O desemprego cresce no Brasil. O índice já passa de mais de 8 milhões de pessoas sem ocupação conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Baixada Santista não foge desta tendência. O crescimento de desemprego já é sentido, sobretudo pelos setores portuário e industrial, segmentos vitais para a economia de Santos e região.
Na última semana, o anúncio de demissões em massa (pelo menos 4 mil) pela siderúrgica Usiminas, a antiga Cosipa, localizada em Cubatão, agravou ainda mais este quadro. O presidente do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, Florêncio Resende de Sá, o Sasá, disse que a notícia das dispensas pegou a todos de surpresa e que a Usiminas não anunciou um planejamento com o cronograma de demissões. “Uma das preocupações do sindicato no momento são os trabalhadores terceirizados, pois a estabilidade dos demais está garantida até o dia 23 de dezembro por conta da ação judicial que envolvia o dissídio coletivo”, ressalta.
De acordo com o sindicalista, se as demissões forem levadas adiante, cerca de 7 mil trabalhadores serão impactados em um primeiro momento, sem contar com as consequências na cadeia produtiva da economia regional. Paralisações de sindicatos estão previstas para ocorrer a partir da próxima quarta-feira (11). Neste meio tempo, ocorreram conversas e mobilizações de sindicatos, dos membros do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), do Fórum Cresce Baixada, criado em maio deste ano, e inclusive, do Ministério do Trabalho, para negociar uma saída para evitar os desligamentos.
Motivos
O momento de instabilidade econômica vivido pelo País e problemas de competitividade da indústria brasileira são as causas apontadas pelas empresas para o corte de pessoal. Em nota, a Usiminas diz que seus estudos apontaram a necessidade de ajustes, que entende a movimentação dos setores organizados da sociedade em torno do anúncio de desativação temporária das áreas primárias da Usina de Cubatão, e tem consciência do reflexo desta medida para a região.
A Usiminas acumula, nos nove primeiros meses de 2015, prejuízo líquido de R$ 2 bilhões. A empresa estima o desligamento de 2 mil empregados diretos na Usina de Cubatão. O impacto sobre os empregados terceirizados ainda será mensurado, mas acredita-se que será algo em torno de 2 mil também.
Contudo, o sindicalista Sasá entende que a falta de investimentos da empresa tem uma grande parcela neste momento de crise. “A Usiminas conseguiu junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiamento de R$2 bilhões em 2014 para investir na planta de Cubatão. Parece que isso não foi feito. A empresa planejou a paralisação definitiva na produção de aço. Desde 2011, não foi investido um centavo na estrutura produtiva. Agora, aproveitaram o momento de crise para anunciar algo já planejado”.
Impacto portuário
Uma soma de fatores, incluindo problemas de investimento e erros administrativos são as causas apontadas pelo presidente do Sindicato dos Empregados Terrestres em Transportes Aquaviários e Operadores Portuários de São Paulo (Settaport), Francisco José Nogueira da Silva, para as demissões ocorridas no Porto de Santos.
Desde janeiro os terminais Libra, Santos Brasil e Ecoporto já fazem cortes graduais de pessoal. De acordo com Nogueira, a lista e demissão para esse mês é de 210 trabalhadores representados pelo Settaport no terminal Ecoporto. “Estamos negociando alternativas como redução de jornada e salários para evitar essas demissões e garantir a estabilidade”. No primeiro semestre foram 1.300 desligamentos no Porto de Santos.
Os estivadores avulsos também sentem o reflexo da crise. De acordo com um trabalhador, que não quis se identificar, a convocação tem diminuido nos últimos meses no maior complexo portuário da América Latina. Para o sindicalista, tudo isso é reflexo da instalação dos terminais Brasil Terminal Portuário (BTP) e Embraport, fruto da Lei dos Portos — a chegada de novos terminais fez com que as fatias do bolo fossem menores para cada empresa. “Houve aumento de espaço físico na área portuária, mas a demanda de movimentação não cresceu proporcionalmente. A baixa das transações comerciais internacionais também teve uma responsabilidade significativa neste processo”.
Outro fator preponderante para aprofundar a situação no Ecoporto foi o incêndio de grandes proporções no terminal da Ultracargo, no Distrito Industrial da Alemoa, em abril deste ano. “O bloqueio na margem direita fez com que empresas recorressem à mudança de terminais. Uma delas teve que operar na Embraport ao invés da Ecoporto na época do incêndio e acabou ficando por lá até hoje em razão das taxas mais atraentes. O cliente representava 70% da movimentação do Ecoporto”, afirma Nogueira. Procurada, a assessoria da Ecoporto não se manifestou até o fechamento da reportagem.