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14 DE AGOSTO DE 2009

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Natalidade concentrada

O crescimento da população santista vem se estabilizando. Os números atualmente apontam que a Cidade possui 418.288 habitantes, conforme os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É também considerado, para que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) indique que determinado local como sendo desenvolvido, uma baixa taxa de natalidade como um […]

Por: Da Redação

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O crescimento da população santista vem se estabilizando. Os números atualmente apontam que a Cidade possui 418.288 habitantes, conforme os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É também considerado, para que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) indique que determinado local como sendo desenvolvido, uma baixa taxa de natalidade como um dos fatores — algo que vem ocorrendo em Santos. Ainda assim, as regiões de morros e principalmente a Central têm apresentado representatividades elevadas de nascimentos, tendo em vista sua pequena população, se comparada a outras zonas do município.

De acordo com um levantamento feito pelo Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc), em parceria com a Seção de Vigilância Epidemiológica (Seviep), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS),  apesar de a população residente nos 17 morros da Cidade representar apenas 8,1% de toda Santos, as taxas de natalidade dessa região têm sido equivalente, nos últimos quatro anos, a 22% do total de nascidos vivos no município.



Os números do Centro (que consideram também Paquetá, Vila Nova, Encruzilhada, Valongo, Vila Nova e Vila Mathias) são ainda mais significativos: embora tenha uma representatividade inferior a de duas pessoas a cada cem moradores na Cidade, atualmente a região, sozinha, já representa 10% dos nascimentos. Isso quer dizer que, em média, 32% dos bebês que nasceram em Santos nos últimos quatro anos — praticamente 1/3 do total — provêm de duas regiões onde a representatividade da população, conforme o último censo do IBGE, realizado em 2000, não chega a 10%.

Os números absolutos de nascimentos só ficam atrás dos encontrados na Zona Leste — 40% em igual período. O detalhe é que esta última é representada por 70% da população residente em Santos, o que torna os dados de Centro e morros preocupantes.

“Nessas regiões, esses dados têm uma relação direta com a pobreza”, alerta a socióloga Edna Gobetti Vieira Coelho, especialista em Educação Popular e Cultura, mestre em Educação e professora da Universidade Católica de Santos (Unisantos), ainda que o município, também conforme o instituto segundo avaliação feita em dezembro do ano passado, seja o de menor proporção de pobres no Brasil.

No caso dos morros, Edna considera passível de atenção o fato que, dessa vez, não se fala especificamente de migrantes se encaminham a Santos e se estabelecerem naquela área. “O que se destaca é esse percentual de natalidade alto, comparado a outros centros, ou seja, que há um número razoável de pessoas nascendo, o que não segue os demais centros”, aponta. “É algo que tem ligação com exclusão social e com a necessidade de um trabalho educacional que vislumbre a paternidade responsável”, alerta.

A pesquisadora e estatística Dalva Mendes Fernandes, uma das responsáveis pelo estudo O Grão de Trigo: Mapa da Exclusão/Inclusão da Região Metropolitana da Baixada Santista, explica, ainda, que as regiões Central e de morros fazem parte de um setor da Cidade que fica relativamente distante da chamada grande área urbanizada de Santos.

Acrescenta, todavia, que a situação no Centro é a de maior preocupação. “Naquela região, mora-se basicamente em cortiços, e apesar da proximidade de equipamentos municipais, de coleta de esgoto, etc., as moradias são insalubres, com muitas famílias residindo no mesmo lugar”, relata.

Fatores
Segundo Dalva, conforme observado no trabalho por ela desenvolvido, ao lado dos professores João Carlos Gomes e Maria Cidalia Ferreira, alguns fatores colaboram para que essas duas regiões, em especial, ainda apresentem representatividades altas de natalidade. Um deles é o grau de instrução detectado. “No Centro, a instrução é bem inferior ao restante da Cidade. Nos morros, há uma mescla, até porque ao mesmo tempo em que você tem famílias pobres, você tem outras com moradias de um nível mais elevado. Mas ainda assim, a média fica abaixo do geral de Santos”, revela.

Aliado a isso, está a maneira como as mulheres dessas diferentes áreas visualizam a vida. Constatou-se que, nos lados onde tem-se um poder aquisitivo mais elevado, a mulher — no caso, a futura mãe — possui uma maior independência, buscando emprego e encontrando-o com relativa facilidade. “Essa pessoa vislumbra um futuro e busca esse futuro. E com isso, em anos de crise, ela opta em ser mãe mais tarde. Além disso, percebe que não pode ter muitos filhos, senão não dará conta”, conclui Dalva. “Há uma pressão socioeconômica para que ela se preserve”, resume.

