Greve afetará economia e impulsionará inflação | Boqnews
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Greve

Caminhoneiros

01 DE JUNHO DE 2018

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Greve afetará economia e impulsionará inflação

Greve dos caminhoneiros coloca em pauta o excesso de impostos pagos pela população sem a devida contrapartida

Por: Felipe Rey
Da Redação

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A greve dos caminhoneiros paralisou o País, causando enormes prejuízos a curto, médio e longo prazos. O movimento, porém, colocou luz a um velho problema: os altos índices de impostos que a sociedade brasileira paga sem a devida contrapartida.
Sem movimentação de cargas, hospitais, comerciantes e prefeituras foram prejudicadas devido a paralisação, que durou 11 dias.

Escolas e universidades foram impedidas de continuar as programações durante a última semana da greve. Tudo isso, devido a falta de combustível que prejudicaria os alunos de outros municípios com dificuldades para se locomover em razão da diminuição da frota de veículos.

Outro ponto foi a falta de merenda que ocasionou na suspensão de aulas em escolas municipais da região.

Comércio
Como as escolas, os hotéis e restaurantes também sentiram os prejuízo. Tanto que muitos restaurantes e estabelecimentos do setor alimentício acabaram fechando em razão da falta de gás e da entrega de alimentos – além da majoração excessiva nos preços.

O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e Vale do Ribeira (SinHores) destacou que a queda no número de reservas na rede hoteleira regional neste feriado (Corpus Christi), em comparação com o ano passado, despencou de 43% para 23%.

Falta de alimentos já começa a aparecer nos supermercados, como este na Ponta da Praia, em Santos.

Segundo a entidade, a média de ocupação em um feriado prolongado gira em torno de 80%. Já os restaurantes sentiram uma queda no movimento em torno de 50%. Entre segunda e terça-feira, os que conseguiram abrir notaram uma queda de 70%.

As praças de alimentação dos shoppings tiveram que se adequar à realidade. No Praiamar, na Aparecida, os restaurantes tiveram que adaptar os cardápios para melhor atender aos clientes diante da falta de produtos entregues.

“Sentimos queda aproximada de 18% no fluxo de veículos, mas por estarmos em bairro residencial boa parte de nossos clientes tem vindo a pé ”, finalizou a nota emitida pelo shopping.

Pesquisas
Pesquisa realizada pela FCDLESP – Federação das Câmeras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo mostrou que houve queda de 40% no movimento varejista, caso seja comparado com o mês de abril. Pelo menos, 84,78% dos entrevistados disseram que tiveram prejuízos com a paralisação.

Segundo o levantamento, comparando com o mês passado, 35,16% dos varejistas apontaram que houve queda de 40% no movimento do comércio.

Para 27,47%, a queda foi de mais de 10% no movimento. Apenas 14,29% disseram que não sentiram impactos da paralisação.
Segundo o presidente da FCDLESP, Mauricio Stainoff, a diminuição do transporte público, aliado à falta da gasolina trouxeram impactos signicativos nas vendas dos comércios, em razão da mobilidade afetar diretamente o acesso do público ao varejo.
O presidente afirmou ainda que nestas situações as pessoas tendem a economizar e priorizar o essencial, como no caso da alimentação.

Já a (CNDL) – Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, afirmou ser favorável à greve e solicitou aos associados e a todos os comerciantes que tenham, além de compreensão, solidariedade com a população.

Em nota, a CNDL pediu prudência neste momento que o País está passando. “Reprovamos qualquer iniciativa dos que queiram se aproveitar da preocupação dos brasileiros com o desabastecimento de itens perecíveis para aumentar o preço de produtos, em especial os de primeira necessidade. Mais do que nunca temos que ser cidadãos”, finalizou a entidade.

Transporte
Além dos comerciantes, muitos motoristas de aplicativos foram prejudicados por causa da paralisação, encerrada oficialmente na sexta (1) no Porto de Santos. Motorista de aplicativo de transporte privado, José Roberto de Toledo, reconhece ter enfrentado problemas durante o período da greve.

