O trecho da orla em que não há faixa de areia ou praia (exceto em dias de maré muito baixa), é conhecido como a região dos Clubes.
Assim, por coincidência, a Avenida que ali passa durante anos acabou recebendo o mesmo nome de um deles.
Por essa razão, por ser uma região de uma rica e grande história, devido aos desportos aquáticos que ali nasceram ou alçaram a cidade de Santos em destaque nacional e mundial, a série resolveu dividir este trecho em dois.
Dessa forma, abrindo a exceção de contar neste texto a história de uma Avenida que não existe mais, mas que ainda está fresco na memória dos santistas.
Trata-se da então Avenida Saldanha da Gama, que desde 2024 passou a se chamar Rei Pelé.
Tema que abordaremos posteriormente, lembrando dos clubes que ali tem sede ou já existiram por ali.
QUEM FOI SALDANHA DA GAMA?
Luís Felipe Saldanha da Gama nasceu em Campos, no estado do Rio de Janeiro, em 7 de abril de 1846.
Assim, durante sua carreira militar, participou de importantes conflitos.
Sob o comando do almirante Tamandaré, destacou-se na tomada de Paissandu/Payssandu, na região da Cisplatina.
Na Guerra do Paraguai, serviu por quatro anos na esquadra brasileira, atuando contra as forças de Solano López.
Portanro, esteve presente na rendição de Uruguaiana e participou das campanhas de reforço das fortificações de Curupaití, Angustura e Timbó.
Após o fim dos conflitos, representou o Brasil em missões diplomáticas na Europa e nos Estados Unidos.
Mais tarde, assumiu o cargo de diretor da Escola Naval e se tornou um dos principais fundadores e o primeiro presidente do Clube Naval.
Em 1893, recusou o convite de Floriano Peixoto para assumir o Ministério da Marinha e aderiu à Revolta da Armada, liderada por Custódio José de Melo.
Dois anos depois, em 24 de junho de 1895, Saldanha da Gama morreu em combate durante a Revolução Federalista, em Campo do Osório, no Rio Grande do Sul.
CLUBE SALDANHA DA GAMA
O Clube de Regatas Saldanha da Gama foi fundado em 14 de julho de 1903, por Alberto e Albertino Xavier Morais e Antônio Filgueiras Chaves Junior.
Assim, recebeu o nome do Almirante Luís Filipe de Saldanha da Gama (não há registros no clube do motivo da escolha da homenagem), tendo como objetivo o desenvolvimento dos esportes aquáticos, já que o remo era o esporte da época.
Em pouco tempo, já possuía 78 associados, quantidade suficiente para adquirem o seu primeiro patrimônio, uma baleeira e um escaler, que eram guardados nos fundos de um botequim.
Em 1904, veio a primeira sede do clube, instalada num prédio na faixa do cais do porto.
No ano seguinte a sede do clube transferiu-se para a Praça da República.
Uma maior área, no bairro Ponta da Praia, foi adquirida no ano de 1925, local que está até hoje, a época na Avenida 378, mas mais tarde passaria a ser a Avenida que dava nome ao Clube, mantendo-se assim até o ano passado
No ano de 1932 era inaugurada a sede social, com restaurante, salão de baile, campo e pista de atletismo, dormitório e quadra de basquete. Em 1933/34 foram construídas as duas primeiras quadras de tênis
Por essa eazão, em 2010, em meio à uma crise econômica, o clube decide vender metade da sede ao Grupo Mendes.
Em 2015 iniciou-se as obras da nova sede, no mesmo local da antiga, sendo inaugurado em 2017.
TORRE DE SALTOS
No final da década de 1920, antes mesmo da inauguração de sua sede social, o Clube de Regatas Saldanha da Gama investiu na construção de uma torre de saltos na Ponta da Praia, em frente à Fortaleza da Barra Grande.
A estrutura rapidamente se tornou uma referência em São Paulo.
A torre, a primeira do tipo na região, possuía uma base quadrangular de 3 x 3 metros e 12 metros de altura, considerando as marés mínimas.
Contava com 10 pranchas fixas, dispostas a cada metro, permitindo que até 10 atletas saltassem simultaneamente sem se tocarem.
A inauguração ocorreu em 2 de fevereiro de 1930, durante o Torneio “Dr. Ismael de Souza”, que incluiu provas de natação e saltos, abertas a todos os clubes federados de São Paulo. Durante 15 anos, a estrutura foi essencial para os atletas santistas da modalidade.
Em 1945, o então prefeito Antônio Gomide Ribeiro dos Santos propôs substituir o trampolim de madeira por um de concreto armado.
A iniciativa fazia parte dos projetos de urbanização da avenida Almirante Saldanha da Gama, que incluíam a construção de um muro abalaustrado — que se tornaria o famoso símbolo da cidade, as muretas dos canais — e a criação da Ponte Edgar Perdigão para travessia até a Praia do Góes e a Ilha das Palmas.
O projeto original não foi totalmente executado.
Assim, em vez da estrutura de concreto planejada, foi construída apenas uma base de concreto, mantendo a plataforma de saltos em madeira, sem as modernizações previstas.
Na década de 1970, o trampolim foi desmontado devido a questões de segurança e às mudanças na orla da cidade.

