Estudo apresenta resíduos plásticos nas praias da Baixada Santista e do Brasil | Boqnews
Foto: Sea Shepherd Brasil

meio ambiente

27 DE SETEMBRO DE 2024

Siga-nos no Google Notícias!

Estudo apresenta resíduos plásticos nas praias da Baixada Santista e do Brasil

Especialistas comentam sobre os impactos e como evitar a contaminação

Por: vinícius dantas
Da Redação

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Um recente estudo da ONG Sea Shepherd Brasil, em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e patrocinada pela Odontoprev, apresentou os resultados da Expedição Ondas Limpas, o maior estudo já realizado sobre o perfil dos resíduos marinhos no Brasil.

Portanto, após 16 meses de expedição, passando por 201 cidades (306 praias), o estudo registrou a presença do plástico ao longo de todo o litoral do país. Assim como, no total das praias, 100% delas possuem resíduos plásticos e foram encontrados microplásticos em 97%.

A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP – Programa das Nações para o Meio Ambiente para a coleta de dados.

Desse modo, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. Um relatório resumido, com diagnósticos e propostas de soluções, já está disponível no site www.seasheperd.org.br

 

Baixada Santista

As cidades da região mais afetadas foram São Vicente e Mongaguá. Em São Vicente, foram encontrados 10 resíduos por metro quadrado nas praias. Em Mongaguá, foram identificados 2,78 resíduos por metro quadrado nas praias e 83 fragmentos de microplástico por metro quadrado (m2). Já em Santos, 29,50 fragmentos de microplásticos/m2 foram encontrados e 0,29 resíduos/m2. Praia Grande registrou 10,83 microplásticos e 0,56 resíduos também por m2.

No Guarujá, foram 0,44 resíduos e 11 microplásticos/m2. Em Itanhaém, foram 1,37 resíduos e 7,50 microplásticos/m2. Em Bertioga, foram 0,35 resíduos e 6,28 microplásticos/m2. E Peruíbe tiveram 1,16 resíduos e 13 microplásticos/m2.

 

Pesquisa

Segundo a presidente da Sea Sheperd Brasil, Nathalie Gil, os plásticos mais encontrados na pesquisa foram de pedaços duros, fragmentos que não se podem mensurar da origem do produto. “O que mais encontramos identificável, que reconhecemos de onde veio, é a bituca de cigarro, mais presente nas praias em relação ao plástico”.

Ela aborda que a pesquisa não inclui comparação com dados de anos anteriores. Esse é o primeiro ciclo e o objetivo é ter mais resultados. Portanto, exatamente para analisar essa linha ao longo do tempo para identificar se o cenário está melhorando ou piorando.

 

Riscos

Sobre as formas de como a poluição afeta a fauna marinha e os ecossistemas costeiros, ela cita que no primeiro caso é quando o plástico ou algo que permite que o animal se prenda nele pode ocasionar um enforcamento ou até o animal crescendo após ter engolido um plástico pode afetar os órgãos vitais dele ocasionando sua morte.

A segunda é engasgamento, pois existem animais que confundem alimentos com os plásticos, podendo engasgar com sacolas de plástico e elementos que podem fechar o esôfago dele, gerando um engasgamento e morte.

E a terceira maneira é pela ingestão dos plásticos. “Existem diversos estudos feitos em animais, desde mamíferos, tartaruga e peixes, onde você pode encontrar no conteúdo estomacal deles, pedaço de plástico, principalmente microplástico”, explica.

“Ele tem esse grande agravante, de ser um plástico que foi se decompondo ao tempo na natureza. Os animais absorvem os elementos orgânicos tóxicos inclusive na água que vão acumulando no seu estômago, porém morrem também, porque não contam com uma alimentação adequada e suficiente”.

 

Impactos

Segundo o geólogo e professor da Unifesp/BS, Emiliano Castro, quanto aos impactos sociais dessa contaminação pode ser destacada a saúde das pessoas que vivem expostas a esses locais onde não há coleta e tratamento do esgoto e coleta do lixo diretamente.

“Essas pessoas estão fazendo descarte dentro do sistema costeiro, no caso de Santos, sistema estuarino. Isso é uma questão de saúde pública, onde certamente, os custos dos tratamentos em sistema de saúde são muitos superiores ao custo da implantação de um sistema mais efetivo de coleta e tratamento desse lixo e esgoto”.

Já no aspecto econômico, ele informa que tal fato pode  impactar na perda do turismo nas cidades, pois quando se conversa com as pessoas de São Paulo que seriam os turistas imediatos a vir para região, há uma preferência para praias de cidades como Praia Grande ou Guarujá, do que Santos e São Vicente, muito por conta da poluição das praias.

