Em 2015, o jornal A Tribuna de Santos publicou matéria sobre um estudo que apontava que a Ponta da Praia ficaria inundada, em função de uma elevação do nível do mar estimada entre 45 e 80 cm, até 2100.
Nada relevante foi comentado sobre outros bairros da orla.
É verdade que, ao menos desde 2005, a orla da Ponta da Praia sofre as consequências de ressacas.
Mas, por que a Ponta da Praia seria mais susceptível a inundações do que outros bairros da orla?
Esse bairro foi urbanizado no final dos anos de 1960, o último praiano. A obra incluiu a construção do Canal 7.
Várias vezes ouvi falar que a Ponta da Praia tinha nível cerca de 2 metros mais alto do que os demais bairros costeiros.
Moro ali desde 1990 e confesso que nunca vi uma enchente em suas vias, ou o Canal 7 transbordar, mesmo com maré alta e ressaca.
A única exceção, que me lembre, é a Rua Afonso Celso de Paula Lima que, dependendo do nível do mar, mesmo sem chuva ou ressaca, apresenta uma lâmina d’água, em razão de refluxo pela rede de drenagem.
Lembram da aula de Física sobre “vasos comunicantes” (equilíbrio hidrostático)?
Em contrapartida, isso é recorrente em trechos dos Canais 1 e 3.
Ruas como da Paz, Pindorama e Lincoln Feliciano, no Boqueirão, ficam inundadas, até intransitáveis, apenas em função do nível da maré.
Obviamente, com as ressacas, chuvas intensas e prolongadas, a situação se agrava.
A Rua Januário dos Santos, no Aparecida, e a R. Goytacazes, no Gonzaga, foram alteadas para reduzir o efeito do refluxo de água do mar pelo sistema de drenagem.
Aquele estudo de 2015 nada mencionava de relevante sobre essas áreas.
Aí, o jornal O Estado de São Paulo publicou, em 16/06/2024, matéria sobre estudo que prevê, novamente, a Ponta da Praia inundada, caso o aquecimento global aumente 1,5⁰C, e que se for de 3⁰C,
todas as praias e parte da área urbana também ficarão sob a água.
Mais uma vez, a Ponta da Praia seria a primeira “vítima”.
Resolvi pesquisar sobre o assunto, buscando cotas de áreas urbanas em relação ao nível médio do mar, ao longo das avenidas da orla.
A fonte considerada indicou que em frente aos Canais 1 e 2, a cota é +2,31 m.
Frente à Av. Ana Costa, é +2,11 m (já ocorreram inundações naquela região).
Frente ao Canal 3, é +2,34 m (considerando as enchentes que ocorrem nas ruas Pindorama, da Paz e Lincoln Feliciano, nelas as cotas devem ser bem inferiores).
Frente à Rua Oswaldo Cruz, a cota é +1,54 m, e não consta que haja inundação por ali.
Chegando na Ponta da Praia, foram encontrados pontos baixos, com cotas +1,86 m e +1,63 m, nas Ruas Afonso Celso e Paula Lima (que inunda com maré muito alta) e na confluência das avenidas Rei Alberto I com Epitácio Pessoa, respectivamente.
É importante salientar que essas cotas são pontuais, e que esses dados são anteriores às obras realizadas ao longo da Av. Saldanha da Gama, que altearam cerca de 70 cm o lado de mar dessa via.
No entanto, a cota na confluência das avenidas Rei Alberto I com General San Martín (Canal 7) sobe para +4,21 m. Eu seu em torno, há cotas superiores a +3,00 m.
Isso confirma, mesmo que parcialmente, que a Ponta da Praia é mais alta do que os demais bairros da orla.
Então, será que ela é tão mais vulnerável do que os outros?
Bem, nas duas matérias vale o alerta em âmbito geral, válido para todas as cidades costeiras do mundo, onde se concentra a maior parte da população, além de equipamentos fundamentais para a economia dos países.
No nosso caso, não está descartada, no longo prazo, a necessidade de um sistema de bombeamento que evite ou mitigue inundações. Essa solução é adotada nos Países Baixos há séculos.
Aliás, a Zona Noroeste já dispõe desse sistema, em fase de ampliação.
O importante é planejar e agir para prevenir potenciais impactos negativos, também lembrando que certas informações devem ser divulgadas com certo zelo.

Adilson Luiz Gonçalves é escritor,engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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