Mundo vive ‘apartheid de vacinas’ com a Covid em situação semelhante à Aids | Boqnews

HIV

01 DE DEZEMBRO DE 2021

Siga-nos no Google Notícias!

Mundo vive ‘apartheid de vacinas’ com a Covid em situação semelhante à Aids

Assim como a Aids, a discrepância global na vacinação contra Covid coloca a África no último patamar entre as nações.

Por: Fernando De Maria

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

A chegada da variante Ômicron lançou luz a uma triste realidade.

Com a suspeita dos primeiros casos na África do Sul – cuja cepa já foi identificado anteriormente em outros países -, o mundo, inclusive o Brasil, começou a colocar barreiras aéreas em vários países africanos, especialmente para passageiros de países da África Subsariana.

A mesma restrição não se vê com outros países europeus onde a variante também se faz presente – inclusive no Brasil, com três casos oficialmente confirmados em São Paulo.

O preconceito mostra a disparidade em um mundo cada vez mais globalizado.

Ômicron presente em diversos países no mundo (em vermelho), mas apenas os voos de países africanos (à esquerda) foram vetados em boa parte dos países, como no Brasil. Foto: Divulgação

Por exemplo, enquanto alguns países ricos têm estoque de vacinas para toda sua população tomar até quatro doses, na África, a imunização contra a Covid-19 se limita a um dígito na grande maioria dos países.

Das 20 nações com menor índice de vacinação contra a Covid no mundo, 17 estão na África.

Portanto, a situação atual lembra – e muito – o cenário da Aids no mundo, cuja data mundial é lembrada nesta quarta (1).

Com o primeiro caso confirmado há exatos 40 anos, a Aids já matou 34,7 milhões de pessoas no mundo neste período (até o final de 2020), segundo o mais recente levantamento da Unaids – setor de Aids das Nações Unidas, de julho último.

690 mil mortes

No ano passado, foram 690 mil mortes estimadas apenas para a doença.

Por sua vez, a Covid, com 263 milhões de pessoas infectadas desde o seu surgimento, matou 5,22 milhões de pessoas.

Assim, ao todo, 77,5 milhões já foram contaminadas com o HIV ao longo destas quatro décadas.

Hoje, são 37,6 milhões de portadores de HIV, sendo que a África Oriental e Meridional abrigam 20,6 milhões de vítimas.

Dessa forma, somados os países da África Ocidental e Central, com mais 4,7 milhões, chega-se a 25,3 milhões de portadores do HIV no continente africano.

Ou seja, 2 em cada 3 portadores da Aids no mundo estão em países daquele continente.

Diretora da Unaids, Winnie Byanyima: mundo precisa se unir para lutar contra o ‘apartheid das vacinas’. Foto: Divulgação

Aids e Covid

Situação semelhante à Covid-19.

Não é à toa que a diretora executiva da Unaids, Winnie Byanyima, citou em discurso global da entidade que o mundo vive hoje o ‘apartheid das vacinas’.

Em junho, durante abertura do Encontro de Alto Nível da Aids, ela foi direta.

“Precisamos acabar com as desigualdades no acesso às tecnologias sanitárias, impulsionando a ciência e garantindo que ela chegue a todo mundo. A Covid-19 mostrou que a ciência avança de acordo com a velocidade da vontade política”, enfatizou.

“Precisamos acelerar a ciência sobre a AIDS investindo em inovações no tratamento, prevenção, atenção e vacinas como bens públicos mundiais”.

“E precisamos impulsionar a ciência de maneira a reduzir as desigualdades em vez de aumentá-las”, acrescentou.

Em razão desta realidade, o médico Fábio Mesquita, uma das maiores autoridades sobre HIV no mundo e representante da Organização das Nações Unidas em Myanmar, relembrou a luta para que o continente fosse incluído nas discussões sobre a doença.

19 anos de atraso

“Somente em 2000, após 19 anos do primeiro caso de Aids no mundo, é que a África – no caso a África do Sul – sediou um evento mundial para discutir o tema”, relembra o profissional, que participou in loco do evento.

Foi a partir deste evento que autoridades mundiais, como Nelson Mandela, ex-presidente sul-africano, e Bill Clinton, ex-nº 1 americano, reconhecerem as falhas praticadas ao longo dos seus governos por não darem a atenção devida ao avanço da Aids no continente africano.

