Na segunda-feira (10), iniciou-se a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), evento que reúne líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil visando discutir ações para combater as mudanças do clima.
Antes conhecida como um dos locais mais poluídos do mundo, Cubatão tornou-se referência internacional em políticas de recuperação ambiental e sustentabilidade industrial. A participação do município reforçou o protagonismo das cidades brasileiras na agenda global da transição energética. Desse modo, valorizando iniciativas locais que unem sustentabilidade, inclusão social e competitividade econômica.
Cubatão é referência para a Baixada Santista na COP30 em busca de soluções sustentáveis para região. A Cidade estará presente no principal pavilhão do encontro, a Blue Zone, dialogando com os principais autoridades e líderes mundiais. Neste sábado (15) haverá uma apresentação sobre “Recuperação ambiental e transição industrial: experiências locais rumo a indústrias sustentáveis”.
Prefeitura
Segundo a Prefeitura de Cubatão, a Cidade tem um papel histórico e estratégico na agenda ambiental brasileira. Por isso, sua responsabilidade na COP30 é atuar como porta-voz das demandas da região. Desse modo, levando a experiência de um município que já passou por profundas transformações ambientais e que hoje busca consolidar um modelo de desenvolvimento sustentável.
A intenção é representar a região de forma articulada, apresentando os desafios e as potencialidades comuns aos municípios da Baixada. Dessa maneira, como a recuperação de áreas degradadas, a transição energética, a proteção dos manguezais e o enfrentamento dos impactos climáticos.
Mudanças climáticas
Cubatão tem atuado de forma integrada com os demais municípios da Baixada Santista, reconhecendo que os desafios climáticos da região — como enchentes, deslizamentos e a elevação do nível do mar — exigem soluções conjuntas e sustentadas na cooperação.
Entre as ações práticas, destacam-se a participação nos Planos Municipais de Redução de Riscos (PMRR), que fortalecem a prevenção a desastres, e o apoio a projetos de infraestrutura verde e drenagem sustentável, desenvolvidos em parceria com o Governo do Estado, a Agem e instituições de pesquisa.
Além disso, Cubatão tem buscado alinhar suas políticas locais — como o Plano Diretor e o Plano Municipal de Meio Ambiente — às metas regionais de sustentabilidade, de modo a garantir que o crescimento urbano ocorra de forma segura, sustentável e adaptada às mudanças climáticas.
Preservação ambiental
A transição energética e a recuperação de áreas degradadas são temas importantes. Portanto, a Administração informa que assinou o termo de parceria “Centro de Ciência Para o Desenvolvimento Cidades Carbono Neutro”, uma iniciativa que visa desenvolver e aplicar tecnologias inspiradas na natureza, como a bioengenharia, no intuito de aumentar a resiliência urbana aos impactos das mudanças climáticas, como a formação de ilhas de calor, a escassez hídrica e tempestades intensas, além de aumentar a captura de GEE, como por exemplos os gases metano e carbônico (CO2).
“Pretendemos atuar em diálogo com governos, empresas, universidades e organizações da sociedade civil, defendendo políticas públicas e investimentos que unam crescimento econômico e preservação ambiental. O objetivo é influenciar as discussões globais com exemplos locais. E mostrar que é possível transformar um território industrial em referência de sustentabilidade e inovação verde”, informa, em nota, a Prefeitura.
Demandas
De acordo com o professor do Instituto do Mar da Unifesp, Ronaldo Christofoletti, também presente na COP, a sociedade precisa entender que quando se aborda a mudança do clima, estão inseridos impactos e soluções cujos resultados não aparecem na escala eleitoral de poucos anos ou na escala da vida, “que esperamos que as nossas ações sejam uma resposta rápida”.
“Nós estamos falando de problemas que são decadais, ou seja, muitas vezes uma ação que é essencial ser realizada e iniciada agora, só teremos sinais claros dela em 15, 20 ou 30 anos, porque nós estamos falando de processos que ocorrem nessa escala”, explica.
Ele cita que, por exemplo, na década de 80 e começo da década de 90, abordava-se muito dos dos gases de efeito estufa, que prejudicavam a camada de ozônio e ela estava sendo destruída, isso fazia aumentar a radiação solar, ajudava o aquecimento, trazia mais questões de câncer de pele e entre outros fatores.
“Portanto, houve um movimento expressivo, que passou por empresas e por todo um processo. E que agora, em 2025, pela primeira vez, tem sido divulgado de que a camada de ozônio voltou a melhorar, a fechar um pouco. Então, percebemos que todo aquele investimento feito há 30 anos atrás resultou agora”.