Exatamente o que não ocorre com uma considerável parte das mulheres que residem em regiões mais humildes, principalmente na área Central – onde registram-se as representatividades mais significativas de natalidade entre os nascidos vivos em Santos. Conforme Dalva, nota-se que, para essas pessoas, não há a pressão de se organizar a vida, nem o consequente interesse em se pensar no futuro.

“Como vivemos em uma sociedade da liberdade banalizada e do sexo, e essas moças não planejam filho, não visualizam a compra de uma casa, ou de um carrinho, não há a percepção, e elas saem tendo filho”, afirma. E como supracitado, nos cortiços residem, juntas, muitas famílias juntas, com uma quantidade elevada de filhos, onde, teoricamente, sempre há lugar para mais um.

Consequências
A estudiosa avisa, no entanto, que os números não significam exatamente que houve um aumento na taxa de natalidade dessas regiões, mas uma queda das demais — como a da Zona Leste, que responde, segundo o IBGE, por aproximadamente 70% da população santista, e onde se encontram as mulheres de maior poder aquisitivo — e a manutenção dos índices de nascimentos no Centro e nos morros. “O problema é que você tem aí uma classe média que está reduzindo e uma mais pobre que tende a aumentar”, aponta.

Não se crê que o cenário tenda a, no primeiro momento, trazer alterações à rotina e à qualidade de vida geral. No entanto, a difícil realidade vivida por essa parcela da população pode trazer consequências em um prazo mais longo. “Temos que diferenciar quem o pobre do miserável. O pobre possui uma estrutura familiar definida e, como verificamos, ainda aposta na educação para crescer na vida. O miserável já não tem perspectiva, e é o mais exposto”, explica Dalva, para completar: “O que aponta que essa pessoa, parte dessa população que tende a crescer, fique ainda mais vulnerável, precisando de dinheiro, sem emprego e tendo que conseguir algo para os tantos filhos que tem, e parta para o tráfico e para a violência”, sentencia.

Embora soe clichê, a busca pela regularização passa principalmente pela educação, mas não simplesmente a de ensinar português e matemática. Para a socióloga Edna Gobetti Vieira Coelho, Santos  possui uma excelente qualidade de ensino e baixos índices de analfabetismo, além de não ter classes superlotadas. No entanto, reforça a necessidade de se combater o que caracteriza como analfabetismo político.

“Talvez se devesse aprimorar um trabalho em cima da educação popular, mais voltado a algumas realidades e necessidades do mundo, que sofre mudanças constantes e onde Santos está incluída”, explica. “A Cidade tende ao desenvolvimento, temos um porto forte, e a ligação com o que ocorre fora é cada vez mais importante, e ainda há certa falta de conhecimento socioeconômico do que vivemos”, indica.

Combate
Segundo o médico ginecologista e coordenador de Saúde da Mulher em Santos, Gilberto Moreira Mello, tais circunstâncias fizeram com que, nos últimos anos, investisse-se na ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF) na Cidade, especialmente em regiões como a Central, morros e também na Zona Noroeste. “O programa está hoje em expansão, e intensificamos essas ações nos lugares que localizamos serem as mais necessitadas, onde buscamos tratar, com maior profundidade, a questão da regulação da fecundidade”, explica Mello.

De fato, nos últimos dois anos, por exemplo, foram inauguradas três USF nos morros (José Menino, Santa Maria e Vila Progresso). Ao todo, há outras duas unidades do programa na região dos morros, no Monte Serrat (Caminho Monsenhor Moreira, 3.811), e no Morro da Penha (Rua Três, 150). Já no Centro, a unidade se encontra na Rua João Otávio, 40, no Paquetá. Mas até o final do ano, a expectativa é a de que seja inaugurada uma sede nova, na área do Mercado Municipal.

Na área da educação, dentre as ações que visam combater essa questão está a  Escola Promotora da Saúde, realizada pela SMS em parceria com a Secretaria de Educação (Seduc), com alunos de 14 escolas municipais de Ensino Fundamental, e que se baseia na transmissão de informações sobre, dentre outros ramos da saúde, planejamento familiar e sexualidade.

Há, ainda, reuniões periódicas organizadas pela Coordenadoria de Saúde da Mulher, voltadas principalmente a mulheres e casais. Conforme dados do Sinasc, apesar das constatações acerca da representatividade de nascimentos nas regiões Central e de morros, alguns resultados já são sentidos, como uma redução no número de adolescentes grávidas menores de 20 anos em 2008, 40,23% inferiores a 2000, em Santos.

Serviço
Detalhes sobre o funcionamento de trabalhos como o Escola Promotora da Saúde podem ser obtidos no site http://www.santos.sp.gov.br/comunicacao/escola/escola.html ou pelo telefone 3201-5000. Já para reuniões sobre planejamento familiar, a Coordenadoria de Saúde da Mulher fica na Avenida Conselheiro Nébias, 439, no Estuário. Telefone: 3235-6466.

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