Desde fevereiro, o Conselho desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista (Condesb), tem uma nova presidente. Raquel Chini, prefeita da cidade de Praia Grande foi eleita e assumiu o lugar de Rogério Santos.
Vale destacar que o mandato do Condesb é de um ano.
Em entrevista, Raquel Chini detalhou os planos e desafios para a Baixada Santista, confira.
Boqnews – O que esperar do seu mandato no Condesb?
Raquel Chini – A intenção é continuar os projetos, fortalecendo a agência e a região metropolitana.
Não adianta a gente querer fazer um trabalho metropolitano, se não tiver braço e a nossa agência estiver desmontada.
Estou falando com o Governo do Estado para reativar a agência da forma que era antigamente e continuar com o projeto de mobilidade urbana, o projeto que nós estamos desenvolvendo de habitação e reunir os prefeitos para nós tentarmos levar para os futuros candidatos ao Palácio dos Bandeirantes as demandas da nossa região, para que eles incorporem aos planos de governo deles. Se não, a gente sempre vai ficar fora da jogada.
Boqnews – A senhora falou em projetos, quais estão em andamento?
Raquel Chini – Nós estamos em andamento com o projeto de mobilidade regional. Isso iniciou em 2013 e a gente vem caminhando. Conseguimos uma parceria com uma agência francesa que está bem adiantado, com pesquisas sobre o destino das bicicletas e dos ônibus.
Foram extraídas informações preciosas das empresas de ônibus, então vai melhorar bastante a mobilidade, a gente conhecendo todo esse movimento que tem da região sul para Santos.
O trabalho vem avançando, mas ainda está faltando braço dentro da agência.
Nesta semana, eu vou ter uma reunião com o pessoal da agência para que eu leve isso para o Estado.
Em relação, a habitação, nós estamos passando todo processo que nós desenvolvemos em Praia Grande de congelamento de área de invasão para a região, trocando essa experiência, por meio da câmara temática.
Em termos de resíduos, é importante a gente tocar o projeto de resíduos do Sítio das Neves (Área Continental de Santos), pois vai ter uma hora que o espaço não terá mais condição de receber o lixo da região.
Boqnews – Falando em mobilidade, a intenção é oferecer mais linhas de ônibus para a Baixada Santista e avançar na questão do VLT?
Raquel Chini – Nós precisamos convencer os governantes dos problemas da região metropolitana, então é fundamental ampliar a ligação do VLT de São Vicente/Praia Grande e fazer um BRT para o litoral sul, deixando o caminho aberto para um futuro VLT.
Outro ponto é a questão da ligação seca entre Santos e Guarujá. Podemos ter o túnel e a ponte. É bom ter os dois. Mas em termos de mobilidade, o túnel seria uma opção melhor, além da ligação com Bertioga.
Então precisamos ter este traçado entre as nove cidades.
Boqnews – Qual é o principal desafio do Condesb para os próximos anos?
Raquel Chini – É fortalecer a relação dos nove municípios. É importante que a gente tenha essa visão metropolitana, porque muitos problemas que acontecem na minha cidade, por exemplo, são decorrentes da falta de alguns serviços de outros municípios.
Então, às vezes, a gente fica reivindicando tudo para gente e na verdade, nós também precisamos fortalecer o vizinho.
Trazendo um hospital, por exemplo, para São Vicente, o serviço ficará melhor para todos. Mas isso, depende de nove pessoas conversarem. Este é o grande desafio.
Boqnews – Qual é o maior problema da região da Baixada Santista?
Raquel Chini – Eu enxergo que hoje o transporte é um grande problema não só na Baixada Santista, mas como no País inteiro, porque o transporte sofreu muito com a pandemia. Muitas empresas fecharam diante na diminuição de passageiros. Tudo isso impacta diretamente no funcionamento do transporte público.
Fica algo caro, não dá para passar todo esse custo para o usuário e você não tem qualquer linha de aporte financeiro de recursos do Governo Federal, até porque o transporte é um direito social presente na Constituição.
Estamos lutando numa PEC na Câmara do Deputados para haver um recurso pelo menos para os idosos, que é uma gratuidade instituída pela Constituição.
Se isso acontecer, já vai dar um fôlego para cada cidade melhorar o transporte. Hoje quem mais precisa do ônibus está sofrendo.
Boqnews – Como avançar na questão de empregos na região?
Raquel Chini – Temos que dar infraestrutura na região para as empresas conseguirem movimentar o seu negócio.
A intenção é atrair os empresários e assim teremos um mercado de trabalho fortalecido.
