A eleição de 2018 marcou um dos momentos mais impactantes da nossa política recente: a ascensão de um discurso conservador que galvanizou milhões de eleitores e rompeu a hegemonia progressista.
Hoje, com aquele protagonista central fora do jogo eleitoral por condenações judiciais, mas ainda exercendo influência, o campo da direita busca novas lideranças para manter seu espaço.
Do outro lado, a esquerda tenta consolidar a retomada do poder, enquanto o centro procura afirmar uma identidade capaz de se contrapor ao cansaço da polarização.
O conservadorismo, aqui e lá fora, ainda mostra vitalidade. No Brasil, nomes como Tarcísio de Freitas e Romeu Zema são apontados como herdeiros potenciais.
No mundo, Donald Trump, mesmo envolto em processos, segue mobilizando metade da América; Giorgia Meloni, na Itália, e Viktor Orbán, na Hungria, demonstram força de governos de direita com forte apelo cultural e religioso.
A esquerda não ficou para trás. Lula mantém a centralidade do discurso esquerdista no Brasil, cercado de quadros de partidos progressistas.
No cenário internacional, Pedro Sánchez (Espanha), Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia) representam a aposta na redistribuição de renda, na justiça social e em políticas inclusivas.
O desafio é manter a chama acesa num contexto de crise econômica e de forte desgaste institucional.
E o centro? Esse continua sendo o espaço mais difícil de ocupar, mas também o mais necessário para a governabilidade.
No Brasil, Simone Tebet, Eduardo Leite, Geraldo Alckmin e Marina Silva, entre outros, buscam se firmar.
No exterior, Emmanuel Macron encarna o modelo de centro que resiste à maré de extremismos.
O problema é sempre o mesmo: o centro carece de carisma e de uma narrativa mobilizadora, ainda que ganhe força quando a polarização se esgota.
Minha leitura é de que, no curto prazo, o conservadorismo manterá ligeira vantagem.
O medo da insegurança, a pressão inflacionária e o apelo religioso fortalecem a direita.
Mas a história mostra que nada é definitivo: crescimento econômico pode devolver fôlego à esquerda; o desgaste da polarização pode abrir espaço ao centro.
E não esqueçamos dos fatores externos.
O Brasil é influenciado pela disputa geopolítica entre EUA e China, pelas crises migratórias, pela guerra da informação que se espalha em fake news globais e pelos fluxos de capital que premiam ou punem políticas nacionais.
Estamos inseridos num tabuleiro mundial que condiciona escolhas internas.
Historicamente, o conservadorismo predominou, do Império à República Velha e à ditadura militar.
A esquerda conquistou protagonismo mais recente, especialmente nos governos petistas.
O centro, discreto, garantiu estabilidade em momentos de transição.
A tradição brasileira é a da oscilação, nunca a da permanência absoluta.
O que virá? Creio que o Brasil seguirá como pêndulo: ora mais próximo da direita, ora da esquerda, ora buscando o equilíbrio centrista.
Nenhum desses campos está morto; todos disputam corações e mentes.
O eleitor brasileiro, como a chama de uma vela em noite de apagão, continuará a oscilar, ameaçando apagar-se em meio a ventos contrários, mas resistindo a permanecer aceso.
Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político
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