
Economia, desemprego e desigualdade serão problemas principais a serem enfrentados pelo próximo mandatário. Foto: Nando Santos
Com a contagem regressiva do atual mandato do prefeito de Santos Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) em dezembro, as atenções para quem serão os candidatos ao Executivo já movimentam os bastidores dos partidos regionais.
Até o momento, apenas quatro postulantes se posicionaram a respeito de concorrerem ao pleito, marcado para 4 de outubro.
O atual vereador de Santos Antônio Carlos Banha (MDB), o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Ivan Sartori. Na última quarta, o PT anunciou o advogado e jornalista Douglas Martins como o pré-candidato da legenda. Além do deputado estadual Kenny Mendes (Progressistas).
Este último, aliás, liderou as pesquisas Enfoque/Boqnews, realizadas em janeiro deste ano. Banha e Sartori também aparecem como opções de votos da população.
Para o cientista político Rafael Moreira, o anúncio do deputado poderá prejudicá-lo com os eleitores, tendo em vista que deverá abdicar do cargo para concorrer ao Executivo santista. Ele indaga, contudo, até que ponto isso irá atrapalhá-lo nesse momento de campanha eleitoral. “A questão é até que ponto uma parte do eleitorado irá relevar isso. Pois muitas vezes, para parte dessas pessoas, isso é retórica”, ressalta.
A exemplo do deputado, o atual governador do Estado de São Paulo João Doria (PSDB), também abriu mão da Prefeitura de São Paulo para concorrer a outro cargo.
Vereador no pário
Já em relação a Banha, o cientista pontua dificuldades e o que será necessário ser feito para se sobressair aos demais candidatos.
Em relação as dificuldades, ele presume que o próprio MDB seja um dos entraves para ganhar o pleito por se tratar de um partido em descenso na região.
A indicação de Banha foi realizada pelo deputado estadual Jorge Caruso, secretário estadual do partido, ao lado do presidente estadual do MDB, o deputado federal Baleia Rossi, que chancelou o nome do vereador.
Moreira acredita, contudo, que por se tratar de um representante que já detém mandato, o necessário a ser feito é mostrar ainda mais trabalho nesse período pré-eleitoral.
Por ainda se tratar de pré-candidaturas, Moreira acredita, porém, que muitas delas podem se tratar de ‘balões de ensaio’. “Elas servem para sentir a força no eleitorado e ver de fato se vale a pena tentar a disputa majoritária”.

Banha é um dos quatro pré-candidatos ao posto de prefeito municipal. Foto: Divulgação
Ano difícil
Com as obras na entrada da Cidade seguindo a todo vapor, o problema de trânsito e enchentes no local deverão ser sanados. Mas a desigualdade social e o desemprego deverão ser pontos debatidos durante a disputa eleitoral, aponta Moreira.
O profissional, porém, afirma que estes problemas são em decorrência da atual conjuntura econômica nacional. “O aumento da desigualdade vem crescendo muito e isso reflete nos centros urbanos com a elevação da quantidade de moradores de rua”, aponta.
Ele espera, neste sentido, que uma solução seja feita pela classe política regional. Em relação ao desemprego, o cientista avalia que este será o maior problema, tendo em vista que não há um sinal de evolução.
No último levantamento, o IBGE divulgou que a taxa de empregos informais atingiu 40,7% no trimestre encerrado em janeiro de 2020. Anteriormente a taxa era de 41,2%, seu maior número desde 2016.
Em contrapartida, o número de desempregados caiu, chegando a 11,2% no trimestre encerrado em janeiro, uma queda de 0,4 ponto percentual em relação ao trimestre anterior (de agosto a outubro de 2019).
“O nível da ocupação, que mede o percentual de pessoas ocupadas em idade de trabalhar manteve-se estável (54,8%) em relação ao trimestre anterior, mas subiu em relação ao mesmo período do ano anterior, quando era estimado em 54,2%”, comenta a analista da PNAD Contínua, Adriana Beringuy.
Novos políticos?
