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Sociedade

11 DE JULHO DE 2016

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Mulheres buscam cada vez mais pelo parto natural

Equipes médicas e hospitais estão se adequando, como o caso do São Lucas

Por: Da Redação

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asa A dor do parto normal, para a maioria das mulheres, deve ser – de longe – a pior que sentirá em toda a vida.  Quando o bebê está para nascer, doi tanto que se perde o juízo. São os minutos mais intermináveis, mas que acabam num segundo de intenso prazer. Com o bebê após nascer no colo, sente-se apenas amor. Assim muitas mulheres descrevem o parto e a busca pelo ato de parir naturalmente tem aumentado.

Algo que é possível ver na exposição de quatro fotógrafas Do Ventre a Lente, no Miss, que ilustra esta matéria. As fotos utilizadas são de Larissa Reis, ativista, que foi uma das fundadoras do grupo Partejar, e acredita que o empoderamento das mulheres deve vir também com a qualificação da equipe que a acompanha.

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Trabalho de parto de Lu Pais fotografado por Larissa Reis

Há 10 anos, a fotógrafa optou pelo parto mais humanizado. “Tinha muito medo da epsiotomia. Foi isso que me levou a buscar um parto natural. Não se falava nada e quem falava era dito como doido. Ainda é assim, mas já evoluimos bem”, conta Larissa que após um trabalho de parto longo teve sua filha em casa. Na época procurou um médico em São Paulo para conseguir pelo parto que almejava. Chegou a subir a Serra, mas desceu para esperar entrar em trabalho de parto e acabou tendo em casa. “Eu tinha muitos medos, mas foi incrível, transformador, sou muito grata pela experiência e pelas pessoas que me acompanharam”, conta.

A sociedade, porém, quando se depara com mulheres que fazem a opção do normal ainda tem na ponta da língua uma única pergunta: “Você é capaz de parir?” É como se as mulheres não tivessem mais esta capacidade. Isso acontece pois o parto normal foi deixado de lado. No lugar, praticou-se as cesáreas agendadas. Para a doula e instrutora de yoga da Namaskar, Adriana Vieira, isso aconteceu por diversos fatores.

“É triste. Fisicamente somos aptas a engravidar, a gerar a criança e também a parir. Nada melhor que resgatar esta possibilidade das mulheres em parir. Mas colocamos em dúvida o poder da mulher”, explica. De acordo com Adriana, o francês obstetra Michel Odent fala muito da gente voltar a ver o parto como um evento da mulher. Da década de 90 para cá, este conceito começou a se espalhar novamente. No Brasil, tem 10 anos que isso vem ocorrendo.

Nos anos 70, a cesárea ganhou força e por consequência,  Adriana explica que até a amamentação diminuiu. “Quando você bloqueia a possibilidade de mulher de parir, você também quebra o ciclo da amamentação. Agora estamos vivendo um resgate de mulher como mamífera, mãe. Eu creio que é uma necessidade da mulher. Sabem parir e gerar mas esqueceram. Em Santos, de uns quatro anos para cá, estamos vivenciando este resgate. Elas estão se informando mais e se empoderando para parir”, explica Adriana, que organiza todos os meses rodas de conversas no intuito de promover estas informações.

Algo essencial para combater a violência obstétrica ainda tão comum no País. Fazer episiotemia, gritar, xingar ou deixar sozinha são exemplos do que ainda acontece. Um grande erro, de acordo com Adriana, é fazer do parto um evento de rotina numa sociedade tão imediatista, que quer tudo de maneira rápida.

“Uma mulher que tem informação consegue estar mais amparada.Tenho sensação ruim por todas as que não conseguem se informar ou mesmo esolher pela equipe que a acompanhará. Todo nosso sistema teria que formar bons profissionais. Todos dveriam seguir no mínimo os 10 passos para humanização, que s]ão de 1996. Não é nada novo”, explica Adriana.

O parto adequado, ou humanizado, é algo que deve ocorrer independentemente da escolha da gestante. Normal ou por cesárea, não só é possível como é uma obrigação, por lei, dos profissionais em tornar este ato seguro para mães e bebês, e prazeroso, respeitando as vontades da mulher e seu corpo.

Em 2015, o País lançou inclusive  o Plano de Parto Adequado, com o intuito de intensificar as boas ações e diminuir as cesáreas desnecessárias, impactando no número de bebês prematuros. Na prática, infelizmente, isso não ocorre em todos os hospitais ou mesmo por todas as equipes. O que também é um dos principais motivos do normal se tornar anormal. No final do mês passado, no dia 24, um caso em Praia Grande de violência obstétrica se tornou público, com a coragem da mãe Yanny Furukawa em relatar a sua experiência de parto, que, como ela mesmo descreve, foi traumatizante.