O Complexo Andaraguá que está na fase inicial é um empreendimento que vai despertar uma nova logística para toda a região.
Boqnews – O turismo é um ponto chave para a Baixada Santista. Quais são suas perspectivas para este setor?
Raquel Chini – Temos que qualificar nossa mão de obra e unir os nove municípios para essa grande discussão do selo metropolitano que acabou saindo, porém ainda não foi regulamentado.
É preciso mais diálogo para determinar as regras que deverão ser cumpridas.
Precisamos ter uma decisão de todos os prefeitos, para a gente poder caminhar neste sentido de trazer grandes eventos sem trazer prejuízos de mobilidade para a nossa população.
Boqnews – Esta semana foi comemorado o Dia Internacional das Mulheres. Assim, o que representa uma mulher na liderança do Condesb?
Raquel Chini – É sempre um degrau a mais que subimos. Eu sou formada há 40 anos em Engenharia Civil, uma profissão com visão masculina para a época e as pessoas olhavam e ainda olham com um certo preconceito.
Eu li uns comentários machistas nesta semana no linkedin. Então, é algo difícil que as mulheres ainda passam, especialmente quando você ocupa posições em obras ou no transporte.
As mulheres têm trabalho, competência, comprometimento. Nada cai do céu.
Ser prefeita de Praia Grande e presidente do Condesb é um orgulho muito grande. Espero ter sucesso em ambas empreitadas.
Boqnews – Falando agora de Praia Grande, uma das grandes polêmicas no início do ano foi a queima de fogos e a flexibilização de shows, porém não houve um grande impacto nas alas de Covid no hospital, o que explica este fator?
Raquel Chini – Nosso show de verão foi composto por um grande espaço, onde concentrava os maiores eventos.
Além disso, tivemos mais 10 arenas na praia, cada uma com temática diferente e diversas atividades, com realizações de shows de bandas locais. Assim, fizemos ao longo de janeiro, mais de 500 apresentações com artistas locais, então foi a oportunidade de trabalho para essas pessoas.
Os shows movimentaram cerca de 17 mil pessoas, isso gerou um impacto positivo na economia. Neste período, Praia Grande teve o menor aumento no número de casos da região, então caiu por terra aquilo que colocaram entre os eventos e a pandemia. Nós tivemos mais de 90 pessoas envolvidas só no controle de entrada destes shows, não entrava sem o comprovante de vacinação.
Então, eu acredito que funcionou, foi uma decisão tomada junto com a Câmara Municipal e a Associação Comercial. O comércio local teve um aumento de 20% neste período.
Boqnews – Qual sua análise neste período como prefeita de Praia Grande?
Raquel Chini – Foi uma experiência diferente porque eu não nunca tive a pretensão de concorrer a um cargo eletivo.
Quando fui convidada a participar do pleito, foi difícil no começo, pois eu sai de algo totalmente técnico para sair para falar com as pessoas na rua.
Entrar na prefeitura e substituir o Mourão (Alberto Mourão – ex-prefeito) já conhecendo o trabalho dele, todo o planejamento que nós fizemos neste período de governo, foi continuar os projetos.
Como minha bagagem é muito grande na parte administrativa, eu tenho facilidade e a equipe é a mesma. Então é cumprir o plano de governo, já cumprimos mais de 30% naquilo que nós nos comprometemos em fazer e os projetos vem andando, apesar da pandemia, inclusive abrimos 30 leitos de UTI no ano passado durante o pico de internações.
A gente vem caminhando de forma muito positiva e vamos fazer além do que está no plano de governo. Aliás, tem sido excelente o contato com a população. A gente recebe as pessoas quase todos os dias.
Boqnews – A senhora vai continuar no PSDB, já que o ex-prefeito Alberto Mourão se filiou ao MDB?
Raquel Chini – Eu tenho mais dois anos e 10 meses de governo. Estou no PSDB, tenho um relacionamento bom no partido, não tenho pretensão de sair a não ser que o Mourão precise de mim e fale comigo.
O meu líder político é o Mourão, isso já falei para o governador e o vice. Neste momento, ainda não conversamos, mas eu entendo que neste momento é importante eu ficar no PSDB.
Boqnews – Há algo que a senhora gostaria de pontuar?
Raquel Chini – É importante pontuar uma reflexão para a região. A gente mergulha no trabalho e não adianta ficar carimbando folhas todos os dias. Se você não separar um dia na semana para pensar na região metropolitana, a gente não vai conseguir discutir os planos para as cidades.