Vale da Morte
Portanto, para ele, Cubatão entra neste mesmo cenário, pois a cidade que antes era tida como o Vale da Morte, 30 anos depois, ela mostra que não é perfeita. Mas, que por um trabalho contínuo e longínquo é possível melhorar, restaurar ambientes, melhorar a qualidade do ar, da vida das pessoas e assim continuar fazendo isso.
“Cubatão mostra que para uma cidade, ela precisa trabalhar com política pública de Estado e não de governo, e que faz com que, ao passar por diferentes governos, sejam mantidas estratégias que levem para isso.”
Ações
O professor também comenta sobre quais ações os municípios podem ter para reduzir os impactos das mudanças climáticas e proteger os ecossistemas costeiros. “O que precisamos primeiro entender é qual modelo de desenvolvimento nós tivemos que nos trouxe até aqui, um modelo de desenvolvimento da urbanização extrema, ou seja, cidades com muitos concretos, tirando as áreas verdes. E isso não foi só na Baixada Santista, pois isso era um modelo mundial, um modelo onde economia e meio ambiente pareciam opostos ou onde o meio ambiente servia a economia”.
Christofoletti menciona que o modelo de desenvolvimento atual é o sustentável. Desse modo, onde a economia e o meio ambiente caminham juntos, isso porque um meio ambiente estável garante uma economia estável e explorações de economias novas, como novos traçados e impactos regionais.
Trabalho conjunto
“Nós temos nove divisas geopolíticas, mas para o meio ambiente a região é uma só. Então é essencial um trabalho conjunto. Assim, sendo um trabalho que tenha um olhar regional em todos os aspectos econômicos, ambientais que a gente possa trabalhar como região. É essencial que esse olhar venha junto da academia.
Nós temos várias universidades de referência mundial na Baixada Santista nessa questão climática. E tem muito conhecimento, tem muito respaldo sendo dado por essas universidades nas discussões globais, inclusive”, disse o professor.
Dessa forma, ele aborda que é preciso que os governos municipais estejam cada vez mais juntos de academias nesse planejamento e tomada de decisão que seja cientificamente embasado, mas uma ciência que também está junto, ouvindo, conversando, dialogando com a sociedade e trazendo junto de si os diálogos que sabem respeitar o meio ambiente muito mais que os demais. Então, esse é um segundo ponto que é necessário para pensar sobre os desafios climáticos.
Natureza
Além disso, ele cita que é preciso pensar em soluções baseadas na natureza que são aquelas que inclusive consideram a engenharia, trata-se de um desenvolvimento tradicional, por ser soluções que ajudam muito a ter um desenvolvimento sustentável na região.
“Cada cidade tem que olhar as suas características e pensar o melhor caminho. Cidades como Santos, já totalmente urbanizadas, ou nos outros municípios, as áreas totalmente urbanizadas, eles têm caminhos como os jardins de chuva, a restauração de pequenas praças, para que ajude nesse escoamento de água. E, ao ver o verde, a minimizar também a questão da temperatura dos extremos de calor.
Por outro lado, nós temos na região, cidades com áreas naturais muito protegidas de restinga e manguezal. Aliás, principalmente, que são aquelas que vão ajudar a defesa natural quanto ao aumento do nível do mar.”
Conservação
Ele aborda que essas áreas tem que ser prioritárias para a conservação, pois elas devem se manter desta forma. Portanto, proteger elas enquanto ainda existem é economia e garantir que depois não será preciso investir para ficar reconstruindo mureta como ocorre em Santos ou em outras regiões toda vez.
“Então, concretar, retirar essas áreas para construir prédios, parques, não é uma solução. E aí, se isso passa por balancear o modelo de desenvolvimento antigo com o novo e pensar o retorno econômico disso, que ainda não é claro muitas vezes para os governantes, mas muitos estudos já mostram como conservar as áreas naturais, tem um retorno econômico muito maior em longo prazo do que concretá-las, também tem que se pensar num plano de fundo regional, onde municípios que lucraram mais ao longo do tempo e tem uma economia mais forte por conta daquele desenvolvimento do passado, possam agora contribuir para os municípios não conservar suas áreas.
“Veja que essa é a lógica que a COP trata do financiamento climático. Os países que causaram mais o problema climático agora têm que ajudar aqueles que precisam fazer a sua resiliência”, explica.
A COP 30, que ocorre em Belém, prossegue até o dia 21 de novembro.
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