Para o cientista político Fernando Chagas, a eleição municipal apresentará um número elevado de candidatos, podendo ter entre 12 a 14 postulantes ao cargo. Chagas afirma que devido aos nomes testados nas últimas eleições, a disputa deverá ser acirrada, mas com um adendo. Ele vislumbra a possibilidade do candidato indicado pelo prefeito – hoje, o secretário de Governo, Rogério Santos, visto nos bastidores como o preferido do Executivo, consiga ir para o segundo turno.
“Acredito que o candidato do prefeito tem grandes chances de chegar ao segundo turno, em virtude da aprovação positiva da atual Administração pela população”, explica. Contudo, ele não descarta três nomes fortes para o pleito.
Cita o atual deputado estadual Kenny Mendes (Progressista) nessa eleição, que ele mesmo classifica como fenômeno eleitoral, devido as atuações nas redes sociais.
A deputada federal Rosana Valle (PSB) – que ainda não pronunciou sobre o assunto – e o vereador Antônio Carlos Banha (MDB). Mas salienta que para comandar a Cidade nestes próximos quatro anos seria necessário um político já testado no serviço público. Hoje, o nome do ex-prefeito e ex-deputado federal João Paulo Papa (PSDB) também é citado como um eventual nome forte na disputa.
“Esses nomes também são candidatos competitivos e devem ser considerados relevantes numa disputa com muitos pretendentes e bastante acirrada, podendo um desses concorrentes chegar ao segundo turno”, enfatiza.
Economia em xeque
De acordo com dados do IBGE, o Brasil mostrou pouca evolução econômica trimestral entre 2008 e 2018. Nesse período, o pico ocorreu no terceiro e quarto trimestres de 2010, com alta de 7,5%. Por sua vez, as maiores quedas foram registradas no 2º trimestre de 2016, chegando a – 4,6%.
No terceiro trimestre de 2019, o crescimento foi de 1%, apontam os dados.
Este crescimento quase nulo ainda se reflete em Santos.
Os números do SEADE – Fundação Sistema Estadual, mostram que a Cidade reduziu a participação na produção de serviços no PIB do Estado de São Paulo.
Houve uma queda de 1,7% em 2002 para 1,3% em 2016. No entanto, para voltar a ter uma boa evolução na economia local, é necessário se fazer alguns projetos visando a melhora regional.
Para a economista Célia Rodrigues Ribeiro, atrair novos investimentos demandam bons projetos, mas para isso, necessitam estudos de viabilidade.
Favorável a parcerias com universidades locais e com o setor privado, Célia afirma que não é possível ‘tirar coelhos da cartola’. Ela aponta que “iniciativas como o Inova Baixada Santista são muito bem-vindas, mas é preciso, contudo, um engajamento maior”.
A pesquisa recente da FIRJAN – Índice de Gestão Fiscal de 2019, elencou os principais problemas enfrentados pelas gestões municipais.
Segundo a pesquisa, os gastos com pessoal, autonomia, liquidez e investimentos são os problemas mais críticos que afligem a maioria das cidades.
A pesquisa aponta que os gastos com pessoal atingem mais de 50% dos municípios brasileiros, o que se torna uma das maiores dificuldades para haver redução de gastos, conforme dito pela economista.
Coisa está feia
O Tribunal de Contas do Estado divulgou recente estudo que aponta que uma em cada quatro prefeituras ultrapassaram os gastos com pessoal.
Em relação a autonomia, a pesquisa pontua que cerca de 2 mil cidades não possuem capacidade para gerar recursos necessários para suprir a demanda local.
“Acredito que Santos possa gerar seus próprios recursos se houver mais investimentos e se a economia se recuperar mais rapidamente (o que parece um cenário ainda nebuloso quanto à velocidade da recuperação econômica)”, afirma.
Por sua vez, em relação a liquidez e aos investimentos, a FIRJAN afirma que metade dos municípios não consegue pagar seus fornecedores e nem manter recursos exorbitantes para a realização de investimentos necessários.
“Em resumo, o nível de investimentos é crítico na maioria dos municípios”, atesta o estudo