“Eu fui um pouco (prejudicado). Muitas pessoas ficaram desesperadas e começaram a gastar a gasolina. Eu cheguei a dosar, assim só trabalhava nos horários de pico”, ressaltou.

Toledo afirmou que, como o preço estava no ‘dinâmico’, aproveitou para conseguir ganhar um pouco a mais. Assim, trabalhou apenas no início e no final dos expedientes do usuários.

Os poucos postos que ainda tinham combustível atraíram centenas de motoristas e motociclistas.

Em contato com a Uber, o posicionamento da empresa foi de solidariedade aos caminhoneiros. Entretanto, afirmou que a procura por corridas foi de parâmetro normal. A empresa ainda ressaltou que o preço dinâmico funciona apenas quando a demanda é maior do que a oferta.

Em nota, a Cabify não divulgou dados em relação a procura e prejuízos causados pela greve dos caminhoneiros. Todavia, afirmou que na última quinta-feira (24), a empresa teve de alterar a tarifa mínima de determinadas cidades para reduzir o impacto causado pela alta do combustível por período indeterminado.

Além disso, ressaltou que está estudando a melhor forma de balancear o impacto operacional dos combustíveis, sem que isso inviabilize as prestações de serviços aos usuários do aplicativo.

Feirantes
Durante a feira de quarta (30), realizada na rua Santos Dumont, no Macuco, em Santos, foi possível encontrar diversos impactos causados pela paralisação para preocupação dos clientes e feirantes. Na orla, quiosques vazios mostravam falta de produtos, como até água de coco.

Além dos preços exorbitantes cobrados, pode-se notar que muitos dos feirantes simplesmente optaram em não trabalhar para não repassar os elevados custos aos consumidores. Cebola, batata e frutas foram os principais vilões da alta de preços.

O feirante, José Alvino, que trabalha há mais de 30 anos na feira, revelou que apenas algumas mercadorias chegaram por serem provenientes de locais mais próximos.

“As que não chegam são de outros Estados. Como, por exemplo, o mamão e manga, trazidos do Nordeste”, salientou.

Multiplicação de problemas

A paralisação de 11 dias na economia vai trazer duros golpes à sociedade. Professor de cursos de Comércio Exterior, Logística e Administração, Hélio Hallite comentou sobre os problemas que serão sentidos a médio e longo prazos.

Dentro de 10 dias, segundo ele, será possível fazer uma avaliação melhor do cenário. “A conta do ‘pós guerra’ poderá chegar a bilhões de reais. Eu estimo em R$ 20 bilhões, considerando os danos internos e no exterior”, ressaltou.

Hallite ainda comenta sobre os impactos da paralisação. Além disso, falou os motivos que levaram os caminhoneiros a se unirem por uma luta comum.

“Os caminhoneiros estavam no limite. Há tempos eles estão sendo explorados por usar o caminhão como “depósito” da produção. Fretes baixos, estradas ruins, insegurança (roubo de cargas), frutos da opção por uma matriz de transportes dependente do caminhão”, salientou.

Com os preços dos alimentos em alta, muitos comerciantes e varejistas se aproveitaram da paralisação para, assim, subirem os preços de modos exorbitantes. Segundo o professor, isso pode ser considerado crime.

“ Os atravessadores – e são muitos – se aproveitaram para lucrar. Isso foi um crime. Sabiam que o povo entraria em desespero. E aconteceu. Infelizmente temos essa “cultura” de explorar ou ser explorado. Faltou educação e inteligência para substituir a batata e o tomate”, ressaltou, destacando dois dos produtos que mais sofreram com a alta.

“No Brasil exportamos sem a carga que tributa aquilo que consumimos no mercado interno. Exportamos com melhor qualidade e com preços competitivos. Aqui, a exemplo do café, ficamos com subprodutos e pagamos muitos impostos”, salientou o docente.

Além disso, ele ainda ressaltou que poderão ocorrer novos capítulos da greve.  Segundo ele, os caminhoneiros notarão que os fretes continuarão ‘estrangulados’ por não cobrirem os custos, a despeito da queda do valor do diesel em R$ 0,46, como anunciado pelo presidente Michel Temer, valor contestado pelas distribuidoras, que prevêem redução de R$ 0,41. (FR)

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