Mas existem relatos de partos em casa, no hospital, normal ou cesárea, que seguem os 10 passos da humanização. A professora Lu Pais, quenara ilustra a capa desta edição do Boqnews, é um exemplo da tentativa de um parto normal mas que precisou ser encaminhado para uma cesárea necessária. Não queria ir para o hospital e mesmo com um bom médico pode sentir um pouco da falta de humanização por parte da equipe do hospital.

Mãe do Theo, hoje com pouco mais de dois anos, Lu após descobrir que estava grávida resolveu buscar informação. “Nesse mesmo tempo, assisti o filme o Renascimento do Parto no cinema… Chorei muito. Mexeu muito comigo e conversei muito com o Beto, pois o que eu temia naturalmente (cirurgia e hospital) eram piores do que eu achava que fossem. Fiquei bem tensa e fui procurar informação”, relembra.

Decidiu então ler bastante. Entrou em grupos nas redes sociais, conversou com amigas. “Até que encontrei uma linda dupla de obstetriz e enfermeira obstétrica. Marquei uma conversa com elas e sai encantada. Era o que eu queria. Um parto em casa. Com respeito e segurança. Difícil foi convencer a família e alguns amigos que nos achavam loucos e alternativos demais”, conta.

Após doze horas precisou ir para o hospital. “Ao chegar no hospital meu médico já estava na porta de avental e de braços abertos. Me abraçou forte e me levou pra sala de cirurgia. Ele foi ótimo. Já a equipe do hospital mais ou menos. Conversavam sobre qualquer coisa enquanto estava prestes a parir. Meu médico pediu pra baixarem a luz da sala, mas o resto da equipe pouco se importava. Vejo desrespeito em todas as áreas… Acho que a violência entre os seres humanos é geral e o pior gerada por nós mesmos. Rezo pra isso melhorar… Tento fazer minha parte e acredito na nova geração para clarear nossa espécie”, declara.

Avanços do São Lucas

Há um ano, a maternidade do Hospital  São Lucas deu um importante passo no processo de adequação para o parto normal. Foi no dia 27 de junho ao nascer a bebê Laura, inaugurando a sala de Parto Adequado. À frente deste processo está a médica Izilda Pupo, que ao longo dos últimos anos tem se destacado na Cidade no grupo das mulheres que incentivam o parto natural. Ela é um dos principais nomes indicados para quem busca pelo parto adequado, como ela mesmo prefere chamar.

“Adequar o parto é saber qual o  melhor para aquela paciente. Vai querer na água? De pé? Abraçada ao marido? Deitada na maneira convencional? Ou vai querer uma cesárea? Ouvindo qual música? Isso é o adequado para ela”, ressalta a médica que acredita que uma mudança nesta mentalidade ainda deve demorar anos, pois é algo cultural. Para ela, hoje – por exemplo – não se pode forçar ninguém a ter parto normal no Brasil, pois o País não está preparado nem por parte das equipes nem das próprias mulheres.

“A performance (no São lucas) já é boa, mas ainda é preciso pegar todo mundo. Fazer com que os médicos tomem gosto pelo parto normal. Que tenham prazer. As mulheres precisam também se informar mais. Quando elas chegam dizendo que querem tentar um parto normal, não dá certo. É preciso querer de verdade e ter a informação certa de que vai doer, por exemplo, e que pode demorar 14 horas”, explica Izilda.

Em razão da demanda, a maternidade do hospital  ganhará mais duas salas para o parto adequado nas próximas semanas. Desde que começou o número de cesáreas diminui drasticamente, aumentando o número de partos normais. A porcentagem pulou de 18%, junho de 2015, para 90% em algums meses deste ano, para o normal. O aumento começou mesmo quando os plantistas do plano de saúde entraram paar o projeto de parto adequado. Quando aconteceu esta mudança o número já tinha mais que duplicado de 18 para 35%.

Leis em Santos

Lei das Doulas

Publicado no Diário Oficial, a Lei 3134, de 5 de maio de 2015, de autoria do vereador Evaldo Stanislau (Rede), assegura a presença das doulas em todas as maternidades.

Humanização

Publicado no Diário Oficial  na última terça (5)a Lei 3.276/2016, do vereador Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB), dispõe sobre obediência às diretrizes e orientações que possibilitem o parto humanizado nas unidades de saúde, com a elaboração, por exemplo, durante o pré-natal, do Plano Individual do Parto.

Amamentação

O projeto de lei do vereador Igor Melo (PSB) obriga que todos os estabelecimentos permitam o aleitamento materno em seu interior. O local que descumprir a lei está sujeito a uma multa de R$ 300, que será aplicada em dobro em caso de reincidência.

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