No dia 3 de maio de 1989, a então prefeita Telma de Souza (PT) decretou a intervenção municipal no Hospital Anchieta.
Isso após uma série de denúncias contra a unidade hospitalar, localizada na Vila Belmiro, e que ficou conhecida como a Casa dos Horrores em razão das péssimas condições oferecidas aos seus pacientes.
Violência, más condições de higiene, sucessivas mortes e superlotação eram alguns dos problemas encontrados no local.
Na ocasião, o jovem médico psiquiatra Roberto Tykanori Kinoshita ficou à frente da missão de revolucionar a área de saúde mental no Município.
Assim, as ações mudaram a imagem de Santos na luta antimanicomial, reverberando para todo o País e no exterior.
Portanto, passados quase 34 anos, Tykanori voltou às imediações onde outrora funcionara a Casa dos Horrores.
Só que em um imóvel vizinho, do outro lado da rua, na Rua Monsenhor Paula Rodrigues, na Vila Belmiro.
Onde funcionava a antiga creche dos funcionários do Hospital Beneficência Portuguesa.
Aliás, no mesmo local onde ele deixava a filha pequena, a poucos metros do prédio onde atuava como interventor na Casa de Saúde Anchieta.
Caps AD ZOI
Assim, nas coincidências da vida e às vésperas da data do fim da Casa de Saúde Anchieta, o prefeito Rogério Santos inaugurou o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Zona Orla e Intermediária (Caps AD ZOI) nesta quinta (27).
Trata-se de um novo e mais amplo espaço para discutir e dar melhores condições no atendimento a frequentadores do local, maiores de 18 anos, dependentes de álcool e drogas.
Aliás, a presença de Tykanori não é à toa.
Afinal, ele aguarda questões burocráticas – leciona na Unifesp – Universidade Federal de São Paulo – para ser cedido ao Município e retomar esta luta, agora com aspectos bem distintos em relação àquele momento.
Ou seja, como a invasão das drogas – e surgimento de novas, como o crack – e a explosão das redes sociais, que atingem corações e mentes, especialmente de jovens, problemas inexistentes no final dos anos 80 e início dos anos 90.
Dessa maneira, a nomeação deve ocorrer, no máximo, em duas semanas.
Tão logo ocorra, ele se tornará o coordenador do departamento de Saúde Mental do Município, área a qual o prefeito Rogério Santos já anunciou que será uma das prioridades, especialmente em razão do crescente problema social que ocorre nas cidades brasileiras e do mundo.
Crescimento
Para se ter ideia, os afastamentos em empresas por doenças mentais cresceram 30% entre 2020 e 2022 – período da pandemia.
“É uma prioridade que estamos trabalhando”, salientou, durante a inauguração do espaço, transferido do antigo imóvel na Rua Silva Jardim onde o serviço funcionava.
Além disso, o prefeito assinou decreto criando o Departamento de Saúde Mental nos quadros da Secretaria de Saúde de Santos, sob o comando do médico Adriano Catapreta.
Assim, o novo setor concentrará todos os serviços municipais e unidades relacionadas ao assunto.
Por sua vez, o prefeito planeja que o novo espaço funcione por 24 horas em breve.
Assim, além da unidade na Vila Belmiro, a Zona Noroeste ganhará um serviço semelhante, cujo imóvel já está em escolha e definição.
Caps
Além das unidades específicas para usuários de álcool e drogas, as outras 13 dos Caps – Centro de Atenção Psicossocial voltadas para doenças mentais também passarão por remodelações, inclusive o CAPs infantil.
Quando ocupar o cargo, Tykanori sabe que terá carta branca para fazer as ações necessárias para melhorar o serviço público na área de saúde mental – e atender as novas e crescentes demandas.
“Sabemos do sofrimento destas pessoas e de seus familiares. Muitas vezes, elas são marginalizadas”, enfatizou o prefeito Rogério Santos durante a inauguração.
Recentemente, uma mãe levava sua filha ao Caps e o parou na rua, onde expôs que a moça estava sendo atendida no serviço público, elogiando o trabalho oferecido.
“Isso me mostrou ainda mais que estamos no caminho certo ao investir nesta área, pois esta é uma nova demanda da sociedade moderna”.
Inovar
Dessa forma, Tykanori diz que aceitou o convite, pois reconhece que é preciso inovar.
“Não é voltar para fazer o mesmo”, diz.
Ou seja, há necessidade de mudança de concepções no conceito do atendimento – neste caso – de usuários de drogas e álcool.
Na prática, segundo ele, não dá para colocar em prática ações pensadas no passado para os dias atuais.
“A sociedade mudou, o mundo mudou. Enfim, os problemas mudaram. O desafio é maior, envolvendo questões além da saúde. As percepções sobre os problemas da vida têm gerado sofrimentos para muitos”, salientou.
Atuando há cerca de seis anos com pacientes dependentes de álcool e drogas, o médico reconhece que o foco dos profissionais precisa mudar.
“Percebemos que estamos fazendo errado, entendendo o problema de forma errada”, diz.
Ou seja, ao invés de pensar que em razão de ter problemas pessoais uma pessoa usa substâncias químicas (álcool ou drogas), na prática a situação é oposta.
Ou seja, a pessoa usaria as substâncias por ter problemas e seria uma forma de esquecê-los, entrando em um círculo vicioso. Literalmente.
“Se achar que vai usar para resolvê-los, isso significará que na prática vai gerar mais problemas”, enfatiza.
“Somos seres fisiológicos. E a emoção é fisiológica, mas a razão não é”, enfatiza.
Local
Com área ao ar livre gramada, o novo espaço funcionará à Rua Monsenhor de Paula Rodrigues, 170, na Vila Belmiro.
Pessoas que sofrem por uso abusivo de álcool e drogas podem ir espontaneamente ao local, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, sem necessidade de encaminhamento por um profissional de saúde.
A unidade tem cerca de 1.400 prontuários ativos, ou seja, usuários que utilizam regularmente o serviço.
O novo prédio conta com cinco salas de atendimento, banheiros acessíveis para usuários e servidores, salas de convivência, de enfermagem.
E também leitos para homens e mulheres.
E ainda: salas de medicação, farmácia, sala de grupos e atividades terapêuticas coletivas.
Na área externa, constam ainda setores cobertos e descobertos para atividades, jardim, um palco, além de outros espaços de apoio ao serviço.
A equipe de atendimento conta com psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, técnicos de enfermagem, terapeutas ocupacionais.
E ainda: acompanhantes terapêuticos, assistentes sociais, oficiais de administração e equipe de limpeza.
Estudantes de cursos da Unifesp, como de Psicologia e Terapia Ocupacional, por exemplo, também atuam no local.
O imóvel é locado junto à Sociedade Portuguesa de Beneficência.
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(*) Com informações do Departamento de Comunicação da Prefeitura de Santos