Desigualdade volta à pauta nas eleições em Santos | Boqnews
Foto: Luiz Nascimento

Cidades

06 DE NOVEMBRO DE 2020

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Desigualdade volta à pauta nas eleições em Santos

Em meio às campanhas eleitorais, as áreas periféricas ganham visibilidade. Na prática, porém, o cenário pouco muda

Por: Da Redação

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Algumas pautas são figurinhas carimbadas dos candidatos à Prefeitura de Santos. A cada quatro anos, os políticos buscam apresentar projetos que melhorem o município. Um deles é o plano para diminuir a desigualdade social que atinge diversos pontos da Cidade, como os morros, cortiços no Centro e especialmente a Vila Gilda, onde está situada a maior favela de palafitas da América Latina.

De acordo com a cientista política Clara Versiani, a desigualdade social nos últimos anos é algo que precisa ser evidenciado, ou seja, é natural que a pauta esteja ligada aos candidatos nas eleições, principalmente em 2020 por conta da pandemia da Covid-19.
“Além da desigualdade nos serviços prestados, a população de maior vulnerabilidade tem sido a que mais sofre no contexto da pandemia na área econômica, social e também na saúde.

Dessa forma, faz sentido que os políticos tenham o discurso como uma das prioridades. Estranho seria se isso não acontecesse”, ressaltou Clara.

A cientista também destacou o motivo das comunidades serem menos priorizadas após a eleição “As pessoas que moram nestas áreas são minoria, sem representatividade na política, com discriminação e assim não conseguem levar suas respectivas reinvindicações adiante no poder municipal”, enfatizou.

Cenário

Os números expressam bem o tamanho da desigualdade em Santos. Conforme os últimos dados sobre o perfil do município em 2010, diversos bairros têm contrapontos de alta disparidade. A faixa do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano) é alta na cidade chegando a 0,840 na escala até 1,000. Todavia, este cenário traz contrastes expressivos.

Enquanto a população dos bairros do Boqueirão e Gonzaga tem um IDH de nível europeu, as áreas em maior vulnerabilidade apresentam índices de países pobres.

O último dado, do Censo de 2010, apontava que 8,08% da população de Santos era vulnerável à pobreza, 2,39% eram pobres e 0,60% extremamente pobres. Em números, quase 50 mil santistas.

Morros

No começo do ano, morros em Santos vivenciaram uma tragédia/ Foto: Divulgação

Os morros em Santos sempre precisaram de atenção. No começo de março, um temporal causou uma tragédia, não só na cidade, mas também na região.

Quase 50 pessoas morreram na Baixada Santista devido à forte chuva que provocou deslizamentos nos morros. Guarujá liderou o número de vítimas fatais, seguido por Santos, com mortes nos morros do São Bento, Tetéu e Fontana. Há décadas tal situação não ocorria na Cidade.

A tragédia apenas refletiu a situação de desigualdade que estas comunidades enfrentam. A forte chuva levou alguns danos também a outros bairros, mas nada parecido, como nos morros, onde algumas famílias perderam tudo. Os governos estaduais e municipais fizeram um plano para realizar as obras de melhoramento nas áreas, após os acontecimentos.

Outro fator preponderante foi a ajuda de entidades, igrejas e ongs que se mobilizaram para distribuir doações.

Agora, os morros ganham destaque nos horários eleitorais com promessas de obras. Outro fator é o poder eleitoral da área com muitos eleitores, nos quais podem decidir o futuro prefeito ou os representantes na Câmara.

De acordo com o morador da Vila São Bento, Matheus da Silva, os morros precisam de mais atenção por parte das autoridades, sobretudo em alguns setores, como transporte, lazer e cultura.

Ele citou que há poucas opções de linhas no local e que as existentes demoram para passar. Outro problema é a falta de opção de lazer para as crianças e jovens, como espaços esportivos e musicais.

Linhas, como a 100 e 118, tem ausência de micro-ônibus. Assim, os moradores precisam ir até o terminal para embarcar em outro veículo para chegar ao destino. Os moradores também lidam com o preconceito por parte de motoristas de aplicativo que não sobem os morros.

Para Alzira Lúcio, que realiza trabalhos voluntários nas comunidades em Santos, os morros estão em situação de abandono com diversos problemas que se agravam ao decorrer dos anos, como a saúde pública.

Vila Gilda

Local tem a maior área de moradias de palafitas da América Latina/ Foto: Divulgação

A Vila Gilda certamente é a área mais delicada em Santos com condições precárias. Assim como outras comunidades que margeiam o Rio do Bugre, o local não tem saneamento básico, ou seja, o lixo e os dejetos humanos vão direto para o rio.

As moradias de palafitas são vulneráveis, com risco de destruição a qualquer momento pelos fenômenos da natureza, como vendavais ou maré alta. O presidente do Instituto Arte do Dique, José Virgilio, enfatiza que os temporais já provocaram uma série de incidentes no local. O problema em relação ao meio ambiente também é visível. Antes, era possível se alimentar com os peixes do rio. Hoje, eles estão contaminados.

Cortiços

Cortiços estão espalhados no Centro de Santos/ Foto: Luiz Nascimento

Outra dura realidade em Santos são os cortiços, onde centenas de famílias dividem o mesmo espaço em sub habitações que já sofrem com problemas estruturais, como falta de luz, água e alguns casos há riscos de desabamentos de tetos devido à falta de manutenção das casas.

Candidatos que buscam uma vaga no Poder Executivo já falaram publicamente que pretendem realizar ações no local para oferecer condições de moradias melhores para esta população. Promessas, portanto, não faltam. Além destas áreas, existem várias outras com desigualdade social, como a Vila Telma, a Alemoa e a Vila dos Criadores, áreas de elevado risco de incêndios.

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