Cidades que flexibilizaram têm maior número de pessoas com Covid-19 | Boqnews
Mapa da Baixada Santista. Foto: Divulgação

Epicobs

06 DE MAIO DE 2020

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Cidades que flexibilizaram têm maior número de pessoas com Covid-19

O estudo Epicobs deixa claro que as cidades que anteciparam a flexibilização do comércio são as que apresentam o maior número de casos de não notificados.

Por: Fernando De Maria

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Coincidência ou não, os municípios da Baixada Santista que flexibilizaram as regras para funcionamento do comércio são os mesmos que apresentam, de forma proporcional,  um número maior de moradores com anticorpos do coronavírus, conforme o estudo Epidemiologia da Covid-19 na Região Metropolitana da Baixada Santista (Epicobs).

A primeira etapa do levantamento ocorreu no final de abril e início de maio e foi realizada pela Fundação Parque Tecnológico, com apoio das universidades da região, a pedido do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista (Condesb) realizado no último final de semana nos nove municípios da Baixada Santista.

O levantamento atual leva o cenário ocorrido há duas semanas, ou seja, tempo de incubação do vírus (até 14 dias no corpo humano – período da quarentena).

Por isso, outras três etapas serão realizadas, sempre a cada 15 dias: duas em maio (por volta dos dias 14 a 16, e 29 a 31).

E outro no final da primeira quinzena de junho.

O objetivo é monitorar o quadro de evolução do vírus na região e acompanhar as discussões sobre flexibilização ou não das atividades.

Neste primeira primeira etapa, foram colhidas 2341 amostras. (veja quadro abaixo)

 

55% de isolamento

Em coletiva nesta quarta (6), o governador João Doria  informou que qualquer flexibilização dos serviços passará pelo aumento do isolamento no estado – ontem, atingiu 47%, mas cidades como Santos, por exemplo, têm registrado índice menor (46%).

Ou seja, existem mais pessoas nas ruas do que fazendo o isolamento.

O coordenador do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, o médico infectologista David Uip, alerta que em razão da queda sucessiva do isolamento no estado e o crescimento gradual de casos de infectados, inclusive de mortes, a taxa de isolamento deverá ser de 55% para uma possível flexibilização.

Desta forma, para tentar reverter o crescimento brutal dos casos, que estão contribuindo para o preenchimento de leitos em UTIs e enfermarias.

 

Primeira amostra

No primeiro levantamento,  foram 33 amostras positivas (veja quadro), o que representaria 1,41% da população, levando em consideração os dados populacionais do IBGE de 2010.

Assim, conforme o estudo, cerca de 23,3 mil pessoas já teriam anticorpos do Covid-19, sendo assintomáticos ou com sintomas leves, na maioria das vezes desconhecendo que são portadores do vírus.

Pelos dados atualizados da Fundação Seade, este número seria pouco superior: cerca de 25,2 mil pessoas.

O que chama a atenção é que, proporcionalmente, cidades que anteciparam as regras de flexibilização são as que apresentam o maior número de moradores com anticorpos do Covid-19.

Ou seja, já tiveram a doença – ou estavam com ela durante o período dos testes sanguíneos para a pesquisa.

E pior: continuam circulando e correndo o risco de transmitir o vírus para outras pessoas, multiplicando o total de infectados.

 

São Vicente

É o caso de São Vicente, que flexibilizou as atividades comerciais no último dia 17.

Em decreto municipal, o Executivo local havia autorizado o funcionamento de estabelecimentos como lan houses, salões de beleza e lojas de cosméticos.

No entanto, houve uma explosão de estabelecimentos abertos, inclusive camelôs no centro vicentino, além de pessoas circulando na faixa de areia e orla da praia.

A Prefeitura só teve que recuar em razão de um pedido do procurador-geral de Justiça, Mário Sarrubbo, por considerar o decreto inconstitucional.

E assim, o Judiciário concedeu liminar suspendendo a liberação de atividades não essenciais no município de São Vicente durante a quarentena decretada pelo Estado para conter a disseminação da covid-19.

Por sua vez, a relatora Cristina Zucchi concordou com o alegado pela PGJ ao considerar que o decreto de São Vicente “amplia o rol de exceções à suspensão do comércio dispostas no decreto estadual, o que, a princípio, aponta a probabilidade de violação ao pacto federativo”.

E acrescentou que as normas municipais não podem exceder ou contrariar as normas federais e estaduais existentes sobre o assunto, destacando ainda a necessidade medidas de isolamento social como forma de prevenção contra o novo coronavírus.

No entanto, a Administração promete recorrer.

 

Amostras

Como reflexo, das 33 amostras positivas, 10 eram de moradores vicentinos, equivalente a 2,04% da população vicentina, que já tem anticorpos do vírus, o equivalente a quase 7 mil pessoas.

Além disso, para cada notificado oficialmente no município (na segunda (4), eram 179, hoje (6), 213), 37 pessoas não foram notificadas – ou seja, são assintomáticos ou tiveram reações leves.

“Sem dúvida, há uma relação causal entre o total de amostras positivas com a flexibilização”, alerta o coordenador da pesquisa Epicobs, o médico infectologista, Marcos Caseiro.

Confira o quadro abaixo.

 

Outras cidades

Situação semelhante ocorre em Guarujá, que tem 1,8% da população já com o Covid-19, e também flexibilizou as atividades comerciais desde do dia 18 de abril – cujos resultados já são mensurados neste primeiro levantamento.

Na segunda (4), a cidade tinha 223 casos confirmados.

Na terça (5), o número havia subido para 258.

Até o momento, não há qualquer manifestação do Judiciário para que ocorram as mesmas medidas das registradas em São Vicente.

“Há bastante gente nas ruas”, alerta o estudante João Olmos, morador da praia do Tombo, em Guarujá, que está preocupado com a abertura de comércios e gente circulando sem máscaras pelas vias públicas.

Situação também preocupante em Mongaguá, a menor cidade da Baixada Santista, que registrou 4 das 33 amostras positivas, representando 5,48% da população local.

E pior: para cada paciente oficialmente notificado, são 123 que não foram notificados, a pior proporcionalidade regional, conforme revela o estudo.

Morador da Flórida Mirim, o jovem Emerson Nascimento diz que no início o comércio local estava fechando, mas foi reabrindo aos poucos, aumentando a circulação de pessoas nas ruas.

“E muita gente não usa máscaras”, enfatiza.

Por sua vez, cidades com um desempenho melhor, como Praia Grande, com 0,79% dos moradores com anticorpos do Covid-19, conforme o estudo, tem um índice bem menor: para cada notificado oficial, 4 não foram notificados.

A média regional desta proporção é 13.

“Onde moro, os estabelecimentos próximos estão fechados”, explica o universitário Guilherme Coral, morador da Tupi.

“Mas tem gente circulando nas ruas com e sem máscaras”, alerta.

 

 

 

 

 

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