![]() |
Diane Arbus e Lionel Sweeney |
O filme trabalha com um lirismo exótico para falar dos
desejos pessoais da fotografa americana Diane Arbus, interpretada pela atriz
Nicole Kidman, considerada uma das mais importantes do século XX por trabalhar
com uma estética fora dos padrões da época e por sentir atração documental por
pessoas e situações que fujam da rotina plástica e abstrata que assola, até
hoje, a publicidade e vida social socialight
da casta burguesa.
O símbolo dessa valorização pelo diferente, de se importar
mais com a pessoa retratada do que com a imagem em si, é totalmente conduzida e
moldada através do papel singelamente trabalhado pelo ator Robert Downey Jr
que, se até pouco tempo teve que se acostumar filmando coberto por uma roupa
que imita o ferro, aqui ele está mais para o primo It da Família Addans, pois
vive um homem que porta uma anomalia genética chamada de tricotomia,
destacando-o do mundo normal.
Notamos essa interferência na vida de Diane logo quando Lionel
Sweeney (Downey Jr) muda-se para o andar de cima do apartamento da família
Arbus, composta, além dela, pelo seu marido e mais duas filhas. A cena inicial
explora tudo o quê precisamos saber para mapear e conduzir, junto à trama, o
desfecho do amor proibido que começa a brotar dentro da, até então, auxiliar de
estúdio fotográfico.
É nela que percebemos o incômodo que Lionel traria à rotina
sem calor, sedução e adrenalina que tanto faltava para Diane, pois é percebendo
o barulho que o novo vizinho fazia ao arrastar seus móveis é que faz a protagonista
sair, por uns instantes, do tremendo teatro armado em sua sala, onde seus pais
apresentam e leiloam suas variadas e valiosas peças: casacos de pele de
diferentes animais selvagens.
Alimentando a vontade de começar a fotografar, Diane busca refúgio
num novo tipo de poesia urbana. Com quadros, muito bem trabalhados pela
composição de objetos infantis, somos levados através dos sonhos e pensamentos
de Diane, que nos mostra que a paixão pela diversidade nasce logo quando
criança, encontrando e admirando um garoto com uma mancha que tampava metade de
seu olho. Logo, é possível perceber a censura imposta pelos pais quando a mãe
lhe tampa os olhos, impedindo que ela continue a venerar aquela criação natural
e fisiológica que tanto diferenciava o garoto de tantos outros.
Aos poucos, Lionel vai adentrando a vida de Diane e mudando
todo o seu comportamento, inclusive o do marido. Isso é exposto logo quando
este último aparece com a barba por fazer. É interessante observar que, neste
caso, o que chama a atenção é usar o prolongamento filiforme da pele como uma
extensão do sentido moral que se perde conforme as pessoas buscam a imagem
higiênica perfeita para o dia a dia. O
marido viu que estava perdendo a esposa para um homem peludo e, sentindo-se
ameaçado, decidiu usar o quê tinha em mãos naquele instante, a barba.
A direção de arte merece aplausos pela construção dos
ambientes internos das casas e escolha dos figurinos. É impressionante que,
quando bem utilizados para compor a linguagem cinematográfica, as técnicas
visuais são de extrema importância para atrair e complementar informações além
do que os personagens podem dizer. As cores dos ambientes e principalmente dos
vestidos usados pela personagem principal e pelo coadjuvante é imprescindível
na hora de figurar as sensações e transformações alcançadas por cada um.
Entre brigas na relação e um mergulho de cabeça numa causa passional
sem saída, o filme conduz o público num jogo de sedução nada convencional,
porém sincera e sentimental, apresentando bons atores e personagens que não se
perdem no meio da história, indicando cada qual com seu peso e valor na
estrutura da narrativa. Um ótimo filme
para conferir e ter numa coleção particular.
Deixe um comentário