“A Ella Fitzgerald do Brasil”. Essa definição partiu de nada mais, nada menos que Tony Bennett, um dos grandes expoentes do jazz, sobre a brasileira Leny Andrade. Cantora carioca nascida em 25 de janeiro de 1943, Leny Andrade iniciou sua carreira em 1958, lançando seu primeiro álbum A Sensação três anos depois. Morou no exterior e cantou ao lado de artistas internacionalmente consagrados, como o trompetista Wynton Marsalis (a quem o denomina como “soberano”), o saxofonista Paquito D´Rivera (seu “irmão cubano”), entre tantos outros. Ao lado do violonista Romero Lubambo, Leny retorna à Santos para o Santos Jazz Festival, em show marcado para o dia 22 de junho, às 19h, no Sesc Santos. Nesta entrevista, a cantora relembra passagens na Cidade e até sobre um fato curioso que lhe aconteceu na adolescência.
por Natasha Guerrize
(Entrevista completa disponível logo abaixo; na edição impressa, algumas perguntas não foram publicadas devido ao espaço)

Como a música entrou em sua vida?
São 55 anos de carreira. Estou envolvida com a música desde garota, nos bailes da época, tocava num conjunto formado pelo meu meio irmão. Minha mãe era professora de piano e eu já estava adiantada nos estudos, comecei a tocar, aos seis. Ouvia muito a Rádio Nacional (emissora carioca fundada em 1936) e quando escutei a voz da Dolores Duran, percebi que também poderia improvisar junto com o piano.
Primeira aparição profissional
Considero que a minha estreia foi aos 15 anos, quando comecei a ganhar
dinheiro sendo crooner (termo que define os cantores populares
principalmente do jazz, geralmente sempre acompanhados de uma orquestra ou de uma Big Band) nas domingueiras do Rio de Janeiro. As domingueiras foram feitas para a dança. Quando você canta para o povo dançar, perde-se o
medo. Mas minha primeira aparição ao assinar um contrato com a RCA Victor (atualmente gravadora da Sony Music) foi na final da primeira audição de piano na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Formação
Quando completei nove anos de idade, minha mãe falou: “Você tem talento no canto e toca de forma impecável. Agora chegou a hora de buscar seu caminho por conta própria”. E assim fiz meu trabalho. Estudei no Conservatório Brasileiro de Música, no Centro do Rio. Minha professora foi a Maria Mega de Oliveira, com quem aprendi muito.
Apesar de ser cantora de jazz, você passou por diversas vertentes
musicais. É possível dizer que a bossa nova é a sua maior influência?
Sem dúvida! A bossa nova é a “menina mimada” do jazz. É a “menina dos
olhos”. Porque o jazz sempre foi ligado à música clássica por excelência.
Ela abre portas para todos nós, artistas. Foi pela bossa nova que conheci
grandes artistas brasileiros lá fora, como a Joyce, Sérgio Brandão, Ademir
Cândido, esse que foi morar na Suíça, entre muitos outros.
Por falar em exterior, você morou em países como o México e EUA. Chegou a morar na Europa também?
É verdade, morei nos EUA e no México. Nunca morei na Europa, embora eu
tenha feito inúmeros shows por lá, em países como a Alemanha, Itália. Só
na Holanda, viajei sete vezes. Toquei em exatos 40 países. Foram tantos
que a gente nem lembra todos. Tinha vezes que tocava uma noite e, no dia
seguinte, já estava viajando para outro lugar.
Quais músicos internacionais já tocou?
Foram muitos, mas só para citar alguns, cantei com Wynton Marsalis. Ele é
maior trompetista que já vi tocar. Nos conhecemos ainda no Brasil, quando
o jazz ainda era free. Também toquei com Paquito D´Rivera, o “cara” do
saxofone. Eu o chamo de “irmão cubano” (risos). Também foi um grande
prazer tocar com o quarteto do baixista Ron Carter.
Relação com o Dizzy´s Jazz Club
Um lugar fantástico, o celeiro do jazz está todo lá. O Dizzy´s fica no Lincoln Center, um complexo de teatro e artes na cidade de Nova York e foram grandes festivais. Um dos momentos que tive foi quando toquei ao lado de Romero Lubambo em 2010 e fizemos uma hora e meia de show, com dois sets, foi uma grande plateia.
Romero Lubambo estará contigo, mais uma vez, na apresentação do Santos Jazz Festival. Uma grande parceria…
Com todo o respeito aos demais músicos, penso que o Romero é um dos
maiores violonistas com quem já toquei. Ele tem uma maneira de tocar que é
ímpar. Não temos o hábito de ensaiar juntos, a gente se entende só olhando
um para o outro. É de arrepiar.
Gosta de artistas da vertente do jazz contemporâneo, e até da saudosa Amy Winehouse?
