A crise diplomática deflagrada a partir da fala do presidente Lula, comparando as ações de guerra promovidas por Israel na faixa de Gaza ao Holocausto que resultou no genocídio de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, ganhou repercussão mundial e serviu para ampliar o debate sobre a trágica realidade que atualmente afeta aquela região do Oriente Médio.
Mesmo que equivocada, insensível e desproporcional, a comparação de Lula assumiu tom de provocação e jogou luz sobre os excessos e atrocidades de uma guerra que está vitimando milhares de civis, incluindo mulheres e crianças.
Inegavelmente não há como desconsiderar o soberano direito à defesa de Israel diante dos ataques terroristas realizados pelo Hamas, porém há também de se considerar que o legítimo desejo de proteção do povo judeu não dá direito a ações guiadas por sentimentos de vingança contra todos os palestinos, repetindo as mesmas injustiças, atrocidades e crueldades das quais foram vítimas.
Lula errou grotescamente na forma, mas acertou no conteúdo ao ressaltar a necessidade de se buscar caminhos que permitam a criação de canais de diálogo em busca da paz e de alternativas para dar sequência à luta contra o terrorismo e à preservação de vidas inocentes.
Se, por um lado, o presidente brasileiro age com correção ao se valer do cargo para defender a posição do Brasil em favor de causas humanitárias no cenário internacional, por outro se revela contraditório em manter silêncio em relação aos conflitos sangrentos que hoje ocorrem em nações africanas e na guerra iniciada pela invasão da Rússia na Ucrânia.
Da mesma forma, sua omissão e condescendência pacífica com ditaduras opressoras, como as da Venezuela, Nicarágua, Cuba, Rússia e China, reduzem a credibilidade de seus discursos e lançam muitas dúvidas sobre o seu verdadeiro propósito humanista nas relações internacionais, dificultando o aceite às pretensões brasileiras de ampliar a representatividade e participação dos países emergentes na governança global, especialmente a partir da realização de uma profunda reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Mais do que gerar ressentimentos e conflitos diplomáticos, o episódio protagonizado pelo presidente brasileiro, descontada a retórica infeliz e inapropriada, deveria servir como ponto de partida para a busca de soluções definitivas visando estabelecer o convívio pacífico e harmonioso naquela região. Somente com a delimitação, e o devido reconhecimento, do pleno direito de existência dos estados israelense e palestino será possível alcançar a paz que todos desejam.

Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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