A medida que avançam os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os descontos ilegais de aposentados e pensionistas do INSS, torna-se cada vez mais evidente o envolvimento criminoso de associações de fachada, sindicatos, políticos, empresários, servidores e intermediários no esquema que, segundo estimativas desviou cerca de R$ 8 bilhões, entre os anos de 2019 e 2024.
Apesar das muitas evidências e as contradições constatadas nos primeiros depoimentos realizados pelos suspeitos de participação na trama que prejudicou milhares de beneficiários, chama a atenção as tentativas de blindagem e obstáculos impostos no desenvolvimento dos trabalhos de apuração dos fatos, por parlamentares ligados ao Governo Federal, integrantes do Judiciário e da Procuradoria Geral da República.
Isso porque, ao dificultar o andamento das investigações temendo os reflexos políticos que deverão resultar da elucidação dos fatos e dos nomes envolvidos, cria-se a dúvida sobre o real papel a ser cumprido pelas instituições governamentais, que deverão ser questionadas em razão dos desvirtuamentos de conduta de seus integrantes, que demonstram, mais uma vez, não estarem à altura de exercer as funções públicas para as quais foram designados.
Mais do que promover um ato de justiça, o desdém e a impunidade no tratamento desse episódio abala as relações entre o Estado e o cidadão, reduzindo sobremaneira a credibilidade e a confiança naqueles que deveriam proteger os cidadãos e não os roubar.
Assim, além de punir culpados, torna-se latente a necessidade de se promover reformas substanciais no modelo de escolha dos que ocuparão cargos importantes, com a exigência de qualificação técnica profissional e ética.
Da mesma forma, torna-se importante o estabelecimento de legislações mais rigorosas para punir infratores, de forma a que possam servir de exemplo e, assim, desestimular a repetição das práticas criminosas dessa natureza.
O Brasil não quer mais a corrupção, a manutenção de castas privilegiadas no serviço público e a politicagem praticada pelos principais expoentes de suas instituições democráticas.
O País, por certo, deseja melhores condições de vida à população, especialmente aos seus aposentados e pensionistas, que ainda continuam privados de seus direitos fundamentais e o respeito que merecem.
Além de dar total transparência no trato dessa questão, é preciso que todos os órgãos públicos envolvidos contribuam para o esclarecimento dos fatos, de forma a restituir o respeito e a dignidade aos milhares de brasileiros lesados.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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