Não é de hoje que o mar avança pela orla da praia e mostra toda sua força. A temporada do fenômeno – que ocorre com mais frequência de abril a julho – neste ano, porém, trouxe ondas mais fortes e deve voltar a acontecer neste domingo (21). A previsão é do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Unisanta. De acordo com o boletim é bem provável uma ressaca, com ondas que devem atingir 2,6 metros por volta das 19 horas, na Entrada do Canal, e de 0,9m na Ponta da Praia.
Os impactos, porém, devem ser menores dos ocorridos no dia 27 de abril, quando a ressaca derrubou as muretas – ainda em obras – e invadiu a avenida e garagens de prédios. Com relação às ondas, naquela ocasião, elas chegaram a atingir 4 metros, segundo as medições dos sensores da Praticagem de Santos.
“A ressaca é um fenômeno cíclico, que acontece todos os anos. Ressacas surgem principalmente por eventos meteorológicos, que é a entrada de frente fria para a costa. Gera um vento de bastante intensidade e ondas no oceano aberto, que vão ganhando mais energia até atingir a costa. Mas notamos que existe um aumento de intensidade”, explica o pesquisador e professor do NPH, Renan Ribeiro.
As fortes ressacas na costa apenas reforçam um problema antigo. De acordo com Ribeiro, além de alguns motivos globais, como o aquecimento e o derretimento das geleiras, as ressacas ganham mais força por conta de ações locais. “Uma questão importante a se considerar é a erosão da praia nesta região. A curva da Ponta da Praia era toda de praia com sedimento, que acabava sendo um filtro para as ondas, diminuindo sua energia”, explica o pesquisador ressaltando que a proteção natural não existe mais.
“Sem falar que ali era uma região que foi aterrada, mudando completamente as características naturais. Depois veio a dragagem em si. Eu trabalhei prestando serviço de consultoria há alguns anos, avaliando a questão da relação da dragagem na erosão na Ponta da Praia e na praia do Goes, em Guarujá. Verificamos que com o aprofundamento do canal haveria um aumento significativo na intensidade da onda”, ressalta. Algo que já é perceptível, tendo em vista os acontecimentos deste ano. O que começa também a influenciar os imóveis que são atingidos pelo fenômeno.
“Quem está procurando deve levar isso em conta sim. É bem provável que o comprador pense duas vezes”, explica Elisabete Baldon, da agê ncia Remax Mediar. Hoje, o valor já está caindo, mas devido ao mercado. “As variáveis que influenciam no preço de um imóvel são muitas e a questão ambiental pode ser um fator determinante”, diz.
Obras
De acordo com o secretário de Obras de Santos Carlos Alberto Russo, já foram repostos quase 500 metros cúbicos de pedra para quebrar a energia das ondas, protegendo as muretas e a avenida. “Estamos fazendo a concretagem com pilastras armadas. Quando não tínhamos a maré tão alta e com intensidade menor, era de tijolo, e hoje estamos substituindo por concreto”, explica.
O projeto também prevê a reforma de rampas além da colocação das muretas. ” Trabalhamos à medida que a maré nos permite. O prazo é de quatro meses, terminando em novembro. Mas deve ser dilatado um pouco mais por conta do tempo. Mas esperamos não ter mais obras na temporada de verão”. O contrato da obra foi orçado em R$ 504.922,74.
Soluções
Uma proposta que já foi apresentada, segundo Renan, é de defender a costa, com quebra-mares e a recomposição da área com sedimento. Algo que de certa forma já é realizado pela prefeitura. “Temos o trabalho de ‘engordamento’ da praia repondo areia dos canais 1 e 3, para onde ela é arrastada. Mas ela se perde rápido”, explica o secretário.
O pesquisador explica que não adianta só recompor. “Precisa se pensar em uma estrutura para se manter este sedimento. Fazer um verdadeiro engordamento praial”, ressalta. O secretário concorda. “De prático, até hoje, não aconteceu nada de eficaz”, reconhece.

