As bandeiras vermelhas, que apontam as praias como impróprias para banho, estiveram fincadas nas areias de Santos na última semana. Afinal, todas, sem exceção, foram consideradas inadequadas, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Ainda assim, a cena não é rara, levando-se em conta que, em 2008, nas 53 semanas em que a empresa realizou seu monitoramento, essa foi a realidade da balneabilidade santista em 51% do tempo, conforme os dados das classificações semanais do último ano colhidas no site da Cetesb.
Os resultados são os piores dos últimos sete anos. Os números foram alavancados, principalmente, pelo desempenho das praias do José Menino (em seus dois pontos de coleta, em frente às ruas Olavo Bilac, na Pompéia, e Frederico Ozanan), e da Ponta da Praia, que permaneceram a maior parte de 2008 com classificação imprópria .
Vale lembrar, por exemplo, da proximidade da Ponta da Praia com a região do Estuário, o que a torna mais propensa a receber dejetos provenientes da atividade portuária e das favelas de Vicente de Carvalho, que não contam com saneamento básico.
A Cetesb, por sua vez, ainda não concluiu o relatório de balneabilidade para 2008, contendo os dados finais da análise anual. Os números divulgados devem-se à consulta ao site da autarquia.
Reunião
O caso de Santos não é único na região, já que, no último levantamento semanal, as seis praias locais impróprias para banho estão na lista do total de 35 da Baixada Santista. O tema, inclusive, foi o principal ponto de discussão do encontro realizado na quinta-feira (8), na sede da Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem), envolvendo os prefeitos da região e o secretário estadual de Meio Ambiente, Xico Graziano.
As condições de balneabilidade na região, de forma geral, foram classificadas como “preocupantes” pelo secretário, até pelo fato de, em muitas localidades da Baixada Santista, o turismo e a economia dependerem de uma boa condição nas praias.
“Precisamos ampliar as discussões sobre o tema para retirar as bandeiras vermelhas das praias. É uma ameaça cada vez maior”, resumiu, ao pedir que as prefeituras colaborem com projetos e idéias para se controlar em um melhor nível a qualidade da água. “É necessário melhorar o monitoramento. Não é possível que só o governo do Estado atue. Precisamos de uma parceria total”, reclamou.
A balneabilidade em Santos também preocupa o diretor-gerente da Cetesb, Paulo Sérgio Fonseca. Ele lembra da existência de esgotos clandestinos como grandes focos de poluição e, consequentemente, de impropriedade das praias. “Os esgotos clandestinos desembocam nos canais e, especialmente quando chove, para evitar o transbordo, as comportas se abrem. Com isso, toda a sujeira vai para o mar”.
A questão das chuvas é completada por Graziano. “Em 2007, o índice de balneabilidade das cidades foi melhor, devido a menor incidência de chuvas. Em 2008, voltou-se a ter resultados negativos, pois foi um período bastante chuvoso”, resume.
Participação popular
A participação popular, no entanto, também se vê necessária. O prefeito João Paulo Tavares Papa, por exemplo, defendeu planos de educação ambiental. “Infelizmente, muito do que afeta as praias da região é fruto de causas culturais, de uma falta de preocupação ambiental que ainda não está enraizada. As prefeituras podem e devem ajudar o Governo e à Sabesp a atacar essa questão”.
O secretário de Meio Ambiente sugeriu, ainda, a ampliação do sistema de coleta de lixo nas praias. “Precisamos colocar mais latas de lixo e trabalhadores nas areias. Não se pode falar em melhorar a balneabilidade das praias só pensando no saneamento básico. Há outras questões menores que podem ajudar a solucionar. Claro que precisamos pensar ‘macro’, mas não chegaremos a lugar algum se não analisarmos o ‘micro’”.
E mesmo fatores teoricamente pequenos, como os detritos de animais na orla da praia, são diferenciais nas análises da qualidade da água, como explica Fonseca, da Cetesb.
“Nossos relatórios analisam, dentre outras substâncias, os enterococos, bactérias identificadas em fezes de animais de sangue quente, como os cachorros. Por isso, recomenda-se evitar que os animais defequem próximo à praia, pois os detritos são levados a esgotos e canais e, posteriormente, às águas”, ressalta.
Gerenciamento costeiro
Graziano determinou um prazo de 90 dias para que o decreto sobre o Gerenciamento Costeiro da Baixada Santista esteja publicado no Diário Oficial do Estado. Na prática, pretende-se, no primeiro mês, elaborar junto ao grupo setorial, formado por membros do Governo e das prefeituras, a proposta para aprovação definitiva. Nos 30 dias seguintes, o projeto será levado ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) para ser enviado à Casa Civil para posterior publicação.
09 DE JANEIRO DE 2009
Maré negativa
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