Torre de Saltos de madeira, década de 40 – Foto:: Memória Santista

Uma das competições de travessia do forte na década de 50, ao fundo trampolim de concreto armado – Foto: Memória Santista
BLOCO DONA DOROTÉIA
No período de Carnaval, os foliões que participavam do “Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda?”, também faziam uso do trampolim para o encerramento das brincadeiras carnavalescas.
ESTATUA DO ATLETA NAÚTICO
Caetano Fraccaroli, escultor ítalo-brasileiro, foi encarregado de criar uma obra que representasse um símbolo de orgulho para a cidade de Santos.
A encomenda foi feita pelo prefeito Antônio Gomide Ribeiro dos Santos, e a escultura deveria retratar o atleta náutico, um ícone da cidade desde o final do século 19.
Para garantir a perfeição de sua obra, Fraccaroli escolheu como modelo Adalberto Mariani, considerado o “desportista mais completo” de Santos.
Mariani, do Clube de Regatas Vasco da Gama, era um atleta multifacetado: remador, nadador, saltador de trampolins, jogador de basquete e polo aquático.
A estátua que Fraccaroli criou tinha cinco metros de altura, sendo 2,50 metros dedicados à figura do atleta.
Assim, a obra retratou com maestria o atleta náutico, e foi colocada sobre um pedestal de granito bruto.

Clube Saldanha da Gama e Estátua Atleta Náutico – Foto: Almanaque Esportivo de Santos
CONCEITO
A base retangular da estátua trazia relevos que representavam as modalidades náuticas praticadas nas águas de Santos: salto, natação, remo e polo aquático.
Essas modalidades eram essenciais para o esporte da cidade e estavam ligadas aos grandes clubes náuticos da Ponta da Praia, como o Internacional, o Santista, o Vasco e o Saldanha.
Além da representação de Mariani, a estátua contava com elementos simbólicos.
Na mão direita do atleta, ele segurava uma coroa de louros, simbolizando honra e vitória
Por sua vez, a mão esquerda sustentava uma águia, que representava paciência, tenacidade e poder (qualidades essenciais para os esportistas).
A escultura, embora inspirada em Mariani, evocava o estilo greco-romano, com sua imponência e sobriedade.
A escolha do local para a instalação do monumento foi igualmente significativa: A Ponta da Praia, um local com grande importância histórica para o esporte náutico de Santos.
Grande pompa marcou a entrega do monumento e a urbanização da avenida Almirante Saldanha da Gama.
Assim, foi instalado ao lado de outro grande símbolo da cidade, as muretas do canal.
Portanto, representou um momento importante para a identidade e o patrimônio de Santos.
ADALBERTO MARIANI
Adalberto Mariani foi um dos nomes mais importantes da natação santista em todos os tempos.
Ele começou sua trajetória esportiva como remador no Clube de Regatas Vasco da Gama aos 16 anos, em 1938.
Logo depois, foi um dos destaques do primeiro título da cidade de Santos nos Jogos Abertos do Interior.
A competição foi realizada em São Carlos, 1940, conquistando a prova dos 100m livres de natação.
Em 1942, já como treinador do grêmio cruzmaltino, conquistou o Campeonato Brasileiro de Natação.
Posteriormente, passou a treinar as equipes de natação do Colégio Marçal (atual Santa Cecília), onde foi tricampeão colegial do Estado de São Paulo nos anos de 1950, 1951 e 1952.
Em maio de 1953, assumiu o posto de treinador de natação do Internacional de Regatas e, ao longo dos anos, conquistou 21 títulos (santistas, paulistas, brasileiros e sul-americanos) em diversas modalidades.
Assim, além de sua brilhante atuação como treinador, Mariani também se destacou na organização de competições esportivas e no incentivo à prática da natação em Santos.
Aos 73 anos, faleceu em razão do surgimento de um câncer no pâncreas,em 7 de novembro de 1991.
Mariani deixou muitas saudades na cidade de Santos.
No entanto, sua memória pode ser revivida durante um passeio pela orla da Ponta da Praia.
Lá encontramos o símbolo de um atleta completo e absolutamente vitorioso.
A AVENIDA
Assim, a Avenida 378 foi ocupou terrenos pertencentes à San Paulo Land Co. e recebeu inicialmente o nome de uma das ruas da empresa.
A Câmara Municipal aprovou, em 6 de fevereiro de 1926, parecer nº 164, que resultou na Lei nº 769.
Portanto, o prefeito Arnaldo Ferreira de Aguiar sancionou a lei.
Dessa forma, oficializou o nome “Saldanha da Gama” para a rua nº 264 na Planta Geral de Cubatão, a época distrito de Santos
Em 16 de agosto de 1927, a Câmara analisou um pedido para nomear a avenida.
Assim, o trecho compreendia a Escola de Aprendizes Marinheiros (atual Museu de Pesca) e o ponto de embarque do ferry-boat do Guarujá como “Saldanha da Gama”.
Em 16 de julho de 1928, o prefeito J. Sousa Dantas enviou à Câmara um anteprojeto da Companhia Docas de Santos para a construção de uma via à beira-mar chamada Saldanha da Gama.
Assim, a Câmara ratificou e aprovou o projeto em 16 de setembro de 1928.
O presidente Getúlio Vargas compareceu à inauguração da Avenida Saldanha da Gama, em 2 de julho de 1945.
Ele também inaugurou o Hospital da Santa Casa da Misericórdia e o Aquário Municipal em Santos.
Portanto, em 3 de outubro de 2024, o prefeito Rogério Santos sancionou a lei que alterou o nome da via para Rei Pelé.
Durante sua existência, a via ficou localizada na Ponta da Praia.
Tinha cerca de 1,6 km e situava-se entre a Rua Carlos de Campos e Praça Almirante Gago Coutinho.
Assim, até o início de março, as placas de rua ainda levavam o nome do Almirante, invés de Rei Pelé.
Na Baixada Santista, apenas São Vicente também nomeia uma rua em homenagem ao Almirante.