Vou ao supermercado e me deparo com um carrinho atravessado no corredor.
Está cheio de compras, mas não há qualquer pessoa o conduzindo.
Sou obrigado a empurrar esse carrinho ou então dar meia volta e tentar utilizar outro corredor.
Caminho pela praia e vejo um casal jogando tamboréu, mas eles não estão jogando paralelamente à água, e sim perpendicularmente.
Portanto, todos os caminhantes devem desviar deles para não atrapalhar o seu jogo.
Ando pelas calçadas da cidade e me deparo com uma roda de pessoas conversando alegremente, ocupando toda a largura da calçada.
Sou obrigado a descer para a rua para poder continuar o meu caminho.
Decido subir a Imigrantes para ir até São Paulo e me deparo com um veículo subindo pela faixa mais à esquerda da rodovia, mas a uma velocidade de cerca de 50 km/h.
O que devo fazer? Dar um pequeno sinal de luz correndo o risco de levar um dedo em riste? Ultrapassá-lo pelo lado direito correndo o risco de levar uma multa? Ou me resignar e subir a serra na velocidade escolhida pelo meu colega de estrada, correndo o risco de chegar atrasado ao meu compromisso?
Com certeza qualquer um de nós poderia complementar essa lista com muitos outros exemplos.
No entanto, a pergunta que deveríamos fazer é: o que aconteceu com a empatia?
Não me venham dizer que “é coisa dessa juventude”, pois tenho percebido que os exemplos citados acima, que se repetem regularmente, abrangem todas as faixas etárias.
Eu me pergunto: será que sempre foi assim? Não, definitivamente nem sempre foi assim. E quais seriam, então, as causas desse fenômeno?
Vamos lá…
O problema começa com o déficit na educação familiar. Os pais e outros membros da família atuam como modelos comportamentais para as crianças.
Quando os adultos demonstram empatia em suas interações cotidianas, as crianças aprendem a valorizar e praticar a empatia.
As famílias deveriam, portanto, transmitir valores e normas que moldem as atitudes em relação aos outros.
Valores como respeito, solidariedade, justiça e cooperação incentivam as crianças a desenvolverem empatia e comportamentos pró-sociais.
E por que será que os pais não têm feito isso durante as últimas gerações?
Acontece que a educação formal, aquela das escolas, está tão deteriorada que deixou de desempenhar um dos seus papéis cruciais: o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cognitivas.
A educação debilitada, ou seja, inadequada, desigual e de baixa qualidade, tem impactos negativos significativos sobre a capacidade dos indivíduos de compreender e compartilhar os sentimentos dos outros.
Nos países altamente civilizados, a educação não é focada apenas no conhecimento acadêmico, mas também em habilidades socioemocionais.
Esses programas ensinam habilidades como autoconsciência, gestão de relacionamentos e, obviamente, a empatia propriamente dita.
Professores e educadores, assim como os pais, deveriam desempenhar um papel fundamental na modelagem de comportamentos empáticos.
No entanto, no nosso sistema educacional debilitado, os pais se tornam cada vez mais ausentes e os educadores são sobrecarregados, mal pagos e não treinados para lidar com questões socioemocionais.
Portanto, para combater a falta de empatia, é crucial investir em uma educação holística e inclusiva que valorize tanto o desenvolvimento acadêmico quanto o emocional e social.
Além da modernização dos programas educacionais, é necessária a retomada de ambientes escolares saudáveis e inclusivos, bem como a formação contínua de educadores para que possam servir como modelos positivos de empatia.
Uma sociedade mais empática começa com uma educação que valoriza e promove a compreensão e a compaixão desde cedo.
William Horstmann é engenheiro, ex-executivo e consultor
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