As mortes precisam parar. Somos 43 mil mortos no trânsito no Brasil. Este dado está nos cartazes da campanha Maio Amarelo, movimento internacional de mobilização e conscientização para redução de acidentes no trânsito.
Em Santos, neste mês – infelizmente – os acidentes de trânsito não param de acontecer, como mostram as ocorrências ao lado, algumas fatais. Após a morte da motorista no bairro do Boqueirão, no dia 15, outras cinco colisões graves ainda ocorreram pelo desrespeito principalmente às regras de trânsito. Para as estatísticas, os acidentes geraram – pelo menos – mais quatro mortes.
A média por 100 mil habitantes na Cidade, em 2015, foi de 13,2%, maior que a da capital, de 9,7%. Dados do primeiro quadrimestre, ou seja de janeiro a abril, já mostram um total de 19 vítimas. Um aumento de 73% de mortes no trânsito neste ano na Cidade em comparação aos números de 2015. Aumento que tende a crescer em maio.
O mês já contabiliza pelo menos uma vítima a mais do que o mesmo período de 2015. Realidade que deve piorar por conta da falta de radares na Cidade, com previsão de serem reinstalados apenas em dois meses em razão da mudança da empresa vencedora da licitação.
O crescimento vai na contramão dos números do Estado de São Paulo, que apresentou uma queda de 5,4% neste primeiro quadrimestre. Os dados são do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito (Infosiga SP). O portal do projeto reúne dados sobre faixa etária, gênero da vítima, tipo do veículo envolvido e perfil do acidente em todos os municípios paulistas.
Na Cidade, as maiores vítimas são de pessoas com mais de 65 anos, que representam 32% das vítimas fatais em 2015. Entre os idosos acima de 80 anos, a Cidade lidera o ranking de mortalidade no Estado, em termos proporcionais e fica em segundo em números absolutos (atrás apenas da Capital).
Para o mestre em Sociologia (UnB), escritor e especialista em educação e segurança no trânsito, Eduardo Biavati, a falha não está no Código de Trânsito Brasileiro, mas no foco das campanhas e, principalmente, da fiscalização que é para dar fluidez no trânsito e não para impedir abusos e desrespeitos à sinalização. “Os agentes deveriam fiscalizar e punir quem não dá a preferência ao pedestre, por exemplo. As ações que ocorrem hoje não são pela segurança, mas para que os carros tenham maior fluidez e evitem congestionamentos”, explica.
Além disso, Biavati – que se espantou com os números santistas – acredita que as cidades precisam utilizar melhor os dados estatísticos na hora de realizar as campanhas e na elaboração de políticas públicas. “Tenho uma tia que mora na Cidade e a visito com frequência. As campanhas precisam acontecer nas escolas, mas também precisam ser direcionadas para esta faixa etária”, explica.
Na verdade, segundo o especialista, o trânsito precisará se adequar a esta população. “A Cidade precisa mudar o ritmo. É preciso reduzir a velocidade”, alerta Biavatim que acredita que a falta de radares aumentará o risco de acidentes. “O radar, em todo o mundo, está ligado à redução de acidentes, inibindo os motoristas. Se não há, não tem como controlar a gravidade”, explica.
De acordo com o presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) Antônio Carlos Silva Gonçalves, em entrevista à Boqnews TV, o que está faltando é um comportamento mais adequado por parte da população. “Os números em Santos são tão favoráveis em termos de quantidade de acidentes que nós chegamos a quase que a zerá-los. Quando a gente começa a ter algum tipo de problema, como os acidentes fatais, a gente começa a ter uma preocupação diferenciada”, disse.
“O que nós percebemos é que não é por falta de sinalização, mas por comportamento inadequado. O que a gente precisa é de um trânsito mais seguro, adequado, que as pessoas se conscientizem e saibam ler a sinalização”, explicou.
Dê preferência à vida
Este é a mensagem no portal do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito. Um programa do Governo do Estado de São Paulo que tem como principal objetivo reduzir pela metade as vítimas fatais nos acidentes de trânsito no Estado até 2020. O programa nasceu inspirado na Década de Ação Pela Segurança Viária, período de 2011 a 2020, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para chamar atenção para a questão da violência no trânsito.
Punição
Uma questão que precisa evoluir se refere à punição dos motoristas. Os acidentes com vítimas fatais ou com lesões corporais ainda são tratados como crimes, em geral, culposos (sem intenção de matar). Nestas ocorrências, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê penas de detenção de seis meses a dois anos no caso de lesões corporais e de dois a quatro anos no caso de morte.
Em muitas situações, porém, os motoristas quando são julgados recebem como condenação apenas a prática de serviços comunitários. Foi o que ocorreu com o motorista que atropelou o filho da apresentadora Cissa Guimarães, Rafael Mascarenhas. Após 6 anos, ele recebeu, no início deste mês, a pena alternativa.