No Brasil, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção, existem quase 8 mil crianças e adolescentes em condições de serem adotadas. Muitas passam grande parte da vida abrigadas em instituições, sem conhecer o verdadeiro sentido da palavra família.
Em números, não faltam pretendentes: há aproximadamente 40 mil pessoas na fila da adoção. Porém, especificações como sexo, idade, irmãos e doenças por parte do adotante fazem com que este processo seja ainda mais demorado e seletivo.
O interesse em adotar adolescentes de 15 a 18 anos é baixíssimo. Apenas 0,68% dos adotantes têm interesse por essa faixa etária que representa 40,82% do total de menores disponíveis para adoção. (cerca de 3.200).
Pelo menos 52% dos casais interessados em adotar se interessam por crianças de até 3 anos (16%). Ou seja, a partir desta idade, a dificuldade na adoção cresce.
O psicólogo e presidente da Casa Crescer e Brilhar, de São Vicente, Fernando de Oliveira, explica que também é nesta faixa etária acima dos 15 anos que o índice de devolução é maior.
“A adolescência já é uma fase difícil e muitos deles têm um histórico complicado. O medo do afeto é muito forte… O adolescente tem medo do reabandono, então, de alguma forma, acaba ficando mais resistente. Às vezes, a família está aberta para dar aquele amor”, acredita.
E se não for adotado?
Algumas dessas crianças passam praticamente todo o período da infância e adolescência vivendo em abrigos e nunca são adotados.
No entanto, chega um certo momento no qual é necessário dar os primeiros passos para a construção de uma nova vida. Oliveira explica que todo o respaldo é dado para que esse adolescente consiga trilhar um futuro. Cursos técnicos, preparo psicológico e, se necessário, auxílio para pagar o aluguel de um lugar onde morar.
Segundo a psicóloga e vice-presidente do grupo de apoio à adoção Maternizar, Elisa Yoshida, esse preparo é feito muito tempo antes. “Qual formação você gostaria de ter? No futuro você pretende morar com quem? Sei que é muita informação para uma criança que saiu de um contexto familiar que não deu respaldo (…) e como ele vai sobreviver, se ele não tem perspectiva de família”, diz.
Alguns desses adolescentes, ao se tornarem adultos, conseguem constituir família e/ou realizar seus desejos profissionalmente. Por outro lado, Elisa salienta que há uma grande parcela que por ficarem tanto tempo institucionalizados em abrigos não conseguem se adaptar à vida que existe do lado externo e acabam por cometer algum delito, trazendo-lhe problemas, com consequências futuras.
“Sentimento infinito”
Em meio à correnteza sempre tem quem nade contra a maré. O casal Mary Rose de Sá Vieira e Edelson de Azevedo Vieira faz parte deste grupo ao lutar pela guarda definitiva de Igor Silvério Grosser.
Ele tem Síndrome de Down, deficiência intelectual e 34 anos, mas nenhum desses fatores foi maior do que o amor que existe entre eles. “É um sentimento grande e infinito!”, diz Mary.
Para ela, adotar significa integrar outra pessoa na própria vida. “A gente sempre tenta fazer o melhor. Tem que ter um preparo muito grande para adotar. Amor não é passar a mão na cabeça”.
A família é de São Paulo, mas recentemente iniciou o processo de mudança para Santos. Foi aqui que eles enxergaram melhor qualidade de vida ao Igor.
“Em Santos, eu me senti acolhida. Existe mais humanização. Estou em um momento mágico, muita gratidão! Ver que cada vez mais ele se supera é uma felicidade sem tamanho”, revela Mary Rose.