Na troca de acusações envolvendo autoridades, como o prefeito de São Vicente, Pedro Gouvea, e o secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, a respeito dos leitos de UTIs disponíveis para o Covid-19 em Santos e região, fica claro que, na prática, há disparidade de informações em relação ao real número de vagas para pacientes do Covid-19 que necessitam de vagas de alta complexidade do Covid-19.
Tanto no SUS como na rede privada.
E assim, cria-se uma disparidade per capita entre as cidades.
Algo já comum quanto aos leitos de UTIs de forma geral, mas que ganha dimensão neste momento em razão da velocidade e do quadro preocupante com que pacientes com problemas respiratórios, vítimas do Covid-19, estão chegando aos hospitais.
Além disso, o tempo de permanência destes pacientes em leitos de UTIs tem sido, em média, duas semanas, pressionaNdo a dificuldade de abertura de novas vagas.
Ambiente que se aproxima do colapso, como ocorreu em países europeus e hoje no Brasil, como em Manaus.
E pior: os números conflitantes dificultam uma análise correta do cenário em relação à oferta de leitos urgentes disponíveis apenas para a doença na Baixada Santista.
Sem respostas
O Boqnews solicitou na semana passada um balanço do total de leitos de UTIs e enfermarias para pacientes do coronavírus por cidades tanto para a Delegacia Regional de Saúde IV como à prefeitura de Santos.
As respostas foram genéricas e não foram respondidas.
A secretaria de Saúde do Estado apenas informou que a “Baixada Santista conta com três serviços de referência para o tratamento de casos da doença que precisem de internação: o Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, o Emílio Ribas II, no Guarujá, e o Hospital Regional de Itanhaém, que contam com mais de 120 leitos disponíveis para tratamento da COVID-19, entre UTI e enfermaria”.
“Vale destacar que o Governo do Estado anunciou também repasse de mais de R$ 300 milhões aos municípios para auxiliar no enfrentamento à COVID-19. Para a Baixada Santista, o valor destinado é superior a R$ 34,9 milhões”, complementou, sem responder ao questionamento do Boqnews.
Mais leitos
Guarujá promete entregar nesta segunda (4) seu hospital de campanha, com 70 leitos, sendo 50 clínicos e 20 UTIs.
Hoje, oficialmente junto ao Ministério da Saúde, o município oferece apenas 10 leitos – com uma média de 1 leito para cada 31.640 moradores.
Com estes 20 adicionais de urgência no futuro hospital, que funcionará na Base Aérea de Santos, a média per capita melhora para 10.546/habitante – ainda abaixo da média da Capital, com 10.214/habitante, epicentro da doença no Brasil.
Não é à toa que os prefeitos pedem cerca de 130 respiradores para novos leitos de UTIs e verbas tanto dos governos do Estado e da União, conforme ofício enviado na semana passada pelo Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista – Condesb, que reúne as nove prefeituras da região.
Afinal, o volume de leitos de UTI exclusivos para o Covid-19 tende a ficar cada vez mais insuficiente a medida que novos pacientes precisarem de leitos de urgência para ganhar a guerra contra o vírus.
E a disparidade regional assusta.
Tanto em casos, como na oferta de leitos.
Apenas Santos registrou neste domingo (3), 679 pacientes confirmados, sendo 155 internados (75 em UTIs).
Assim, a ocupação destes leitos é de 66% (sete em cada dez).
Santos responde por 61% do total de leitos de UTIs na região, com base nos dados do Ministério da Saúde.
Se os índices avançarem, o impacto será metropolitano.
Números oficiais
Conforme o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde, a Baixada Santista tem na atualidade 214 leitos de UTIs exclusivos para pacientes do Covid-19, sendo 203 em UTIs adultos e 11 pediátricas (apenas Santos oferece tais leitos).
Assim, a Baixada Santista tem 1 leito para pacientes Covid-19 (adulto e pediátrico) a cada 8.560 pessoas, com base na população regional.
Estes números são os reconhecidos – após envio pelos hospitais e secretarias municipais – pelo Ministério da Saúde para efetivo cadastro.
Aliás, das 11 unidades destinadas para crianças, apenas uma é ocupada por um menor de 13 anos.