Quanto à música, eu só tenho uma exigência: que seja música boa, não importa o gênero. Quanto à essas cantoras, quanto talento! A Amy Winehouse foi uma perda irreparável. Linda, um vozeirão. Outra que não era do gênero, mas adorava era a Cássia Eller. A Whitney também era fantástica, Elis Regina… O que todas tinham em comum? Infelizmente se envolveram com as drogas. Fico indignada. Eu nunca fumei e me droguei. Aos 17 anos, tomei uma cuba libre e foi a minha única experiência. Meu pai simplesmente chegou pra mim na época e perguntou: “Vai beber ou vai cantar”? Eu estava em Copacabana e ia para o Méier para decidir o que eu queria.
Você gosta das novas tecnologias?
Adoro! Não vivo sem o computador, gosto de acessar o YouTube, mas não são todas as redes sociais que frequento. Tenho um Facebook que nunca entro (risos). Quem criou foi meu fotógrafo e até nesses dias, ele me
disse que tem cerca de oito mil pessoas perguntando quando sairá o meu próximo disco, Canciones Del Rey (trabalho esse que consiste em um repertório exclusivo de interpretações das músicas de Roberto Carlos, em língua espanhola).
E quando vai sair?
Estou esperando a resposta de Manaus! Estou com shows fechados lá fora já, com o setlist pronto, para a Alemanha e o México…
Você se apresentou várias vezes em Santos. Quais são as lembranças que tem daqui?
São tantas! Lembro de pessoas incríveis, como o Eduardo Caldeira, não vejo
a hora de revê-lo no Santos Jazz (Festival), a Regina Rodrigues… Costumava muito tocar no Bar da Praia. Não era um ambiente chique, mas o som e a comida eram ótimos! Não lembro exatamente quando foi a última vez que toquei em Santos, mas lembro que foi com o César Camargo Mariano, no
show de lançamento do CD e DVD Ao Vivo (vencedor do Grammy Latino de
Melhor Álbum de MPB).
Seu show no Santos Jazz Festival fecha o evento. Qual a sua expectativa e o que o público pode esperar?
Vou matar as saudades de Santos, uma cidade que tenho muito carinho. Posso adiantar que cantarei Samba de Uma Nota Só, Essa Maré (Ivan Lins), Olha (Roberto e Erasmo Carlos)… Tenho 70 anos, graças à Deus, e
estou com a corda toda. Ainda pretendo fazer muitos shows.
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Jazz
Egberto Gismonti abre o Santos Jazz Festival, no Teatro do Sesc, na terça-feira (18), às 20 horas. Os ingressos devem ser retirados no domingo (16), na bilheteria do Teatro, a partir das 10 horas.

Jazz na praça
A Banda Mantiqueira, com participação da cantora Virgínia Rosa, abre a programação do palco da praça Rui Barbosa, na sexta-feira (21), a partir das 19 horas.
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Umas & outras
Imprudência esportiva
Praticar corrida na avenida da praia ou nas ruas é no mínimo irresponsável. Entendo que não ter de desviar das pessoas, asfalto mais liso, enfim, facilitam a prática esportiva. Entretanto, não justifica. Qualquer manobra inesperada de um carro ou moto pode causar um sério acidente. O trecho de areia dura, mais próxima ao mar, pode ser uma opção bem mais saudável e segura.
10 dias
De 18 a 23 de junho, Santos sediará a segunda edição do Santos Jazz Festival. Um evento que atende ao gosto do público apaixonado pela boa música, seja ela instrumental, vocal, duo, trio, quarteto, banda – o que vale é a qualidade.
10 dias II
O acesso é apra todos – o SJF é totalmente gratuito em todos os espaços. Isso, graças ao patrocínio master da Vale Fertilizantes, via Lei Rouanet, e aos apoios da Prefeitura de Santos, Governo do Estado, Sabesp Baixada Santista e Esags.
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O que vem por aí…
Lançamento
Revista Guaiaó terá lançamento neste sábado (8), no Petit Verdot, à Rua Alexandre Herculano, 79, às 17 horas. Exemplar custa R$ 20,00.
Palestra
Lama Michel Rinpoche é um mestre budista brasileiro pertencente à tradição do budismo tibetano. Como a Espiritualidade pode nos ajudar a lidar com a realidade? é tema da palestra no dia 19 de junho, às 19 horas, no Sindaport, à Rua Júlio Conceição, 91, Vila Mathias, em Santos.
Palestra II
Como desenvolver ideias de maneira criativa, inovadora e condizente com a realidade empresarial? Quem vai responder é o analista de sistemas da IBM Brasil e consultor na área de TIC, José Carlos Alão de Oliveira, durante a palestra Empreendedorismo e Incubadora de Projetos. O evento será na quinta (13), às 20 horas, na unidade Santos da Strong/FGV. As inscrições estão abertas no site da empresa. A entrada são dois quilos de alimentos não perecíveis ou R$ 10,00, que serão destinados a entidades beneficentes da região.
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