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05 DE FEVEREIRO DE 2015

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Tá lá o corpo estendido no chão!

Texto enviado pelo escritor e professor Universitário, Adilson Luiz Gonçalves

Por: Da Redação

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Ao sair da universidade, por volta de 22:30, percorri lentamente o caminho até o ponto de encontro com minha mulher.

Caminhei entre vodkas, cervejas, fumaças e centenas de jovens que despreocupadamente invadiam as ruas, travando o trânsito.

Ao chegar à esquina, precisei desviar de mesas dispostas nas calçadas e de mais garrafas, muitas de vidro, algumas quebradas.

O que acontecia?

Disseram que era um misto de trote universitário com um precoce bloco carnavalesco.

Havia muitos “bixos” carecas e pintados. No entanto, se houve algum batuque de samba já tinha acabado. Só se ouvia um maldito funk, purgado de um carro. O mesmo ruído ensurdecedor sempre ouvido em horário de aula, no período noturno, às sextas. Não deve ser de estudante…

Mas era terça.

Atravessei a rua como se percorresse um campo minado de pessoas, carros e motos. Na outra esquina, duas mulheres gritavam com um rapaz que, esparramado no chão, negociava pateticamente condições para se levantar.

Liguei para minha mulher, para evitar que ela entrasse naquele caos. Soube que ela já me ligara várias vezes. Como notar, naquela bagunça?

O carro estava preso no congestionamento que afetava até a avenida próxima. Isso havia dez minutos!

Liguei para a empresa de trânsito, pois não vi ninguém tentando por um mínimo de ordem naquilo. O atendente disse que já estavam tomando providências…

Mais dez minutos de imobilidade total, agora com vários carros buzinando insistentemente. Já eram quase 23:00!

De repente, uma viatura de resgate do Corpo de Bombeiros surgiu:

Manobras perigosas permitiram sua passagem. Outras luzes vermelhas intermitentes eram visíveis, na esquina de onde vim.

Espremidos entre carros, motos, ônibus fretados e gente, conseguimos passar pelo cruzamento, agora parcialmente interditado pela Polícia.

Câmeras fotográficas e filmadoras iluminavam o lugar por onde eu havia passado minutos antes.

Motivo: um jovem fora assassinado!

Consternação? Indignação? Medo?

Não, apenas jovens bebendo; o mesmo carro tocando o abjeto funk; comerciantes vendendo seus produtos…

Era como se nada chocasse aqueles jovens! Como se aquilo fosse normal, parte de suas vidas!

Seguimos com os vidros semiabertos por mais alguns metros de indiferença e alienação etílico-neurológica e, apesar da polícia a poucos metros, cheiro de maconha, infelizmente algo muito comum nas proximidades das escolas, desde as de Ensino Fundamental. Todos sabem que os traficantes estão lá, inclusive a Polícia, mas pouco se faz. E se faz alguém logo desfaz, tornando o crime impune e, pior, lucrativo!

No dia seguinte, especulações: execução, latrocínio, revide de menores infratores…

A única certeza era de que mais uma vida fora abreviada de forma estúpida, em meio a algo que pretendia ser uma festa, num local totalmente impróprio.

Já disse, certa vez, que as escolas deveriam ser tratadas como santuários ou, no mínimo, hospitais: nada de ruídos ou obstruções!

Esse clamor, no entanto, parece não passar de palavras ao vento, sistematicamente abafadas por música ruim, baderneiros desocupados, comerciantes inescrupulosos e traficantes bem organizados e eficientes.

Nossos jovens são o alvo: caça fácil em busca de predadores!

E quem reage ainda pode ouvir: “É proibido proibir!”; “Polícia para quem precisa de Polícia!”; que é contra a liberdade de expressão, o direito de ir e vir ou os direitos humanos.

Consta que aquele corpo ficou estendido no chão por mais algum tempo, sem preces, sem silêncio…

Tristes tempos, estes, em que jovens voluntariamente mergulham de cabeça no mar da inconsequência, colocando suas vidas em risco por prazer, por não ter quem eduque e zele por eles ou, simplesmente, por não terem nada de útil para fazer…

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