Causa estupefação a atitude da AGU – Advocacia Geral da União, ao se manifestar nas ações em curso pelo STF, envolvendo a dramática situação ambiental brasileira.
Depois do desmanche das estruturas de tutela ecológica lentamente edificadas durante décadas, emitiu-se um verdadeiro convite para que garimpeiros, grileiros, invasores, dendroclastas e outros criminosos se assenhoreassem de todos os biomas pátrios.
O que significou expressivos e lamentáveis recordes de desmatamento, de invasão de demarcações indígenas, de continuidade na sanha do genocídio iniciada no século XVI, mas agora com o beneplácito do governo.
É óbvio que o retorno de Marina da Silva a um Ministério do Meio Ambiente esfacelado é uma boa notícia, com repercussão internacional.
Mas isso não representa imediata cessação do desastre estimulado.
A prova mais evidente é que em fevereiro, segundo mês da nova gestão, os índices de destruição da Amazônia bateram novos rankings.
Por isso, não é suficiente dizer nos processos que precisam apurar responsabilidades e exigir reparação, que “o estado de coisas inconstitucional já cessou”.
Os estragos foram grandes e gravíssimos.
Não se pode sequer avaliar qual o tempo necessário para uma eventual regeneração da área devastada.
Como sempre tenho dito, qual mantra de um pregador no deserto, que é fácil cortar uma árvore.
Basta uma motosserra.
Também é fácil acionar dois tratores com correntões que derrubam um conjunto grande de árvores milenares, fabricando desertos.
O difícil é “fazer uma árvore”.
Quem consegue essa façanha?
É preciso preparar o terreno, encontrar a semente certa, semeá-la, acompanhar sua germinação, impedir que intempéries ou formigas acabem com ela, permanecer atento ao seu crescimento, que superará a duração da vida humana.
Imbecil este animal chamado homem: ele vive algumas décadas e se propõe, durante esse período, a eliminar espécies vivas que duram muitas vezes mais do que a sua miserável existência temporal neste planeta.
A sociedade precisa estar atenta, porque o Ministério Público, que em alguns casos é o único defensor da natureza, nem sempre se comporta assim.
Não se pode dizer que cessou o estado de coisas inconstitucional e desumano que se instaurou no Brasil no último quatriênio.
A situação só piorou, por enquanto. MP e amigos da natureza não podem fraquejar.
José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras.
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