“O sistema da Cetesb de monitoramento ao mesmo tempo que é uma medida para ajudar o banhista a saber se a praia está própria ou imprópria, acaba alertando turista aonde deve e não deve ir, então as pessoas acabam se distanciando para se preservar das praias”.

 

Pesca

Além disso, o impacto na pesca será grande também, pois ele cita que a história da pesca em Santos mostra que houve um declínio a partir da intensificação da poluição na cidade que vem desde a década de 1950 do século passado aos dias de hoje.

Castro aborda que basta frequentar os mercados de pescado da cidade para identificar que grande parte do pescado vem de fora do estado de São Paulo, revelando o quanto Santos perdeu neste setor comercial  e da própria economia da cidade que certamente representaria inúmeras vagas de emprego para pessoas que trabalhariam com a pesca.

 

Medidas

Nathalie, da Sheperd Brasil, aborda as medidas para mitigar essa poluição. “Como indivíduo, o melhor a fazer é repensar no consumo, pensar nas milhares maneiras de tirar o plástico da nossa vida, o plástico tem sua importância para vários usos, porém existem os descartáveis, os de embalagem de uso único que você usa uma vez e joga fora”.

Assim, ela menciona que existem substitutos e maneiras de abortar esses tipos de uso e diminuir o plástico drasticamente, priorizando também embalagens que são recicláveis, pois existem embalagens de plástico que não são recicláveis, pois são de composições expandidas,  como isopor e plásticos difíceis de lidar, mas priorizar embalagem que não são de plástico ou que tenham formato onde a embalagem pode ser substituída.

 

São Vicente

A Prefeitura de São Vicente informa que analisa dados apresentados e, a partir disso, elabora estratégias eficazes para combater os problemas de poluição no mar.

Aliás, na última quinta-feira (26), técnicos da Secretaria de Meio Ambiente (Semam) participaram de um workshop da Fundação Florestal, que abordará soluções de combate à poluição marítima.

Para tratar essa situação, a Semam também participará de uma reunião de alinhamento com o Parque Estadual Xixová-Japuí, com o objetivo de reunir propostas de ação que visam a redução da poluição por resíduos sólidos no oceano, por meio de atividades coordenadas entre todos os entes federativos: a sociedade civil, o setor privado e a academia, considerando o ciclo de vida completo dos resíduos sólidos.

Por fim, a Semam destaca que a região é estuarina, toda interligada por braços de rio e canais. Dessa forma, apresentando considerável concentração de habitações subnormais, indústrias e atividades portuárias, o que dificulta a identificação das fontes de poluição.

 

Mongaguá

A Prefeitura de Mongaguá informa que o descarte de lixo nas praias — um dos fatores que contribui para a poluição — é considerado crime ambiental, previsto no artigo 54 da lei 9605/98, cuja pena é reclusão, de um a quatro anos, e multa. Além disso, a Administração atua em uma série de projetos para assegurar a qualidade das praias e águas no município, como tratativas constantes nas ações de fornecimento, visando a melhoria da qualidade da água. No momento, a Administração Municipal estuda as medidas que podem ser tomadas para garantir o bom estado das praias do município.

 

Semil

Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), o lixo que chega ao mar vem de diversas fontes, como lançamentos de resíduos nas ruas. Assim como, em canais, rios e córregos, que deságuam no oceano; descartes irregulares no próprio mar, por exemplo.

A Semil destaca uma importante iniciativa da Fundação Florestal, órgão vinculado à secretaria, para melhorar o meio ambiente no litoral paulista, preservar os ecossistemas marinhos. Além de remunerar pescadores que, durante sua atividade diária, recolhe o lixo do mar.

O programa chamado PSA Mar sem Lixo começou em junho de 2022 em Cananeia, Itanhaém e Ubatuba e, em novembro do ano passado, foi expandido para Bertioga, Guarujá e São Sebastião.

O último balanço divulgado pelo programa, em junho de 2024, totalizou mais de 23 toneladas de lixo retiradas do mar e dos manguezais.

Em número de itens, o plástico é o campeão com 90,7%. Além disso, há coletas de vidros, latas, pneus e tecidos. As embalagens de alimentos industrializados representam 63% do total coletado, principalmente as de macarrão instantâneo, salgadinhos, garrafas de refrigerante e sachês de molho e maionese.

No eixo de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), o programa estipula a remuneração dos pescadores que recolhem lixo durante suas atividades por meio de cartão-alimentação. Portanto, com valores mensais de até R$ 653.

Esses beneficiados atuam nos municípios atendidos, abrangendo as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Marinhas, do Litoral Sul, Litoral Centro e Litoral Norte. De novembro de 2023 a junho de 2024,  houve o cadastro de 145 pescadores no Mar sem Lixo e receberam R$ 176.332 no total.

 

Confira as notícias do Boqnews no Google News e fique bem informado.

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.