Sancionada recentemente, a lei que cria o programa “Pé de Meia”, para criação de uma poupança financeira a estudantes de baixa renda que cursam o ensino médio na rede pública, é uma medida louvável visando estimular a permanência de adolescentes na escola e a conclusão do curso.
A iniciativa vem em boa hora.
Isso porque, a medida em que o País estimula a expansão de setores produtivos nos segmentos industriais e de serviços, cria-se um quadro contraditório: maior oferta de empregos e ausência de profissionais qualificados para o preenchimento das vagas oferecidas.
As razões para essa dicotomia há muito estão evidenciadas pela deficiência latente do sistema educacional brasileiro, que hoje revela uma face ainda mais preocupante, a ausência de professores com competência e disposição para forjar gerações melhor preparadas para as exigências atuais e futuras.
Diversos indicadores não deixam dúvidas de que décadas de negligência governamental, salários baixos e condições de trabalho inadequadas afastaram da docência a maioria das pessoas com os melhores desempenhos enquanto estudantes.
A procura por cursos de formação pedagógica e licenciatura há muito vem sendo reduzida e deverá ocasionar reflexos ainda mais prejudiciais em um futuro breve.
Os danos maiores gerados pelo moto-contínuo da ignorância tem provocado consequências mais sérias no ensino médio, onde a complexidade dos conteúdos exige profissionais com formações específicas e aprofundadas.
Sem opção, as escolas não conseguem preencher quadros docentes, deixando salas vazias ou obrigando professores de uma área a improvisar em outras para as quais não têm formação adequada.
Recentes levantamentos mostram também como os jovens brasileiros se formam com conhecimentos irrisórios, revelando não estarem plenamente alfabetizados.
Isso contraria a expectativa de que, aos 18 anos, e tendo frequentado a escola durante a infância e a adolescência, eles pelo menos soubessem ler e entender textos longos.
Da mesma forma, uma pequena parcela desses jovens fazem opção pelo ensino técnico profissionalizante, criando dificuldades para o preenchimento do quadro de funcionários de grandes empresas.
O momento, portanto, obriga maior atenção ao ensino de base.
As deficiências apontadas têm exigido das instituições de nível técnico e superior a necessidade de recuperar conteúdos mínimos, dedicando espaços preciosos reservados à pesquisa e à formação profissional para a revisão de matérias.
Sem a reversão deste quadro caótico será impossível construir uma sociedade alicerçada em conceitos mínimos eficiência e de cidadania.

Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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