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Arte: Bruno Yego

Refúgio

02 DE OUTUBRO DE 2015

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Conheça histórias de quem viu em Santos uma chance para recomeçar

Conheça as histórias do haitiano Louissant Estelus e do sírio Salam Alzubedi, alguns dos estrangeiros que escolheram Santos como seu novo lar

Por: Da Redação

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“Em um mundo onde circulam, livremente, mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas (…) Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos. Estamos abertos, de braços abertos para receber refugiados”. Com este discurso a presidenta Dilma Rousseff deu início à Assembleia Geral da ONU, na última segunda-feira (28).

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As palavras de boas vindas da presidente foram comemoradas por especialistas no assunto, mesmo que na prática ainda falte muito a se fazer no que diz respeito às políticas públicas de abrigo e de emprego para estas pessoas. Responsabilidade que atualmente está na mão de igrejas e instituições não governamentais.

De acordo com Patrícia Gorisch, advogada e pequisadora do assunto, o Brasil tem este papel humanitário, no qual a ONU e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) contam com este respaldo. “Enquanto Cátedra Sérgio Vieira de Mello, a gente está montando junto com o secretário (Nacional de Justiça) Beto Vasconcelos um Plano Nacional dos Refugiados, que surgiu por conta da demanda dos haitianos. Interessante que o secretário está ouvindo os pesquisadores que convivem com esta realidade. Hoje, a grande preocupação é trazer estas pessoas, mas também dar-lhes oportunidade”.

A dificuldade de inseri-las na sociedade ainda vem do preconceito, segundo Gorisch, principalmente pela falta de informação. “Será que se a criança síria, encontrada na praia, fosse negra, teria tanta comoção como teve? Acho que não. Por que as pessoas se comoveram agora se já está sendo falado disso há tantos anos? A figura desta criança acabou sensibilizando, o que tem um lado bom, é claro, pois fez com que o debate fosse ampliado”.

Números
A população de refugiados no Brasil vem crescendo de forma acelerada entre 2013 e 2014 (até outubro), segundo o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados). Ainda de acordo com o comitê, o País concedeu status de refugiados a mais de 2 mil sírios desde 2011 até agosto deste ano. Em 2014, a maioria das solicitações de refúgio foi apresentada em São Paulo (26% do total), seguida pelo Acre (22%), e Rio Grande do Sul (17%).

Em Santos
Mesmo sendo uma cidade portuária, abrigando o maior porto da América Latina, Santos não oferece serviços específicos para refugiados ou imigrantes, que chegam das mais diferentes formas. Existe demanda até pelos números divulgados de refugiados na Cidade, mas se ainda não há apoio como uma casa de refugiados ou mesmo políticas, o estudo – porém – ganha vez.

Desde 2012, a UniSantos oferece bolsas integrais de estudos para refugiados residentes no Brasil. Atualmente, seis bolsistas cursam faculdades. A iniciativa integra as ações da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da UniSantos, em parceria com o ACNUR.

“Muita saudade. Dói o coração” – Haitiano

Há um ano, Louissaint Estelus desembarcou em São Paulo no aeroporto de Guarulhos. Ficou dois meses na capital até que recebeu o convite do dono da pizzaria Piccola de Santos para trabalhar como garçom. A princípio não gostou, pois gostaria de atuar como mecânico, sua profissão no Haiti, mas aceitou. Desceu a Serra e no dia 16 de janeiro começou a trabalhar. “No começo foi muito difícil para falar português. Conheço pessoas que já moram aqui há dois anos e ainda não falam muito bem. Mas as pessoas tiveram muita paciência e hoje está mais fácil”, conta Louis, como é chamado pelos colegas de trabalho. E o português já melhorou bastante. Hoje, é o seu quarto idioma de Louis, que sabe inglês, francês e crioula, língua local.

A opção de vir para o Brasil surgiu após ficar desempregado. De uma família com boas condições, Louis possuía casas e comércio, porém tudo se foi no terremoto que devastou o país em 2010. Após a tragédia ainda conseguiu emprego como motorista de ambulância, mas o perdeu e passou seis meses sem fazer nada. “Decidi vir para o Brasil para trabalhar e estudar. Fui no consulado do Brasil e foi muito difícil conseguir o visto, mas o obtive por 5 anos. Fiquei muito feliz”, conta o haitiano que precisou desembolsar apenas de passagens U$1400 (R$ 5.800), fora o dinheiro que trouxe para os primeiros dias. Teve ajuda da família. Algo que muitos não conseguem. Amigos de Estelus, que também moram em Santos, e optaram por não dar entrevista, tiveram uma trajetória bem diferente para chegar na Cidade, vindos pelo Acre.

A rotina em Santos se divide entre a pizzaria e os cursos no Senai, onde estuda Elétrica e Refrigeração. Estelus conta que hoje gosta de onde trabalha e das pessoas, mas que tem muita vontade de voltar. “Muita saudade. Dói no coração”, diz Loius que pretende voltar ao Haiti após terminar os estudos. “Quero ficar perto dos meus pais e mais perto da minha filha, que se mudou com a mãe para o Canadá, depois que sai do Haiti. Voltando, ficará mais fácil visitá-la”, conta.

_MG_0667“Minha vida recomeçou aqui”  – Sírio
Técnico em Tecnologia da Informação e professor de inglês, o sírio Salam Alzubedi conheceu pela internet um médico brasileiro que o encorajou para vir para o País e o ajudou quando chegou. “Agora que estou aqui não consigo me imaginar voltando para a Síria. Minha vida recomeçou no dia em que cheguei aqui”, conta Salam que desembarcou no aeroporto no dia 4 de dezembro passado, data que nunca esquecerá. Foi um recomeço e se tornou quase uma data de aniversário. O médico – para quem dava aulas de inglês – o esperava no aeroporto. Vieram para Santos. Quatro meses depois, chegou sua esposa e agora esperam pelo irmão, que está tentando entrar no Líbano para conseguir o visto do consulado brasileiro, que diminuiu a burocracia para quem foge da guerra.

A parte difícil é passar pela fronteira, pois o consulado de Damasco, na Síria, está fechado por conta da guerra. Assim, a única forma é ir para o Líbano. Uma viagem que antes demorava uma hora, hoje ultrapassa um dia inteiro de espera para ser liberado para o outro lado. “Tínhamos uma vida normal. Vivíamos em paz. A guerra começou há cinco anos e foi piorando a cada dia. Perdemos coisas importantes e pessoas. Não temos outra opção a não ser sair e buscar uma nova vida”, relembra. O consulado, segundo Salam, dá o visto, mas avisa que no Brasil o governo não dá ajuda para emprego, casa ou salário. “Vai começar sozinho no Brasil”, lembra Salam, que já conseguiu trabalho em sua área.  Ao chegar a Santos, procurou jornais e contou sua história.

Foi quando o secretário da Sociedade União Antioquina, Bruno Oliva, leu a história e levou ao conhecimento dos membros da entidade. Todos decidiram ajudar e ofereceram um apartamento. A associação, que completa 90 anos, volta às suas origens a ajudar Salam, como o explica o presidente Demetrio Obeidi e o tesoureiro Oscar Hushi. “Quando a associação surgiu na época de nossos pais era para ajudar os sírios que estavam chegando no País. Hoje retomamos à origem”, conta Demetrio.

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