Na retaguarda de um aluno promissor e vencedor, há um mestre que, se não ensinou tudo que seu pupilo sabe, deu a rede e o ensinou a pescar. No esporte, esse paradigma é ainda mais verdadeiro, independente da modalidade. Se ela é individual, a importância do treinador é até maior, haja vista o carinho do tenista Gustavo Kuerten com Larri Passos, seu mentor. É o mestre que ganhou destaque nesta última semana atende pelo nome de Márcio Latuf (foto), técnico de natação da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
Em Santos desde 1987, vindo do tradicional Esporte Clube Pinheiros, Latuf é o treinador da maratonista aquática Ana Marcela Cunha, que retornou nesta semana do Mundial de Esportes Aquáticos de Xangai (China) como a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro na competição (25 quilômetros), poucos dias após por três segundos e uma posição, ficar fora dos Jogos Olímpicos de Londres (era preciso estar entre os 10 primeiros da prova de 10 quilômetros).
Um cenário que necessitou da intervenção do técnico da nadadora baiana (foto) de 19 anos — que está na Cidade desde os 14 e sempre foi treinada por Latuf. “Naquele dia, eu saí para andar e conversei com ela sobre o que é a vida e o esporte. Busquei mostrar para ela que esse Mundial, que não está bom para ela, poderia se tornar um ponto máximo. Que ela ainda é nova e ainda teria mais duas provas. E em poucas horas, ela voltou ao normal, treinou forte e conseguiu a medalha de ouro na última prova”, recorda.
Voz da experiência
A voz de Latuf não deixa de ser a da experiência. Está ligado profissionalmente às águas desde 1979. Passou por Recreativa de Ribeirão Preto, Botucatu e Pinheiros, até chegar na Unisanta. “Recebi um convite para que fizéssemos um trabalho que levantasse a natação de Santos e colocasse entre as melhores do País. Em 1999, conquistamos o Campeonato Brasileiro Juvenil. E estou aí até hoje”, conta o treinador, que já teve como pupilos os campeões brasileiros Lúcia Roseane dos Santos e Hugo Duppre, além da medalhista pan-americana Monique Ferreira.
Além de comandar os atletas de alto rendimento, Latuf também trabalha com jovens. E em um ambiente esportivo dominado essencialmente pelo futebol, onde outras modalidades, mesmo as mais tradicionais, lutam por um maior espaço, o treinador reconhece que formar novos “Cielos” ou “Anas Marcelas” passa por um processo de contato constante da garotada com a água.
“Procuramos mostrar para o atleta que a natação é primeiramente um esporte saudável. Além disso, a ideia é levar e incentivar a participação em torneios paulistas e até brasileiros. Penso que a motivação para esses meninos e meninas é estar presente nesses eventos, vendo que os profissionais que estão com ele são interessados no que fazem”, considera.
E esse trabalho em Santos levou Márcio Latuf à seleção brasileira. Está na comissão permanente há oito anos. Mas não gosta de referir-se ao seu trabalho como particular. “Cheguei à seleção graças a um trabalho que é feito em conjunto com outros profissionais. No começo, eu era o único técnico para todas as categorias. Hoje, temos profissionais específicos para cada nível.”, destaca.
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