Outros 4 pacientes adultos foram deslocados para tais leitos.
Porém, os números são conflitantes, impedindo um cenário real sobre a situação.
Um especialista na área médica – que pediu anonimato – informa que a diferença talvez decorra da falta de credenciamento destes leitos por parte do Ministério da Saúde, por razões diversas, como o processo de cadastramento, até demora no reconhecimento e repasses de verbas, ficando a fatura destas despesas com os municípios, pressionados em arcar com tais despesas.
Santos, por sua vez, informa que são 200 leitos de UTI adulto (público e privados), com taxa de ocupação de 66% até domingo (3).
Na rede privada, a média é de 78% e no SUS, de 51%.
São 55% entre moradores de Santos e 45% das cidades vizinhas, especialmente de São Vicente, o que motivou as críticas públicas entre o prefeito vicentino e o secretário de saúde santista.
Ministério da Saúde
Já pelos dados atualizados do Ministério da Saúde, são 120 leitos adultos para o Covid-19 e 11 para menores.
E no total regional, 203 leitos de UTIs adultos e 11 pediátricos, conforme o Ministério da Saúde (a prefeitura santista, única que oferece este serviço, informa que são 33).
Existem casos de cidades que não oferecem leitos de UTIs para o Covid-19, segundo o levantamento do Ministério da Saúde.
Como Peruíbe e Mongaguá, ambas no Litoral Sul.
Pelo levantamento oficial da pasta, esta é a quantidade de leitos de UTIs disponíveis para pacientes do Covid-19 até hoje (3) (veja abaixo):
Dados
Itanhaém – 10 leitos adultos
Mongaguá – não tem
Peruíbe -não tem
Praia Grande – 34 leitos adultos
Santos – 120 leitos adultos e 11 pediátricos
Cubatão – 10 leitos adultos
Bertioga – 10 leitos adultos
Guarujá – 10 leitos adultos (prefeitura promete mais 20 com entrega de hospital de campanha nesta segunda (4) )
São Vicente – 9 leitos adultos
Fonte: CNES – Ministério da Saúde
Disparidade per capita
A discrepância fica ainda mais clara quando comparamos o total de leitos à população geral de cada cidade.
Conforme levantamento do Ministério da Saúde, o Estado de São Paulo tem 2.878 leitos credenciados de UTIs exclusivos para pacientes do Covid-19, sendo 40% na Capital.
A média estadual é de 15.492 paulistas/leito de UTI (Covid-19).
Na Capital, epicentro da doença, são 10.214 paulistanos/leito de UTI.
Por aqui, o problema já começa com as cidades de Peruíbe e Mongaguá, que, conforme o Ministério da Saúde, não contam com qualquer tipo de leito.
Somadas, as populações de ambos os municípios supera 120 mil moradores – quase a população de Cubatão.
Pacientes de ambas as cidades que necessitam de atenção especial, por exemplo, são deslocados para os municípios vizinhos, que já atendem as demandas locais.
A título de comparação, com base nos dados do Ministério da Saúde, a discrepância per capita é 11 vezes maior entre Santos e São Vicente, por exemplo, alvo dos embates entre os dois gestores públicos.
Comparação entre leitos e população
Bertioga – 1 leito de UTI Covid-19 para cada 6.329 moradores
Cubatão – 1 leito de UTI Covid-19 para cada 12.914 moradores
Guarujá – 1 leito de UTI Covid-19 para cada 31.640 moradores (não estão computados os 20 leitos prometidos para funcionarem no Hospital de Campanha. Com eles a média cai para 10.546)
Itanhaém – 1 leito de UTI Covid-19 para cada 9.875 moradores
Praia Grande – 1 leitos de UTI Covid-19 para cada 9.319 moradores
Santos – 1 leito de UTI Covid-19 para cada 3.272 pessoas (incluindo leitos adultos e pediátricos)
São Vicente – 1 leito de UTI Covid-19 para cada 39.769 pessoas.
Fonte: CNES – Ministério da Saúde
Obs.: Mongaguá e Peruíbe não têm leitos de UTIs cadastrados no sistema do Ministério da Saúde