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Dia da Consciência Negra

18 DE NOVEMBRO DE 2016

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Conheça a história de três mulheres negras que lutam diariamente pela causa

A luta mudou de perspectiva, mas continua para a população negra no País e no mundo, principalmente para as mulheres

Por: Da Redação

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Neste domingo (20) é o Dia da Consciência Negra. Isso todos sabem, mas de fato o que a data representa para o País? Será que evoluímos? Historicamente é possível dizer que sim, afinal o fim da escravidão já completou 128 anos. Mas e o racismo? E a violência? Existe uma evolução a se comemorar? A luta mudou de perspectiva, mas continua para a população negra no País e no mundo. Como diz a rapper e militante Preta Rara, a senzala só mudou de lugar. “A senzala moderna é o quartinho da empregada”, fala.

Na última quinta (17), no Encontro Literatura e Mulheres, na Realejo Livros, o prólogo de um livro mudou o linear desta reportagem e reflito o quão pouco se sabe da história dos negros no País, que fica ainda mais obscuro se for sob a perspectiva das mulheres negras. Baseado em histórias reais e ancorado em fontes de pesquisa, Um defeito de cor, da escritora e historiadora Ana Maria Gonçalves, é um romance de personagens reais e fictícios que convivem na obra para contar a saga da população africana e afrodescendente no Brasil na voz de uma mulher negra: Kehinde, da tribo africana Iorubá. História encontrada pela escritora em manuscritos que estavam sendo usados como rascunhos para crianças desenharem na Bahia. Só desta história já se vê a pouca importância às nossas origens. E quantas memórias não se perderam.

A ideia inicial era ouvir negros e negras que lutam pela causa, diariamente. O músico e ativista político Maurão Mariano – entrevistado para este reportagem – que me desculpe, mas a preferência será para elas: a rapper e professora Preta Rara, a produtora cultural Day Rodrigues e a professora e pesquisadora Dida Dias. O que elas têm em comum? São mulheres, negras, ativistas que descobriram a causa ao longo da vida, após anos de opressão sem ao menos refletir ou pior saber que eram oprimidas pela cor da pele.

Para Day, que recentemente lançou o documentário Mulheres Negras – Projeto de Mundo, a questão do racismo é estrutural, ou seja, está inserida nas instituições (privada e pública), nas relações interpessoais e diante a construção do que é ser uma pessoa negra, de acordo com a história do Brasil escravocrata. “Sendo assim, a população negra herdou esse fardo, que deveria ser um problema de todas e todos”. No documentário, nove mulheres (Aldenir Dida Dias, Ana Paula Correia, Andréia Alves, Djamila Ribeiro, Francinete Loiola, Luana Hansen, Monique Evelle, Nenesurreal e Preta-Rara) reafirmam estas questões. Pela página no facebook, com o mesmo nome do filme, é possível acompanhar a agenda de exibição.

E é o que mostra também a página do facebook Eu Empregada Doméstica, idealizada por Preta Rara, hoje com mais de 130 mil curtidas e que está com campanha online para a publicação de um livro, no Catarse. A ideia é uma narrativa com relatos de Preta Rara e das outras protagonistas que surgiram com suas histórias na página. Recentemente a rapper santista falou na conferência internacional TedxSãoPaulo, emocionando a plateia e reafirmando a luta das mulheres negras no País, que representam 70% das 6 milhões de empregadas domésticas. “Nossa voz vai ecoar em outros lugares”, enfatizou.

Preta Rara

Entrevista com Preta Rara

“Meu foco principal é gerar incômodo. Acredito que expondo, falando o que acontece é que conseguiremos causar uma mudança. Está mais do que na hora das pessoas pararem e escutarem, sem falar que é mimimi nosso, tem que ser uma dicussão com todos. Com a música é mais fácil abordar estas questões e as pessoas ouvirem. E agora com a página (Eu Empregada Doméstica), que não foi nada programada, colocamos o assunto ainda mais em discussão. Eu achava que era uma situação do passado. Achei que tínhamos evoluído desde 2009, mas não. Foi uma surpresa receber tantos relatos atuais” (…) Meu empoderamente foi com uma construção de muito tempo. Por meio do conhecimento. Até então todas as opressões que sofria não entendia. Achava que era realmente o meu lugar. Quando ouvi de uma patroa que eu não deveria estudar, porque minha mãe e minha avó tinham sido empregadas e estava procrastinado isso para mim, que minha sina era servir, eu acreditei. Este empoderamento que me trouxe até aqui continua. E será até o final da vida”. conclui.

Day Rodrigues

day“Quando pensamos na mulher negra, as opressões dobram por conta do machismo, que somado ao racismo nos deixa na base da pirâmide social. As políticas públicas para as mulheres, quando não conseguem fazer um recorte racial, nos deixa à margem das violências e abusos. A minha luta começou quando entendi que eu não sabia até os 27 anos que eu era negra. Fui saber disso quando fui morar em Salvador, quando me aproximei dos movimentos sociais, do movimento negro e recentemente das feministas negras. Dessa forma, quando entendi o que é ser mulher negra, do quanto fui invisibilizada e silenciada por isso, entendi que a luta contra o racismo também é minha. E o meu filme Mulheres Negras: Projetos de Mundo chega nessa direção, de que as mulheres negras estão bem distantes dos estereótipos das telenovelas e programas de humor e que temos força política, história de resistência e sabemos muito bem para onde estamos indo e onde queremos chegar”.

Dida Dias

didaAo ser perguntada quando começou a lutar pela causa, Dida responde: “É engraçado esta pergunta para quem é negro. Imagina que país é esse que uma pessoa negra pode ser perguntada sobre isso? Quando deveria ser algo próprio, mas não é o que acontece. A pergunta é válida porque esta não é uma luta nossa, por conta do peso do mito da democracia racial, do próprio peso do que foi e é o racismo no Brasil. Que esconde e coloca debaixo do tapete, não nos deixando discutir. Vivemos numa sociedade patriarcal e não percebemos. Descobri não faz muito tempo. Passei 50% da minha vida sem refletir sobre isso. Tenho 60 anos e eu comecei a refletir e pesquisar sobre o tema por volta dos 30, quando já estava na sala de aula como professora”, conta. Antes, Dida achava que a falta de oportunidades era um problema de capacidade. “Já fazia parte de movimentos feministas desde os 20 anos, mas percebi depois que era tratada daquele jeito por ser mulher, pobre, nordestina e negra”, conta. Militante política desde os anos 80, Dida aceitou o convite para ser candidata a vereadora em Santos neste ano. Não entrou, mas colocou o tema em debate. “Foi bom para as pessoas verem uma mulher, candidata, negra, doutora em Ciências Sociais, que sabe que é explorada e oprimida. Este empoderamente que já temos é nada do que merecemos, tanto nós mulheres como todo o povo negro”. Neste sábado (19), ela promove a oficina Ritual das Bruxas no Sesc.

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