024 esse número aumentou para cerca de 556.Sobre Covid-19, em 2023 houveram cerca de seis casos, enquanto 2024 acumula 15 até o momento.
Sendo assim, a Prefeitura está atenta a esse aumento e está realizando um acompanhamento epidemiológico rigoroso para entender as causas e as possíveis medidas a serem tomadas.
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) tem observado reincidências de casos de Covid-19 em 2024, embora o Município tenha avançado significativamente na cobertura vacinal. Para evitar o aumento no número de internações pelas duas doenças, a Prefeitura tem promovido diversas ações.
Portanto, incluindo campanhas de vacinação em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e da Família (Usafas), especialmente para a vacina contra a Covid-19; orientações sobre cuidados preventivos e manutenção das medidas de higiene e mobilização da comunidade para aumentar a adesão às vacinas.
Além disso, a Sesau reforça que continuará promovendo campanhas educativas e ações de saúde pública para conscientizar sobre a importância da vacinação e dos cuidados sanitários.
Prefeitura de Santos
A Secretaria de Saúde de Santos esclarece que pneumonia bacteriana não é uma doença de notificação obrigatória. Portanto, os dados disponíveis referem-se tão somente aos atendimentos realizados nas unidades de pronto atendimento que pertencem ao município de Santos (UPAs).
Não há informações sobre a a quantidade de atendimentos realizados em unidades de pronto atendimento e em consultórios da rede privada, de forma que não é possível quantificar o total de casos no município.
Importante lembrar ainda que as UPAs são unidades porta aberta. Desse modo, que também atendem moradores de outros municípios e a quantidade de atendimentos não se relaciona apenas a residentes de Santos.
Atendimentos relacionados a pneumonia bacteriana:
UPA Central
janeiro a outubro/2023 – 30
janeiro a outubro /2024 – 34
UPA Zona Noroeste
janeiro a outubro/2023 – 55
janeiro a outubro /2024 – 112
UPA Zona Leste
janeiro a outubro/2023 – 37
janeiro a outubro /2024 – 158
Prefeitura de Praia Grande
A Prefeitura de Praia Grande informa que o Departamento de Vigilância em Saúde constantemente monitora os casos de gripe, covid-19 e demais síndromes respiratórias no Município.
Assim como, mantém protocolos e manejo clínico de atendimento em dia para eventuais ocorrências. Vale ressaltar que a pneumonia não é uma doença de notificação, portanto, não é possível quantificar o número de casos.
De janeiro a novembro de 2023 houve o registro na rede municipal de saúde pouco mais de 400 atendimentos relacionados à pneumonia. No mesmo período de 2024 o registro na rede municipal de saúde foi de cerca de 580 atendimentos relacionados à pneumonia.
Em relação à covid-19, em 2023 houve notificação de 2.284 casos e 24 óbitos. Este ano até o momento houveram 895 casos e 5 óbitos por covid-19.
Praia Grande conta com 31 Unidades de Saúde da Família (Usafas) que fazem o acompanhamento de casos leves.
Já os atendimentos de maior urgência são recebidos pelas Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) Quietude e Samambaia e pelo Pronto-Socorro Central, no Bairro Guilhermina.
Todos os casos possuem avaliação pela equipe médica e encaminhados dependendo da necessidade do paciente.
*A equipe do Jornal Boqnews entrou em contato com as prefeituras de São Vicente, Bertioga, Cubatão, Peruíbe, Mongaguá, Itanhaém, porém não obtivemos retorno, caso haja, a matéria será atualizada com as respostas.
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