Com o final de semana livre — a partida contra o Botafogo, marcada inicialmente para este domingo (4), foi adiada para data ainda não determinada pela CBF devido à convocação de três jogadores para a Seleção Brasileira —, o Santos terá a possibilidade de refletir. Não só para ter um segundo turno mais tranquilo no Campeonato Brasileiro — e, dependendo do embalo, até entrar na luta pelo título — mas principalmente para sanar problemas que podem comprometer o objetivo máximo da temporada: o terceiro título mundial de clubes no final do ano.
Quem “cantou” os defeitos foi o próprio técnico Muricy Ramalho, após o alucinante empate em 3 a 3 com o Internacional, no Beira-Rio, na última quarta-feira (31). O primeiro deles é a manutenção da posse de bola. “A gente é muito rápido, pega a bola e vai para cima toda hora. Precisa aprender a trabalhar um pouco mais”, analisou Muricy, em entrevista coletiva.
E de fato, além de ter ficado menos tempo com a bola no pé diante do Colorado (47%, contra 53% do Inter), o Peixe também errou mais passes (24) que o rival (20) ao longo da partida. Mais: ao longo do Brasileirão, conforme estatísticas do portal Terra, a média de posse de bola do Santos não chega a 50% (exatos 49,45%), apenas a 12ª dentre os 20 times do campeonato.
Mas nem sempre posse de bola ganha jogo podem alegar alguns torcedores. Realmente, o futebol não é uma ciência exata, como diz o ditado. Contudo, dos dez primeiros colocados do Brasileirão, oito estão no Top 10 dos que mais administram a redonda. O Flamengo detém os maiores índices (53,21%), seguido de Palmeiras (53,04%) e do Corinthians (52,66%). As exceções são o vice-líder Vasco (47,65%) e o Atlético-GO, 9º colocado (48,69%). Mas mesmo os números rubro-negros não chegam perto ao clube que poderá decidir o Mundial com o Santos, em dezembro. Fala-se do Barcelona.
Ponto forte
O maior ponto forte dos culés é justamente a manutenção da redonda no pé. Na temporada passada do Campeonato Espanhol, na vitória por 1 a 0 sobre o Real Zaragoza, os comandados de Pep Guardiola detiveram o incrível índice de 80,36% da posse de bola. Na competição, a média dessa porcentagem superou os 70%. Mesmo na Liga dos Campeões, eles mantiveram uma média de 68% de domínio da redonda durante as 15 partidas disputadas até a decisão, contra o Manchester United.
Os catalãos fazem uso de um estilo apelidado de tiki-taka (tique-taque), que valoriza o toque de bola e a posse da mesma, sempre jogando em direção ao gol. Um padrão de jogo ensinado desde as canteras blaugranas, e ao qual todos na equipe de Guardiola têm conhecimento, dos mais jovens, como Thiago Alcântara, aos mais badalados, como Xavi, Andrés Iniesta e Lionel Messi.
Xavi e Lionel Messi são dois dos símbolos dos toques rápidos e da posse de bola do Barcelona |
Não que o Santos tenha que se aprimorar a ponto de igualar os índices de posse de bola do Barça — até porque, como mostram os números dos demais times brasileiros, esta não tem sido uma característica do futebol nacional — mas evidenciam uma luz além da correria que não necessariamente mudaria o DNA ofensivo da equipe. Afinal, o Barcelona toca a bola, vai “para cima” e continua empilhando gols em seus rivais.
Bola aérea
Não é só a posse de bola que preocupa Muricy Ramalho. Na mesma coletiva, o treinador santista considerou a bola aérea defensiva um problema delicado, especialmente pela estatura dos jogadores. “Nós temos dificuldade na bola alta porque nosso time é baixo”, resumiu. E os gols sofridos diante do Inter mostraram isso e mais um pouco. No primeiro, marcado por Índio, o zagueiro e capitão do Inter subiu sozinho. A falha acabou se consumando não só pela (de fato) baixa estatura do sistema defensivo, mas pela liberdade dada ao jogador rival, que subiu sem ninguém acompanhá-lo.
O segundo gol ratificou o temor de Muricy com a altura dos defensores. Pará, que acabou tendo que cuidar do perigoso e alto Leandro Damião dentro da área, acabou perdendo a disputa por cima e no corpo. O próprio goleiro Rafael, bastante regular e responsável por defesas decisivas pelo Peixe, ainda não encontrou o tempo certo para sair do gol nesse tipo de lance. Nos dois tentos colorados, o camisa 1 ficou parado na área.
Aliás, a preocupação com a bola aérea vem desde a época da Libertadores. Para o confronto decisivo diante do Cerro Porteño, no Paraguai, o treinador do Santos já havia declarado preocupação com a jogada, ao mesmo tempo o ponto forte dos paraguaios e o ponto fraco dos santistas. Outra dor de cabeça que Muricy terá um final de semana a mais para tratar.