Ponte ligando Santos
e Guarujá sai esse ano. A manchete circulou nas redes sociais esta semana. Logo
abaixo do título, vinha a informação: Em entrevista à Rádio local, secretário
de obras garante: É sério, desta vez fica pronta. O assunto é atual, no gargarejo da política.
Mas a manchete é do extinto Jornal da Baixada, datada de 17 de agosto de 1973.
Ainda que seja uma piada, uma brincadeira de Facebook, a manchete simboliza como
a Baixada Santista adora reciclar velhas fantasias.
As histórias da carochinha nascem como placebo contra a
ausência de projetos concretos ou políticas públicas. Os contos de fadas são
pontuais, pois podem ser trocados por outros na semana seguinte. Basta que a
classe política se sinta pressionada em mostrar serviço. Ou melhor, encenar.
Infelizmente, uma parcela da imprensa contribui com a
lenda ao comprar, mastigar, engolir e digerir sem dor as falácias dos
contadores de histórias. A inexistência de crítica auxilia na construção da
imagem da terra que sempre espera pela obra que mudará, definitivamente, seu
destino. É como se muitos jornalistas aceitassem sem pensar e assinassem
embaixo a megalomania dos governantes e seus plantadores de ficção.
Nesta semana, no mundo (ir)real, duas manchetes
representaram a ressurreição de antigos cadáveres. A primeira se referia à
emancipação do distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá. A história renasceu
depois de debates dentro da Câmara Municipal, por conta de um grupo de moradores
que resolveu recolher assinaturas dos eleitores.
Na prática, o que há de concreto, além de conversas de
plenário? Quem são estes moradores? Vicente de Carvalho tem estrutura para ser
cidade? Quanto seria a perda de Guarujá? Na hipótese de se conseguir 20 mil
assinaturas de eleitores, o processo navegaria por um ano na burocracia da
Assembleia Legislativa e na devolução à comunidade local.
Outra história de cavaleiros e dragões é a exploração
comercial do Caminho do Mar, a antiga Estrada Velha. De tempos em tempos, o
Governo do Estado renova esta promessa. Desta vez, jura ter criado uma
comissão. Quem conhece política sabe o quanto uma comissão pode ser sinônima de
andamento paquidérmico de um projeto.
Para sair da inércia, o Governo do Estado contaria com o
suporte da Agência Metropolitana da Baixada Santista, especializada em vender a
imagem de região interligada entre os nove municípios. A interligação que
ocorre em reuniões com café da manhã sofisticado, dança das cadeiras entre
prefeitos e muitos sorrisos. É a benção da metropolização, sem data para a vida
real.
Nos últimos 20 anos, todas as cidades da região tiraram
do armário monstros que prometiam o milagre do desenvolvimento econômico.
Cubatão teria um Ceasa. Guarujá seria sede do aeroporto metropolitano. Praia
Grande também criou sua própria versão da piada aérea. Peruíbe teria um porto à
la Eike Batista. Itanhaém receberia o Parque da Xuxa, garantia de turismo além
do sol e da praia.
De todas essas, a que mais se aproximou da realidade foi
a Ponte Santos-Guarujá, que ganhou uma maquete em meio século. A obra em
miniatura foi inaugurada pelo então candidato à presidência José Serra. Depois
de eleito, Geraldo Alckmin também diplomado no lançamento de projetos
natimortos enterrou a ideia. Talvez estivesse envergonhado, pois até a ficção
e a fantasia têm limites para a crença.
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