Discutir as técnicas utilizadas e analisar as marcas presentes em seus filmes é o intuito do curso O cinema pós-moderno de Quentin Tarantino, ministrado pelo jornalista e crítico de cinema, Marcelo Lyra, que acontece de terça (8) a domingo (15) no Sesc Santos.
A conversa voltada para cineastas e cinéfilos aborda as formas e citações do diretor. O estilo contaminado de originalidade “é um mérito ter esse sopro de criatividade em uma época em que quase tudo foi feito”, diz Lyra. O crítico de cinema diz ainda que essa iniciativa é semelhante a apresentada pelo diretor francês Jean-Luc Godard em uma escala menor. “Embora Godard seja melhor do que Tarantino, as técnicas que subvertem as regras do cinema e que mudam um pouco o jeito de se fazer filmes estão presentes em ambos”. Características como verborragia, não-linearidade, diálogos que alternam entre o suspense e o humor, desconstrução de personagens fortes, mulheres com papeis imponentes, uso de ângulos incomuns e o alto teor de violência transformaram o diretor em adjetivo e um precursor de obras tarantinescas.
Lyra lembra ainda que ao contrário da nova geração de cineastas, Tarantino não fez curso para direção. “Ele era balconista em uma locadora de filmes e estudava atuação, a originalidade dos roteiros é oriundas de sua cultura de cinéfilo e nerd de carteirinha”.
Entre as fontes bebidas pelo americano está o estilo presente no diretor Alfred Hitchcook. “Muitos dizem que ele era o mestre do suspense, mas esquecem da sua capacidade de manipular o expectador, quando nos pegamos torcendo pelo assassino em seus filmes”.
Viradas no estilo
No curso, também serão analisadas as mudanças de estilo que permeiam a carreira cinematográfica de Tarantino. Em Cães de Aluguel (seu primeiro filme como diretor) é notável a falta de papeis femininos relevantes, fato que muda completamente nos filmes seguintes. Com Mia Wallace e Beatrix Kido (Uma Trurman) em Pulp Fiction e Kill Bill respectivamente, além de outros personagens em Jackie Brown, À prova de morte e Bastardos Inglórios. A vingança, principal motivação dos filmes de Tarantino, desde Kill Bill em 2003 também será avaliada na aula.
O que Tarantino representa para o cinema pós-moderno?
“O que Tarantino fez foi mais ou menos o que o Kurt Cobain fez para o rock no início dos anos 90: pegar o lixo cultural e transformá-lo em algo respeitável e cultuado. Beber na fonte da cultura pop e mostrar que essa cultura poderia ser cool”.
André Azenha – Editor do CineZen e coordenador do Cine Comunidade
“Cada esguicho de sangue, anti-herói, conversa cheia de palavrões (e referências pops), solução inventiva (e surpreendente), assim como cada trilha sonora cult e narrativa picotada e episódica não nasceram com Quentin Tarantino, mas cada filme que hoje faz uso de qualquer um desses fatores o faz graças ao diretor de Pulp Fiction e Cães de Aluguel. Ainda que ele próprio consiga a cada projeto se reinventar dentro de suas próprias inspirações. Quentin Tarantino talvez seja o maior gênio de sua geração, e não só pela sua influência, mas principalmente por não ter receio algum de continuar sendo ele mesmo a cada projeto, seja um faroeste, um filme sobre a Segunda Guerra ou um épico de vingança afiado como uma espada Hatori Hanzo”.
Vinicius Carlos Vieira – Editor do CinemAqui (www.cinemaqui.com.br)
“O diretor representa a sobrevivência do cinema autoral. Os filmes de Tarantino são a prova de que sempre é possível dar outros ângulos para temas e linguagens já trabalhados. A violência que impregna suas obras representa a assinatura de sua criatividade”.
Vinícius Kepe – Autor da coluna CineArt no site Boqnews.com
“O fato de Tarantino basear seu escrever em seu background cinéfilo talvez seja sua maior contribuição ao cinema mundial das últimas décadas. O fator que apela a seus fãs é justamente uma certa falta de pudor com relação à construção de suas histórias: nada é impossível no desenvolvimento de um bom personagem ou de uma boa situação. Hitler deve ser morto pela heroína do filme? Isto garante a catarse esperada pelo público? Então que o plano dê certo, e toda a cúpula nazista pereça num incêndio. Sem falar nas situações insólitas – membros da Klan discutindo a confecção de máscaras – ou as centenas de referências pop, o espectro das graphic novels, e a linguagem nerd chic de todos os seus roteiros. Em resumo, cultura pop aplicada na veia”.
Marcelo Pestana – Editor da Colunas& Notas e Apresentador do Movie Chat