E assim nasceu o Fundo Global de Luta contra a Aids, capitaneado pela OMS.

Além de outro fundo americano de recursos voltados exclusivamente ao combate à doença, permitindo o avanço nas pesquisas.

Se em 1999, por exemplo, um paciente chegava a tomar um coquetel de 12 a 16 comprimidos, com fortes reações colaterais, hoje, dependendo do quadro do paciente, ele pode tomar apenas um comprimido, fato já autorizado pela Anvisa – Agência de Vigilância Sanitária.

Quanto maior a tonalidade do verde, maior o índice de vacinação. Na África, a cor inexiste. Foto: Reprodução

1 em cada 4

Na ocasião do evento no continente em 2000, o próprio país africano vivia uma situação calamitosa em relação à doença – 1 em cada 4 sul-africanos tinha o vírus.

Mesquita, que foi um dos pioneiros no Brasil no combate à Aids no final dos anos 80 durante sua atuação na secretaria de Saúde de Santos, cidade onde chegou a ser vereador, concedeu entrevista ao Jornal Enfoque – Manhã de Notícias desta quarta (1), Dia Internacional da Luta contra a Aids.

A data abre o Dezembro Vermelho para conscientização sobre a doença.

Infelizmente, os números mostram que ela tem voltado a crescer especialmente entre jovens em velocidade preocupante.

Dessa forma, na América Latina, 2,1 milhões de pessoas convivem com a doença, sendo que 110 mil novos casos surgiram no ano passado, conforme o último levantamento da Unaids.

Luta

Além disso, na entrevista, o médico relatou os avanços na luta contra a Aids e as dificuldades para se atingir a meta da doença ter uma queda significativa global até 2030, como meta preconizada pela Organização Mundial de Saúde.

“Será um desafio, mas temos que lutar por isso”, salientou o médico.

Atualmente, ele está no país asiático onde tem a missão de atuar na redução de danos à saúde, especialmente em um país – e a própria região – com elevado consumo de heroína.

Assim, Mesquita também lembrou também do pioneirismo implantado pela Prefeitura de Santos no final dos anos 80 no tocante ao compartilhamento de seringas por usuários de drogas.

Aliás, tema delicado na ocasião, que rendeu-lhe até processos judiciais, todos vencidos.

Hoje, a política pública se tornou referência internacional na luta para evitar a disseminação da doença.

Programa completo

Além de Aids e Covid, o médico também falou do esforço da ONU na compra de vacinas Covax por meio de consórcio internacional e da necessidade da união coletiva global.

E ainda sobre os estudos, ainda bem iniciais, da variante Ômicron, de maior transmissão, mas de pouca letalidade, especialmente entre grupos já vacinados.

No entanto, ainda é cedo para cravar quais os riscos da nova variante.

“O certo é que, infelizmente, com a desigualdade no ritmo de vacinação, teremos todas as letras do alfabeto grego com o surgimento de novas variantes”, lamentou.

Confira o programa completo do Jornal Enfoque – Manhã de Notícias

20 países com a pior vacinação per capita no mundo

(dados da Universidade John Hopkins) – 17 estão no continente africano/ 100 mil habitantes

Etiópia – 8.098 / 100 mil

Malawi – 7.395/ 100 mil

Somália – 7.168 / 100 mil

Sudão – 6.153/ 100 mil

Zambia – 5.910 / 100 mil

Papua Nova Guiné – 5.221 /100 mil (Oceania)

Nigéria – 4.776 / 100 mil

Mali – 4.182 /100 mil

Nigéria – 4.013 /100 mil

Camarões – 3.591 / 100 mil

Burkina Faso – 3.165 / 100 mil

Benin – 3.163 / 100 mil

Yemen – 2.598 / 100 mil – Ásia

E ainda:

Madagascar – 2.475 / 100 mil

Tanzania – 2.238 / 100 mil

Sudão do Sul – 1.948 / 100 mil

Haiti – 1.620 / 100 mil – América Central

Chad – 1.574 / 100 mil

Congo – 215 / 100 mil

Burundi – 13/ 100 mil

 

Cinco maiores países com vacinados / 100 mil habitantes

1º – Cuba – 250.760 / 100 mil

2º Emirados Árabes Unidos – 221.385 / 100 mil

3º Malta – 217.400 / 100 mil

4º Chile – 213.608 /100 mil

5º Uruguai – 195.570/ 100 mil

 

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.