Uma pesquisa apontou que a baía de Santos sofre com a contaminação de cocaína, o que prejudica não só o meio ambiente, como os animais.
Segundo matéria publicada pela Agência Fapesp, a droga causa graves efeitos toxicológicos em animais como mexilhões-marrons, ostras de mangue e peixes, de acordo com resultados de análises realizadas em laboratório por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Portanto, passou a ser considerada como um contaminante preocupante.
O professor da Unifesp, Camilo Dias Seabra, um dos autores do estudo, aborda que essa droga impacta o sistema reprodutivo deles, podendo passar a se reproduzir menos em função da desregulação de hormônios reprodutivos, um risco ecológico para animais que estão contaminados.
Contudo, ele também relembra que essa contaminação para população ainda não foi avaliada.
O estudo vai passar para esse nível para entender se a cocaína ingerida via mariscos ou outros animais marinhos está com concentração capaz de intoxicar uma pessoa.
“Ainda não há uma resposta para essa pergunta”, explica.
Assim, esse é o próximo passo para o estudo.
Durante um painel de discussão sobre água durante a FAPESP Week Illinois, que ocorreu entre os dias 9 e 10 de abril em Chicago, nos Estados Unidos, o professor afirmou que a cocaína hoje é um contaminante da baía de Santos.
No local, contaminação pela droga espalhada por toda a região.
Questionado sobre o motivo da cocaína ser um contaminante para a região e o que isso impacta para a Baía de Santos, Camilo menciona que a droga é contaminante para região primeiramente pelo uso, mas infelizmente isso é algo comum em regiões metropolitanas, como na Baixada Santista.
Consumo aumentado
“Essas regiões estão vivendo momento de aumento de consumo de crack e de cocaína. Dados de saúde pública mostram isso. A gente até se depara com problema de crack pela rua e o crack é quase 50% formado por cocaína. Então a gente tem o problema do uso da droga, questão do esgoto não tratado, então a Baía de Santos recebe esgoto não tratado de diferentes fontes, por moradias irregulares, porção estuarina, ligações clandestinas nos canais de drenagem, no próprio Emissário Submarino de esgoto no meio da baia de santos também, por isso que essa droga aparece em maiores quantidades”.
De acordo com o professor, por meio de estudos geoquímicos com testemunhos de sedimento estuarino, estima-se que a cocaína passou a se acumular no estuário de Santos por volta da década de 1930, mas as concentrações da droga na região aumentaram nas últimas décadas.
Alguns dos motivos para esse aumento é que a região é uma das principais rotas de tráfico da droga da América do Sul para a Europa.
Além disso, a região, a exemplo de outras no país e no mundo, enfrenta o problema do aumento de usuários de drogas ilícitas, como a própria cocaína e o crack.
Origem
Sobre de onde vem essa cocaína, ele comenta que a origem vem do tráfico de drogas, por conta do consumo na região estar aumentando, principalmente do crack, pode ter também além de saúde pública, uma questão de segurança pública haja visto as operações da Polícia Federal e Polícia Civil e Militar intensificando o combate ao tráfico na região.
Ele ressalta que espera que essas operações deem certo e que a população tenha uma menor entrada e menor passagem dessa droga pela cidade e região.
Conscientização
Atualmente, algumas pessoas possuem a tradição de descartar remédios no vaso sanitário e eles vão para rede de esgoto. O professor recomenda algumas maneiras de conscientizar população para não fazer isso.
“Infelizmente há pessoas que descartam remédios vencidos ou fora de uso no vaso sanitário na pia, eles vão para rede de esgoto e como não há tratamento eles vão direto para o mar. Então é bom que as pessoas aprendam a levar seus remédios vencidos ou fora de uso para farmácias onde costumam comprar”.
“Toda farmácia é ponto de coleta, melhor destino para remédios e é sempre um ponto de venda. A gente precisa intensificar essa campanhas publicitárias para que população tenha ideia de que o mar começa na nossa casa, aquilo que a gente lançar na pia e no vaso sanitário vai chegar na baía de Santos”.
Além disso, Dias reforça que essa água em contato com a pele não pode causar contaminação, pois não há informações na literatura sobre efeitos de contato dérmico.
Pesquisa
A partir de um projeto apoiado pela FAPESP, o pesquisador, em colaboração com colegas da Unifesp e da Universidade Santa Cecília (Unisanta), identificou, em 2017, pela primeira vez, o acúmulo de cocaína e outras substâncias de remédios em água superficial na baía de Santos e efeitos biológicos em concentrações ambientalmente relevantes.
