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24 DE ABRIL DE 2009

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Alta da inadimplência

É no primeiro trimestre  que as despesas referentes ao fim do ano caem na conta do consumidor, como os pagamentos de IPTU e IPVA, além dos financiamentos das compras de Natal. Itens que, naturalmente, já geram casos de inadimplência. Mas a economia mundial, em momento de recessão, tem complicado esse cenário, ajudando a elevar os […]

Por: Da Redação

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É no primeiro trimestre  que as despesas referentes ao fim do ano caem na conta do consumidor, como os pagamentos de IPTU e IPVA, além dos financiamentos das compras de Natal. Itens que, naturalmente, já geram casos de inadimplência. Mas a economia mundial, em momento de recessão, tem complicado esse cenário, ajudando a elevar os índices de falta de pagamento, com números que se elevam a cada mês.

Para se ter ideia, o Indicador Serasa Experian de Inadimplência de Pessoa Física registrou alta de 11,4% do atual trimestre em relação ao período janeiro-março do ano passado no total de dívidas registradas. Além disso, os dados do mês passado superam em 22,6% o mês de fevereiro deste ano, e em 16,6% os de março de 2008.

Segundo a presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Santos-Praia, Rosane Coimbra Martins Aguiar, os números refletem uma realidade que é encontrada não apenas no Brasil (o Serasa não tem registros específicos por região, conforme informado pela assessoria de comunicação do instituto), mas também em Santos.

Segundo Rosane, muito se deve à crise financeira, que embora se falasse que iria demorar a afetar o consumidor habitual, já o faz hoje e com uma força descomunal, acarretando uma verdadeira avalanche de más notícias. “Em função da dificuldade que as pessoas estão tendo para acertar as dívidas, as empresas não faturam. Isso gera desemprego, já que acaba sendo necessário enxugar custos. Com menos gente empregada, há menos dinheiro rodando e, consequentemente, mais inadimplência. É uma bola de neve,  que acaba impedindo ao empreendedor conseguir aprimorar o serviço da sua loja, pois falta recurso”, explica.

Uma consequência desse processo de redução de custos é um menor investimento na divulgação da marca. Segundo a publicitária Cristina Nogueira, isso tem ocorrido pelo despreparo de alguns estabelecimentos, em diferenciar gasto de investimento. “Há ainda uma mania de se tratar a propaganda como uma despesa, quando se poderia enxergar como ela realmente é: uma aplicação para que se consiga lucro em seguida. Com isso, a publicidade acaba sendo um dos primeiros itens cortados”, alega, citando como exemplo mais recente o fim do patrocínio do Finasa ao time de vôlei do Osasco, um dos mais importantes do País.

Cheques
Levantamento do Indicador Serasa também aponta que, embora as dívidas bancárias sejam as campeãs do ranking do atual trimestre, ocorrendo em 43,4% dos casos, as que envolvem cheques têm ganhado notoriedade. O número de cheques devolvidos em março último foi o maior em 18 anos: para cada mil compensados, pouco mais de 24 foram considerados sem fundo – um total de 2,75 milhões ao longo do mês. Para a presidente do  CDL Santos-Praia, o recorde é consequência do “estouro” cada vez maior dos cartões de crédito. “Os bancos bloqueiam os cartões vencidos e a pessoa vê apenas o cheque para usar, já que não tem dinheiro para andar. O resultado é esse”,  resume.

Crise?
A elevação, todavia, segue na contramão do que aponta o levantamento feito pelo Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista (SCVBS), que responde pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) na região. De acordo com os dados da entidade, os casos de inadimplência detectados nas empresas associadas à instituição caíram 11,8% em março desse ano, se comparado ao mesmo mês em 2008. No trimestre, outra redução: 12,48%, relacionando-se ao igual período do ano passado.

Na visão do presidente do Sindicato, Alberto Weberman, a falada crise é algo “criado pelas pessoas”, e que foi fomentada no País antes de realmente aparecer. “Não podemos falar em crise por aqui, especialmente na região, pois não há tanto desemprego como se fala. Só está realmente sem emprego aquele que não tem interesse em trabalhar ou não é esforçado”, acredita.

Ainda assim, Weberman reconhece que a situação tem atingido níveis mais preocupantes, visto a redução no número de vendas. “Hoje, muitos estoques têm ficado cheios. Há vários exemplos disso. As pessoas estão tão endividadas que só agora viram que não podem mais comprar”, aponta.

Vale considerar, ainda, que segundo o levantamento do SCVBS, o trimestre viu, também, uma redução de 11,61% no total de inadimplências sanadas, em relação ao período janeiro-março de 2008. Em comparação com março de 2008, o mês passado teve uma queda de 18,32% no número de dívidas pagas, evidenciando a dificuldade do comprador.

Razões
Embora as visões a respeito dos números não sejam concordantes, as opiniões dos presidentes do Sindicato e do CDL sobre o que leva ao agravamento coincidem, e os primeiros alertas vão para o excesso de facilidades, que funcionam como uma verdadeira armadilha. “Hoje se pode comprar qualquer produto em muitas parcelas. Mas quem garante que a pessoa terá o dinheiro para custear toda a despesa? E se ela for demitida, como vai pagar? Com isso, os juros sobem para limitar as perdas. É uma situação complicada”, reflete Rosane.

Weberman coloca em questão, ainda, a falta de organização do consumidor no que diz respeito ao orçamento mensal. “O brasileiro é tradicionalmente comprador, e as lojas massificam isso, oferecendo, a cada semana, novas promoções com facilidades de pagamento. A pessoa acumula esses tantos carnês até atingir o que ela recebe, mas não lembra que sempre há despesas extras, como remédios ou substituição de objetos. Com tanta conta para pagar, a pessoa esquece de quitar um dos carnês para se adequar à situação e acaba ficando inadimplente. É assim que funciona”, explica.

Outro fator está no que hoje é considerado essencial para a sobrevivência. Despesas que anteriormente seriam enxugadas, como as contas de celular e a compra de computadores, estão entre os agravantes. “O nível do que é bem necessário é outro, e os custos são altíssimos. Sobreviver passou a ser um desafio”, conclui Rosane.

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