Os pesquisadores identificaram em amostras de água coletadas na região ibuprofeno, paracetamol e diclofenaco, entre outros medicamentos, além de cocaína em concentração equivalente à da cafeína – um indicador tradicional de contaminação, pois além do consumo por meio de bebidas como café, chá e refrigerantes, está presente em vários medicamentos.
Uma das hipóteses que os pesquisadores acreditaram na época para explicar a alta concentração de cocaína nas amostras de água superficial da baía de Santos foi a data em que fizeram o estudo: durante o Carnaval, quando a região recebe um grande número de turistas.
“Pensamos que poderia ser um fenômeno carnavalesco. Mas fizemos um monitoramento sazonal e identificamos que, durante todo o ano, a cocaína e seus metabólitos estavam presentes não só na água, mas em mexilhões, por exemplo”, afirmou Seabra.
Procurada pela Reportagem, a assessoria de imprensa da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) respondeu em nota que “a empresa monitora sistematicamente a qualidade das águas costeiras do Estado, incluindo a área de influência do emissário submarino de Santos, e realiza ensaios ecotoxicológicos com amostras dessa área para avaliar possíveis efeitos da presença de contaminantes na fauna aquática”.
“Os resultados do monitoramento estão nos relatórios na página da Cetesb”.
Futuro
Durante participação do programa Manhã Bandeirantes do último dia 29, o professor abordou se existe alguma previsão que a água dor mar fique em condições impróprias para que um banhista possa consumir.
“Não temos essa previsão, esperamos que as condições de saneamento sejam cada vez melhores e que essas moradias sejam sanadas, que é um problema na região estuarina. Esse pessoal não tem ligação a coleta de esgoto”.
Confira a capa do Boqnews deste final de semana sobre o assunto.
Prefeitura de Santos
Sobre as medidas da Secretaria de Meio Ambiente e Secretaria de Saúde, a Prefeitura de Santos informa que a Secretaria de Meio Ambiente (Semam) tem conhecimento desse e de outros estudos semelhantes.
São trabalhos importantes que demandam ações multidisciplinares, que envolvem várias esferas dos poderes públicos.
No que se refere à Semam, as ações de educação ambiental alertam, entre outras, para questões como o consumo de espécies filtradoras, como mexilhões, pois esses animais se alimentam filtrando a água do mar.
Paralelamente, a Semam atua em conjunto com a Sabesp no sentido de aprimorar os sistemas de tratamento de efluentes.
Já a Secretaria de Saúde oferece tratamento no CAPS AD às pessoas em sofrimento e que fazem uso de drogas, tenham as drogas levado ao sofrimento ou o sofrimento ter levado às drogas.
O acompanhamento consiste no uso das teorias de redução de danos e a teoria da dinâmica dos afetos.
O objetivo não é deixar imediatamente o uso de drogas, mas que seja identificado o motivo do sofrimento da pessoa usar drogas ou desencadeado após o uso abusivo de substâncias psicoativas.
Para cada paciente é desenvolvido um projeto terapêutico singular, com estratégias elaboradas pela equipe interdisciplinar, com o intuito de promover mais qualidade de vida ao usuário, que pode, paulatinamente, reduzir o consumo.
Sabesp
Questionado sobre as medidas que a Sabesp tem para melhorar o tratamento de esgoto visando reduzir a concentração de cocaína nas águas, a empresa informa que segue rigorosamente as exigências previstas por lei para tratamento e disposição de efluentes.
Além disso, também realiza um monitoramento contínuo para garantir que o efluente saia da estação dentro de todos os parâmetros das normas vigentes.
SSP
Em relação ao o que está sendo feito para conter o tráfico de drogas no Porto de Santos e na região da Baixada Santista, visto que as concentrações de droga na região saltaram nas últimas décadas, a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo (SSP) informa que segue empenhada no combate ao tráfico de drogas em todo o território paulista, incluindo a Baixada Santista.
Para isso, tem reforçado o policiamento e intensificado as investigações e operações policiais.
Como resultado desse trabalho, no primeiro trimestre deste ano, mais de 1,9 toneladas de drogas apreendidas na região do Departamento de Polícia do Interior (Deinter) – 6.
Trata-se de alta de 14,36% em comparação ao mesmo período de 2023.
Do total de entorpecentes retirados das ruas, 474,4 quilos eram maconha e 680,9 quilos de cocaína, enquanto o crack somou 41,8 quilos. O restante eram outros tipos de substâncias.
*Com informações da Agência Fapesp e Rádio Bandeirantes
Cocaína é contaminante preocupante na baía de Santos, afirma pesquisador
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